domingo, 26 de junho de 2016

A PILITA ALENTEJANA



Rija, enquanto durou. 
Agora q'amolengou 
e antes q'a morda a cobra,
Vou atá-la c'uma corda 
Pra ela nã me fugiri.
Preciso da sacudiri,
Leva tempo pá'cordari 
Já nem se sabe esticari.
Más lenta q'um caracoli, 
Enrola-se-me no lençoli.
Ninguém a tira dali, 
Já só dá em preguiçari. 
Nada a faz alevantari 
E já nã dá com o monti, 
Nem água bebe na fonti
Que bich'é que lhe mordeu?
Parece defunta, morreu. 
Deu-lhe p'ra enjoari,
Nem lh'apetece cheirari.
Jovem, metia inveja.  
Com  más gás q'uma cerveja, 
Sempre pronta p'ra brincari.
Cu diga a minha Maria, 
Era de nôte e de dia.
Até as mulheres da vila, 
Marcavam lugar na fila, 
P'ra eu lha poder mostrari ! 
Uma moura a trabalhari,
Motivo do mê orgulho.
Fazia cá um barulho ! 
Entrava pelos quintais, 
Inté espantava os animais.
Eram duas, três e quatro, 
Da cozinha até ao quarto 
E até debaixo da cama. 
Esta bicha tinha fama.
Punha tudo em alvoroço, 
Desde o mê tempo de moço. 
A idade nã perdoa, 
Acabô-se a vida boa !
Depois de tanto caçari, 
Já merece descansari. 
Contava já mê avô: 
"Niuma rata lhe escapou !"
É o sangui das gerações.
Mas nada de confusões,

Pois esta estória aqui escrita, 
É da minha gata, a Pilita !


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