NO JARDIM dum manicómio
encontrei um rapaz
de rosto pálido e belo ,
cheio de espanto .
Sentei-me a seu lado
no banco e perguntei-lhe :
— Porque estás aqui ?
Olhou-me assombrado
e disse :
— É uma pergunta indiscreta ,
mas vou responder .
Meu pai queria executar em mim
uma reprodução de si próprio
e o mesmo quis fazer o meu tio .
Minha mãe queria converter-me
na imagem de seu ilustre pai .
Minha irmã fazia
do navegador seu esposo
o exemplo perfeito
que eu devia seguir .
Meu irmão pensava
que eu devia ser como ele ,
um excelente atleta .
Por sua vez os meus professores ,
o doutor em Filosofia ,
o mestre de Música ,
o de Lógica ,
estavam resolvidos ,
cada um deles ,
a que eu fosse apenas
o reflexo do seu rosto no espelho .
Foi assim que vim parar a este lugar .
Acho-o , aliás , mais cordato .
Pelo menos , aqui ,
posso ser eu próprio .
Depois , subitamente ,
voltou-se para mim e perguntou :
— Mas diz-me lá ,
também te trouxeram a este lugar
a educação e o bom conselho ?
— Não , respondi .
Eu sou um visitante .
Então ele disse-me :
— Ah ! Tu és um daqueles
que vivem no manicómio ,
do outro lado do muro .
— Khalil Gibran —
Sem comentários:
Enviar um comentário