segunda-feira, 30 de julho de 2018


Adivinho(te)

Adivinho-te no silêncio
Bebo as gotas de amor
Que salpicam teus dias
Catalogados de irreais
Impossíveis qual iguais
Que nos alimentam a pele
Seca de beijos desejados
E de olhares nus filtrados
Adivinho-te no silêncio
Nos gestos do Outono frio
Nas ondas do mar revoltas
Nas palavras ditas no vazio
Nas noites de ternura soltas.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

A vida


Avança e recua
Espera.
Salta para a rua
Desespera
A vida
Anda depressa
Lentamente
Faz promessa
Carente
A vida
Despeja emoções
Entorna sensações

AC............... Alice Coelho
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quarta-feira, 25 de julho de 2018



BOTEI VOCÊ NA MOLDURA
Ricardo Kelmer, 2004
.

Botei você na moldura da recordação
Pra lembrar das paisagens da paixão

Nosso amor foi um sol de verão
No meio dos dias frios
Espantando os calafrios
Me enchendo de calor
O que era cinza se coloriu de toda cor
E o tempo parou pra ver
A vida pintando o nosso amor

Mas nessa vida são tantas estações
E o verão apaixonado se foi
Levando as paisagens bonitas
Com que ele me aqueceu
Por que fingir que não aconteceu?
Vou guardar com carinho a pintura
Do amor que a gente viveu

Lila Shakti - Alma Una (rituais do sagrado feminino)



Celebrar o milagre de ser
O assombro de viver
Na doce magia da noite
Minha alma é noiva desse ritual

O fogo me aquece num abraço amigo
As fagulhas são reflexos do infinito
Eu danço o mistério da Lua
Linda, nua e natural

Eu faço amor com a Terra
Sou a amante eterna
Do fogo, da água e do ar

Sou irmã de tudo que vive
Ninfa que brinca com a vida
Alma una com tudo que há

Salamandras brincam na fogueira…
Guerreiras aladas trazem oferendas…
Se aproximam os animais de poder…
Planta-mestra, eu quero aprender…
Guardiães, abençoem meu caminho…
Tambores do xamã, toquem pra mim…
Grande Mãe, estou aqui

segunda-feira, 23 de julho de 2018


O que não digo...

Quando ensaboo o abraço
E o beijo se faz prolongar
Quando o eco é o espaço
E o olhar pára para pensar
Quando a lua é um feitiço
E o sol espreita a festejar
O corpo entra em rebuliço
E o sonho no mar a flutuar
Quando a mente te apalpa
E a língua viscosa atordoa
Cada pé em terra se calca
Cada gesto em ti se afeiçoa
O que eu não te digo é louco
E o que te digo é tão pouco.


AC............... Alice Coelho
© All Rights Reserved


Dou-te um Poema



Dou-te o meu poema
De inquieta incerteza
Com rima ou sem ela
A espreitar pela janela
Dou-te o meu poema
A água doce e salgada
Preso por uma algema
Em noite surda e suada
Dou-te a minha poesia
A boca de areia quente
Suave gosto a maresia
Um olhar doce suplente
Dou-te um poema
E o pôr do sol ensaiado
No meu corpo espraiado


AC............... Alice Coelho
© All Rights Reserved


sábado, 21 de julho de 2018

Foi


Foi a noite mais bela
De tantas as noites
Em que me apetecias
E pelo escuro sorrias
Foi aquela noite tardia
Com palavras moucas
O tempo me acontecia
E as mãos eram loucas
Foi uma noite iluminada
Ou apenas uma miragem
Que nos trilhou a estrada
Que te retocou a imagem
Foi o sonho enlouquecido
Tão atrevido e destemido

AC............... Alice Coelho
© All Rights Reserved


sexta-feira, 20 de julho de 2018



Sede

Tenho sede
A garganta seca
Lábios ressequidos
Calor desesperado
Gritos suados
Entre seios perdidos
Em mãos encontrados
Mata-me a sede
Em fonte cristalina
Encostada à parede
Canção de menina
Tenho sede
Dum poema que segrede


AC............... Alice Coelho
© All Rights Reserved



Poema aos Homens Constipados

Publicado em Dezembro 14, 2015 por Maria do Céu Brojo


Fine Invisible Man – Jim Warren

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.

Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças

Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.

Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

António Lobo Antunes


Num "se"

Se num sonho me engasgas
Com o sabor dos momentos
Com as palavras me entregas
Todos os teus pensamentos
E pelo sonho ao céu subimos
Pelo mar nós vamos entrando
Num mundo que descobrimos
Tão diferente quanto estranho
Não desperdices teus poemas
Sentada no parapeito da janela
Ao decorar todos os teoremas
Ao escrever à luz de uma vela
Se num sonho me engasgas


AC............... Alice Coelho
© All Rights Reserved


quinta-feira, 19 de julho de 2018


AVESSO DO DIA

Acordar e sentir
os teus lábios pousados
nos meus

Esvair-se a névoa
em figuras de estilo
sensuais e delineadas

Sentir no céu da boca
o saibo do cio
dos beijos molhados

A noite cair
a lua girar nos rodados
de um sonho acordado

É virar o avesso do dia
e deixar que renasça
o amor
ainda mais louco
intenso
e retesado.

nataliadinis
Direitos reservados de autor
Photo by, Maria Diniz
18/Julho /2018

Nicolás Maduro: AL deberá luchar contra el imperialismo de EE.UU.

terça-feira, 17 de julho de 2018



O Dicionário de Oxford elegeu o verbete “pós-verdade” como a palavra do ano. Segundo os autores, pós-verdade seria a circunstância em que fatos objetivos possuem menos importância que as crenças individuais. Num mundo dividido em bolhas virtuais, cada pessoa montaria sua realidade de acordo com as suas crenças e não como o resultado do confronto entre as ideias e a experiência sensível.

Penso que, pior que os boatos, que as mentiras, são as verdades selecionadas. É possível mentir dizendo apenas a verdades. Tal método não é novo, mas continua sendo um dos mais eficazes. Como no exemplo abaixo.

O site Spotinik é muito eficiente em fazer esse tipo de manipulação. A missão desse blog é bem simples: provar a qualquer custo que o liberalismo radical é a única forma aceitável de pensar a política. Mas e se a realidade mostrar algo diferente? Problema dela. Eles a adaptam a imagem e semelhança da teoria.

Poucos conferem os números apresentados, caso sejam do agrado do leitor, os dados são aceitos e ajudam a reforçar o universo ideológico que aprisiona e impede o pensamento crítico.

O texto abaixo é um belo exemplo desse método de manipulação. Nele, não há nenhuma referência bibliográfica. Apenas indicadores que contam com a fé do leitor. Como nunca fui muito afeito à religião, resolvi conferi-los.

Por sorte, descobri a fonte na qual os autores do blog se basearam. Trata-se da coleção História da América Latina da Universidade de Cambridge (Volume IX) Essa coleção é monumental (só o volume nove tem 1110 páginas). É o melhor estudo geral sobre a história da America Latina. Eles teriam dados suficientes para escrever um ótimo texto. Mas não era esse o objetivo. Na verdade, a intenção é defender o liberalismo a qualquer custo e não analisar a história da forma séria.

Vamos lá: na página 201 o manual diz que Cuba tinha uma das maiores rendas da América Latina (374 dólares). Diz tbm que somente México e Brasil superavam Cuba em número de rádios. A ilha tbm era a primeira do continente em quantidade de jornais, telefones e veículos a motor. Por fim, o livro diz, nesse mesma página, que o analfabetismo era de 20% (o Spotinik inverteu, não pega bem falar em analfabetismo, então eles colocaram 80% de letrados, não é mentira, mas o efeito é mais positivo. Tbm esqueceram de dizer que esse número é referente à capital Havana.).

Até aí tudo certo. O problema é que eles pinçaram esses números. Procuraram dados positivos no meio de uma série de outros negativos. O que é mais importante, número de rádios ou água corrente? Apenas 15% da população tinha água encanada. De fato, havia muitos rádios, mas só 9% dos lares do campo possuíam eletricidade. O analfabetismo no interior chegava a 50%. Em 1957 17% da população ativa estava desempregada e o subemprego chegava a 13%. Os que restavam empregados, em sua maioria, cortavam de cana. A profissão de boia fria, como nós brasileiros conhecemos bem, está longe de ser a mais desejada pelos jovens. Sem falar que o corte de cana é sazonal e apenas 30% dos trabalhadores conseguiam emprego o ano inteiro. Dois terços da renda de Cuba vinha das exportações para os EUA. O capital americano controlava 90% da telefonia (por isso o número alto de aparelhos telefônicos). A economia aberta fez de Cuba um país sem indústria. Caso um trabalhador pobre quisesse fugir da miséria, teria que trabalhar com o turismo. O problema é que essa atividade só existia em pouquíssimos lugares e era muito concentrada em Havana.

Enfim, há mais números, mas eu acho melhor parar aqui. A minha pergunta é: pq os dados negativos foram ignorados pelo autor do texto? Essa coleção de Cambridge é umas das fontes mais confiáveis e certamente o Spotinik se baseou nela. Mas eles escolheram a dedo o que iria ser mostrado. Afinal, é preciso que as informações passem pelo filtro ideológico do blog antes de chegar ao rebanho. Não queriam informar, mas manipular. Reforçar verdades pré-fabricadas.

No dia 04 de dezembro de 2016, data do enterro do Fidel, dois milhões de pessoas foram às ruas se despedir do presidente. Fulgencio Batista morreu em 1973, exilado na Espanha. Nesse caso, não houve choro, vela e nem fita amarela. O reconhecimento também é um fato social importante e, muitas vezes, diz mais sobre um povo que os números frios.

Eduardo Migowski


domingo, 15 de julho de 2018



Quando

É tempo que despenteia
Vento que amacia a pele
É silêncio que desnorteia
Distância que nos repele
Quando
É poema que nos arranha
Rima que de desconcerta
É luxúria que nos assanha
Sinfonia que se desaperta
Quando
A vida tem sono de criança
Sonho acorda a esperança.


AC............... Alice Coelho
© All Rights Reserved





. . . amo essa mulher . . . será que posso ?!

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Eugénio de Andrade

"Manoela D´ávila tem uma coisa perturbadora para uma candidata à presidente da República. Não é só o fato dela ser mulher, jovem, e ainda bonita, que impede corações e mentes deste Brasil violentamente varonil de ouvir a inteligência clara da candidata. É que ela é espontânea. E isso é insuportável. Tem que ser calado. Pouquíssimos políticos são autênticos, e Lula, o maior de todos, paga o preço desta autenticidade, no seu caso, multiplicado pela origem pobre. Há um ódio surdo, como aquelas notas graves quase inaudíveis de filmes de terror, que NÃO ACEITA que quem é oprimido seja autêntico. Não pode! O oprimido tem que se submeter ao olhar do opressor. Tem que se ater ao seu personagem. Em Os fuzis, o clássico imortal de Ruy Guerra, tem um momento no qual Gaúcho, o soldado desertor, está provocando os seus ex-colegas, no bar. Eles o mandam calar a boca. Ele cala, e ri para seus agora inimigos. Eles o mandam parar de rir. Ele responde, ainda sorrindo: "não vou rir, não vou falar...só vou beber". Poucos minutos depois, ele explode em rebelião, e é morto a tiros. Porque é inaceitável. É um ódio informulado, fundo, visceral, espesso. Por isso não a deixaram falar, no Roda Viva. Manuela é a face luminosa do que podemos ser. O reverso radical da cultura do estupro. Uma mulher que pode o que quiser, que é o que é, com brilho e desenvoltura, fora do quadro e dos esquadros deste mundo escroto, nojento, purulento como as tripas dos mortos-vivos que tomaram o país. Sobre as cabeças destes walking dead, Manuela dança. Temo por ela."

publicação de Leandro Saraiva.
15 de Julho de 2018 12:47




terça-feira, 10 de julho de 2018


O AMOR QUE SINTO

O amor que sinto
é um labirinto.

Nele me perdi
com o coração
cheio de ter fome
do mundo e de ti
(sabes o teu nome),
sombra necessária
de um Sol que não vejo,
onde cabe o pária,
a Revolução
e a Reforma Agrária
sonho do Alentejo.
Só assim me pinto
neste Amor que sinto.

Amor que me fere,
chame-se mulher,
onda de veludo,
pátria mal-amada,
chame-se "amar nada"
chame-se "amar tudo".

E porque não minto
sou um labirinto.

José Gomes Ferreira
(9 Jul,1900 - 8 Fev,1935)

Lino Réquio

terça-feira, 3 de julho de 2018

RAY CHARLES - I JUST CAN´T STOP LOVING YOU (LEGENDADO PT-BR)



NÃO É POR ACASO
Não é por acaso / Que existe um espaço / Entre dois braços / Lugar onde se semeiam / Germinam e crescem / Os abraços. ....

Alice Queirós / Jardim de Afectos


Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen

ESTA GENTE

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN