sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A broa dos velhos

Por Alberto Pinto Nogueira

A República vive da mendicidade. É crónico. Alexandre de Gusmão, filósofo,
diplomata e conselheiro de D. João V, acentuava que, depois de D. Manuel, o
país era sustentado por estrangeiros.

Era o Séc. XVIII. A monarquia reinava com sumptuosidades, luxos e luxúrias.

A rondar o Séc. XX, Antero de Quental, poeta e filósofo, acordava em que
Portugal se desmoronava desde o Séc. XVII. Era pedinte do exterior.

A Corte, sempre a sacar os cofres públicos, ia metendo vales para nutrir
nobrezas, caçadas, festanças e por aí fora….

Uma vez mais, entrou em bancarrota. Declarou falência em 1892.

A I República herdou uma terra falida. Incumbiu-se de se autodestruir. Com
lutas fratricidas e partidárias. Em muito poucos anos, desbaratou os grandes
princípios democráticos e republicanos que a inspiraram.

O período posterior, de autoritarismo, traduziu uma razia deletéria sobre a
Nação. Geriu a coisa pública por e a favor de elites com um só pensamento: o
Estado sou eu. Retrocedia-se ao poder absoluto. A pobreza e miséria
dissimulavam-se no Fado, Futebol e Fátima.

As liberdades públicas foram extintas. O Pensamento foi abolido. Triturado.

O Povo sofria a repressão e a guerra. O governo durou 40 anos! Com votos de
vivos e de mortos.

A II República recuperou os princípios fundamentais de 1910, massacrados em
1928.

Superou muitos percalços, abusos e algumas atrocidades.

Acreditou-se em 1974, com o reforço constitucional de 1976, que se faria
Justiça ao Povo.

Ingenuidade, logro e engano.

Os partidos políticos logo capturaram o Estado, as autarquias, as empresas
públicas.

Nada aprenderam com a História. Ignoram-na. Desprezam-na.

Penhoraram a Nação. Com desvarios e desmandos. Obras faraónicas, estádios de
futebol, auto-estradas pleonásticas, institutos públicos sobrepostos e
inúteis, fundações público-privadas para gáudio de senadores, cartões de
crédito de plafond ilimitado, etc. Delírio, esquizofrenia esbanjadora.

O país faliu de novo em 1983. Reincidiu em 2011.

O governo arrasa tudo. Governa para a troika e obscuros mercados. Sustenta
bancos. Outros negócios escuros. São o seu catecismo ideológico e político.

Ao seu Povo reservou a austeridade. Só impostos e rombos nas reformas.

As palavras "Povo” e “Cidadão” foram exterminadas do seu léxico.

Há direitos e contratos com bancos, swaps, parcerias. Sacrossantos.

Outros, (com trabalhadores e velhos) mais que estabelecidos há dezenas de
anos, cobertos pela Constituição e pela Lei, se lhe não servem propósitos, o
governo inconstitucionaliza aquela e ilegaliza esta. Leis vigentes são as
que, a cada momento, acaricia. Hoje umas, amanhã outras sobre a mesma
matéria. Revoga as primeiras, cozinha as segundas a seu agrado e bel-
prazer.

É um fora de lei.

Renegava a Constituição da República que jurou cumprir. Em 2011, encomendou
a um ex-banqueiro a sua revisão. Hoje, absolve-a mas condena os juízes que,
sem senso, a não interpretam a seu jeito!!!

Os empregados da troika mandam serrar as reformas e pensões. O servo cumpre.

Mete a faca na broa dos velhos.

Hoje 10, amanhã 15, depois 20%.

Até à côdea. Velhos são velhos. Desossem-se. Já estão descarnados. Em 2014,
de corte em corte (ou de facada em facada?), organizará e subsidiará, com o
Orçamento do Estado, o seu funeral colectivo.

De que serviu aos velhos o governo? E seu memorando?

Alberto Pinto Nogueira é Procurador-Geral – Adjunto

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