quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A consagração final de Lula será consumada por seus carrascos.


Por Carlos Fernandes

- 15 de dezembro de 2017

O trio do TRF 4

Para que um destino se cumpra, a vida exige seus sacrifícios.

Fato corrente na história da humanidade, os homens e mulheres que mudaram de alguma maneira a forma de se ver o mundo pagaram com a vida sua ousadia.

Talvez a primeira grande vítima de uma justiça parcial e previsível, o grego Sócrates preferiu sucumbir à cicuta a negar seus ensinamentos. Num entardecer, aos pés da Acrópole, um dos pilares da filosofia universal tombava injustiçado pelo medo, pela ignorância e pela cobiça de seus juízes.


Séculos mais tarde, outro revolucionário sentia na carne o gosto amargo dos cravos. Conta as Escrituras que, traído por um dos seus mais próximos discípulos, o homem que não fez outra coisa a não ser pregar a paz, a compreensão e o amor, agonizou até à morte em meio ao júbilo ensandecido de uma multidão.

Por lutar pela independência de seu país, Joana D’Arc, a jovem filha de camponeses, após 20 meses de julgamento, ardeu nas chamas da inquisição acusada de bruxaria.

A lista, como sabem, é interminável.

No Brasil não seria diferente. Zumbi dos Palmares, Tiradentes, Olga Benário, enfim, todos aqueles que lutaram por um país livre, justo e igualitário foram tachados de criminosos por uma sociedade ainda hoje servil e preconceituosa.

Na esteira da história, cobram de Lula – o primeiro operário a chegar à presidência desse país – o seu quinhão de culpa.

Responsável pela mais bem-sucedida política de combate à pobreza e à miséria que se teve notícia em toda a América Latina, o retirante nordestino que escapou da fome e da seca ousou querer para o seu povo um destino que não fosse de servidão e subserviência.

Ao incluir os pobres pela primeira vez nos interesses do Estado, o torneiro mecânico desmantelou uma estrutura secular de dominação e privilégio que remonta ao Brasil escravocrata.

Esse crime capital em particular não poderia ser perdoado.

Lula passou a ser odiado pela elite desse país que apesar de não ter tido um único privilégio subtraído, não suportou a ideia de ter de compartilhar os “seus” espaços com pessoas cuja posição social até então não as autorizava.

Permitir que negros, mulheres, homossexuais, índios e minorias em geral passassem a ocupar um lugar de destaque e decisão seja nos altos escalões do poder, seja na vida cotidiana de cada brasileiro, caracterizou-se como uma afronta pessoal a cada machista, homofóbico, preconceituoso e elitista de nossa peculiar classe média.

Alimentados com o que de pior pôde ser produzido em matéria de jornalismo irresponsável praticado a exaustão pela grande mídia nacional, uma horda de analfabetos políticos, muitos deles diretamente beneficiados pelas políticas inclusivas de Lula, se autoproclamaram guardiões da moral tupiniquim e partiram para a mais insana defesa de um modelo de nação do qual eles próprios são excluídos.

Deposta ilegal e violentamente sua sucessora, a possibilidade real de Lula voltar ao poder fez com que todo e qualquer resquício da mínima aparência de normalidade institucional que tentaram manter fosse dado às favas.

A cada pesquisa divulgada de intenção de voto, mais urgente se mostra a “solução final”. Lula não pode, em hipótese alguma, ser candidato.

Os inquisidores modernos foram acionados. Danem-se as aparências, acelerem os processos, atropelem os ritos normais, forjem atalhos. Lula não pode ser candidato.

A fogueira já tem data para ser acesa. No dia 24 de janeiro de 2018, os torquemadas da era moderna iniciarão o mesmo processo que já foi de Sócrates, de Cristo, de Joana.

Não estarão julgando um crime propriamente dito, estarão julgando um homem. Mais do que isso, estarão julgando uma ideia, uma afronta ao establishment, uma desobediência ao estado “natural” das coisas.

Forjado por uma vida inteira de privações e necessidades, Lula faz exatamente o que se espera de um homem como ele: luta incansavelmente com as forças de um sertanejo que não admite ser injustiçado.

Lula sabe que não precisa mais da presidência da República para sua biografia. Duas vezes eleito e dono da maior aprovação que um presidente já teve em toda a história desse país, ele já entrou para a história. Lula precisa mesmo da presidência da República é para dá-la novamente ao povo brasileiro.

O resultado do seu julgamento já está dado. A justiça não estará presente no momento de seu pronunciamento. Não esteve em nenhum momento do processo. A única possibilidade de reversão seria uma brutal mobilização dos movimentos progressistas nas ruas a partir de já.

À parte tudo isso, a condenação de Lula por um Tribunal de Exceção servirá apenas para consagrar a história de um homem que dedicou a sua vida a uma causa improvável: um Brasil para todos.




OS MEUS AMIGOS

Amigos cento e dez e talvez mais
Eu já contei! Vaidades que eu sentia.
Pensei que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.

Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu, já farto de os ver, me escapulia,
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente,
Ceguei. Dos cento e dez, houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.

Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver…
Que cento e nove impávidos marotos!

Camilo Castelo Branco (1825-1890)

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Após 36 horas de trabalho de parto, mulher dá a luz em banheiro de sua casa "Nunca me senti tão poderosa e realizada em toda minha vida", revela Marissa Heckel em postagem feita nas redes sociais.


O nascimento do bebê é um momento muito esperado e inexplicável para todas as mamães. Há 3 anos, a americana Marissa Heckel sofreu complicações em um parto realizado no hospital. Por isso, ela decidiu que na segunda gestação o parto seria diferente, optando por parir em casa, sem ajuda médica.

Após 36 horas de trabalho de parto, Marissa conseguiu dar à luz a uma bebê super saudável. Para contar um pouco sobre sua experiência, ela compartilhou nas redes sociais uma foto do nascimento e a imagem ganhou rapidamente grande comoção dos internautas.

"Ficar sem assistência foi uma oportunidade pra provar que Deus fez nossos corpos para parir - hospitais nunca foram o normal. Dei à luz meu filho no meu banheiro depois de um trabalho de parto de 36 horas. O tempo exato que levei no nascimento da minha filha", disse.

No relato, a americana contou que durante o parto ela tentou aliviar as dores com banhos, mas não foi o suficiente. "Escolhi encarar a dor em pé, encostada na parede. Apenas dizia a mim mesma: 'a dor é apenas temporária'".

Além disso, ela disse que a bolsa estourou e o líquido amniótico jorrou, em 5 momentos diferentes, por toda sua cama. No entanto, no período expulsivo do parto, Marissa sentiu que ficar sobre a cama não parecia o melhor a fazer, portanto com a ajuda do marido ela se dirigiu até o banheiro quando sentiu vontade de fazer força.

Para ajudar no processo do nascimento, Marissa sentou no banheiro com o objetivo de fazer mais força. Quando o marido conseguiu ver a cabeça do bebê, incentivou Marissa a continuar fazendo força. "Ele me encorajou a seguir", afirma.

Então, ela se levantou para prosseguir no parto. "Segurei no porta-toalhas e deixei meu corpo dar o último empurrão e ele (bebê) estava finalmente fora. Meu marido ficou parado, em estado de choque, tirando as fotos. Nunca me senti tão poderosa e realizada em toda minha vida. Nossos corpos são realmente incríveis", relembra.

De acordo com Marissa, o processo não teria sido tão fácil sem o apoio que teve do marido: "Quando as contrações e a pressão começaram meu marido estava ao lado da cama, segurando minha mão. Na verdade, foi romântico, embora nesse ponto eu praticamente já estivesse rugindo".

Em entrevista ao site PopSugar, Marissa revelou um pouco sobre como foi o nascimento do seu primeiro filho e como esse momento acabou traumatizando ela. "Fui intimidada por não querer uma epidural e fui assediada durante todo meu trabalho para receber uma. Também fui forçada a deitar nas costas durante o parto e foi-me dito para "empurrar" contra o meu corpo. Meu marido e eu decidimos que um nascimento não assistido em nossa casa seria muito mais. Nunca tive medo durante todo o processo", comenta

A postagem feita por Marissa teve como intuito incentivar outras mães a optarem pelo parto natural. "Se você está com medo ou achando que não consegue fazer isso, (saiba que) você consegue! Não tenha medo, nossos corpos são feitos para isso".

domingo, 17 de dezembro de 2017

EU SEI QUE VOU TE AMAR.- Vinicius de Moraes y Maria Creuza (Letra y subt...



EU SEI QUE VOU TE AMAR
POR TODA A MINHA VIDA EU VOU TE AMAR
EM CADA DESPEDIDA EU VOU TE AMAR
DESESPERADAMENTE EU SEI QUE VOU TE AMAR

EM CADA VERSO MEU SERÁ
PRÁ TE DIZER
QUE EU SEI QUE VOU TE AMAR
POR TODA A MINHA VIDA

EU SEI QUE VOU CHORAR
A CADA AUSÊNCIA TUA EU VOU CHORAR
MAS CADA VOLTA TUA HÁ DE APLACAR
QUE ESSA AUSÊNCA TUA ME CAUSOU

EU SEI QUE VOU SOFRER
A ETERNA DESVENTURA DE VIVER
A ESPERA DE VIVER AO LADO TEU
POR TODA A MINHA VIDA

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O cativeiro psicológico e o medo de ir mais longe





Recentemente chegaram à minha casa dois gatos que passaram por uma situação peculiar. Após 4 anos vivendo em uma casa com total acesso a todos os espaços e convivendo ativamente com as pessoas com quem moravam foram, por motivos que não vêm ao caso aqui, confinados a um espaço único da casa, no caso, o quintal. O espaço era limitado e infinitamente menor do que o que eles estavam vivendo até então. O contato com as pessoas da casa passou a ser quase que somente nos momentos de troca de água, ração e limpeza da areia higiênica.

O que chamou minha atenção foi o seguinte: esses dois gatos estavam muito assustados e com muito medo justamente do que? Do excesso de espaço. O quintal aqui é bem amplo e eles simplesmente, ao chegarem, não tinham coragem de avançar no espaço inteiro. Limitavam-se a um pequeno espaço, que consideravam seguro, e agiam como se tivesse um campo de força invisível que os impedisse de avançar mais. Quando arriscavam-se, voltavam correndo para aquele espacinho que delimitaram como seguro.

Isso me fez refletir muito sobre isso: se gatos que viveram mais tempo com uma maior liberdade, tendo acesso a um mundo bem maior (antes, o mundo para eles era a casa inteira), ao serem confinados durante meses, acostumam-se com esse espaço menor e limitado, passando, então, a desconfiar de tudo que está fora desse espaço delimitado – ainda que esse espaço seja ruim e não apropriado para eles -, imagine só gatos que nascem e são criados já em um pequeno cativeiro?

Ora, isso se parece muito com a zona de conforto – ou de desconforto – em que nos instalamos tantas e tantas vezes e da qual temos tanto receio de sair. Muitas vezes, agimos como gatos assustados que, mesmo tendo um mundo muito mais amplo e interessante à sua disposição, não têm coragem de sair daquele pequeno espaço delimitado que os deixa seguros, mesmo que esse seja muitas vezes ruim e insuficiente.

Isso me lembrou o texto de Étienne de La Boétie, chamado Discurso da Servidão Voluntária. Esse texto, publicado por volta de 1570 e escrito quando ele tinha apenas 18 anos de idade, discute justamente essa questão: por que as pessoas obedecem determinadas regras se não tem, muitas vezes, nada nem ninguém que as faça obedecer de forma forçosa? Ele diz que mais do que tentar entender o que um tirano precisa ter e fazer para poder exercer poder sobre as massas, vale tentar entender por que as massas obedecem sem resistir.

É como se, inicialmente, fosse necessário fechar a porta impedindo a entrada dos gatos na casa, mas, depois de um tempo, não precisasse mais da barreira física. Cria-se um cativeiro psicológico, de forma que os gatos não saem mais de seu espaço mesmo que nada os impeça de fato. Eles se acostumam com os impedimentos e barreiras e passam a temer deixar aquela situação.

Tenho a impressão de que o mesmo acontece conosco. Parte desse processo já começa na educação: desde muito pequenos já somos colocados em salas de aula, somos obrigados a ficar sentados e a seguir diversas regras que, com o passar do tempo, interiorizamos como verdades inabaláveis. E quando enxergamos possibilidades de novos e infinitos mundos que poderíamos explorar, nós simplesmente paralisamos, como se houvesse o tal campo de força invisível. Não damos um passo a mais, mesmo que não haja nada nem ninguém nos impedindo.

“A liberdade é a única coisa que os homens não desejam; e isso por nenhuma outra razão (julgo eu) senão a de que lhes basta desejá- la para a possuírem; como se recusassem conquistá-la por ela ser tão simples de obter” (Étienne de La Boétie).

Criamos um roteiro de vida a ser seguido, criamos conceitos sobre nós mesmos, criamos crenças e pré-conceitos, criamos até mundos paralelos e virtuais, como o Facebook, por exemplo, onde não precisamos nem mais sair do lugar. O cativeiro está mais do que perfeito, porque não há ninguém obrigando ninguém a ficar com a cara grudada na tela do celular tendo o mundo inteiro ao seu redor, mas ficamos! E, incrivelmente, acreditamos que esse é o mundo.

Há um tempo, reduzi drasticamente meu uso do Facebook, passando a usar apenas profissionalmente e entrando muito esporadicamente com o intuito de “interagir” com os amigos. E é impressionante a quantidade de tempo que sobra no dia, tempo em que você levanta a cabeça do seu cativeiro psicológico e descobre que existe um quintal enorme à sua frente, esperando para ser explorado. E esse quintal pode ser seu quintal mesmo, literalmente, mas pode ser um livro, pessoas de carne e osso, pode ser uma música que você escuta prestando atenção, um hobby, um cachorro alegre na sua frente. E você sai desse espacinho e começa a explorar o quintal e descobre que não assusta tanto, mais. E você não quer mais voltar para aquele espaço limitado. Você volta a se acostumar com o mundo amplo à sua volta.

O mesmo ocorre quando você descobre que, apesar de ter se formado em uma faculdade, existe um mundo inteiro de outras coisas legais para aprender, estudar. Que o diploma de médica veterinária não me impede de estudar filosofia. Que o casamento às vezes não é vitalício e que a solteirice também não é. Que existem infinitos roteiros de vida que podem lhe satisfazer, assim como roteiros de viagens.

“Assim é: os homens nascem sob o jugo, são criados na servidão, sem olharem para lá dela, limitam-se a viver tal como nasceram, nunca pensam ter outro direito nem outro bem senão o que encontraram ao nascer, aceitam como natural o estado que acharam à nascença. Mas o costume, que sobre nós exerce um poder considerável, tem uma grande força de nos ensinar a servir e (tal como de Mitrídates se diz que aos poucos foi se habituando a beber veneno) a engolir tudo até que deixamos de sentir o amargor do veneno da servidão” (Étienne de La Boétie).

Então, você descobre, inclusive, que pode, se desejar, voltar para seu espacinho anterior quando quiser, passar um tempo lá, usar seu Facebook de vez em quando, mas já não teme mais afastar-se e explorar novos mundos. Vai ficando mais corajoso, vai gostando desse mundo que se abre e ficando cada vez mais resistente ao cabresto psicológico. Vai voltando a ser aquele gato explorador, livre, que às vezes se assusta, às vezes faz umas traquinagens, às vezes não gosta do que encontra em suas explorações, mas que não se deixa limitar mais.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O LOUCO - Khalil Gibran



NO JARDIM dum manicómio
encontrei um rapaz
de rosto pálido e belo ,
cheio de espanto .

Sentei-me a seu lado
no banco , e perguntei-lhe :
- Porque estás aqui ?

Olhou-me assombrado ,
e disse :
- É uma pergunta indiscreta ,
mas vou responder .

Meu pai queria executar em mim
uma reprodução de si próprio ,
e o mesmo quis fazer meu tio .

Minha mãe queria converter-me
na imagem de seu ilustre pai .

Minha irmã fazia
do navegador seu esposo
o exemplo perfeito
que eu devia seguir .

Meu irmão pensava
que eu devia ser como ele ,
um excelente atleta .

Por sua vez os meus professores ,
o doutor em Filosofia ,
o mestre da Música ,
o de Lógica ,
estavam resolvidos ,
cada um deles ,
a que eu fosse apenas
o reflexo do seu rosto no espelho .

Foi assim que vim parar a este lugar .

Acho-o aliás mais cordato .

Pelo menos , aqui
posso ser eu próprio .

Depois , subitamente ,
voltou-se para mim e perguntou :
- Mas diz-me lá ,
também te trouxeram a este lugar
a educação e o bom conselho ?

- Não , respondi .
Eu sou um visitante .

Então ele disse-me :
- Ah ! Tu és um daqueles
que vivem no manicómio ,
do outro lado do muro .

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Sonhos de Abóbora


Ingredientes

– 1 Kg de abóbora, em cru
– 250 gr de Farinha de trigo com fermento
– 1 Colher de café de fermento

– 1 ou 2 Colheres de sopa de açúcar (facultativo)
– 2 Ovos
– Casca de laranja, e raspa de laranja
– Pau de canela

– Água q.b. e uma pitada de sal
– 1 Colher de sopa de aguardente (não usei)
– Óleo para fritar
– Açúcar e canela q.b. para polvilhar

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Sei-te



Sei-te no cheiro que o vento espalha
e se me entranha nos poros.
Seja no aroma suave de uma flor
ou numa explosão dos sentidos,
o vento sempre apura
as partículas do teu odor.


E nos gemidos que o vento solta
soa o gosto de cada carícia tua.
Sabes-me...!

E imploro ao vento que retorne
a ti
e tatue na tua pele
todo o sabor que és em mim.

Rosa Santos