segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019
Dois! Eu e Tu, num ser indispensável! Como
Brasa e carvão, centelha e lume, oceano e areia,
Aspiram a formar um todo,--em cada assomo
A nossa aspiração mais violenta se ateia...
Como a onda e o vento, a lua e a noute, o orvalho e a selva
--O vento erguendo a vaga, o luar doirando a noute,
Ou o orvalho inundando as verduras da relva--
Cheio de ti, meu ser de eflúvios impregnou-te!
Como o lilás e a terra onde nasce e floresce,
O bosque e o vendaval desgrenhando o arvoredo,
O vinho e a sede, o vinho onde tudo se esquece,
--Nós dois, de amor enchendo a noute do degredo,
Como partes de um todo, em amplexos supremos
Fundindo os corações no ardor que nos inflama,
Para sempre um ao outro, Eu e Tu, pertencemos,
Como se eu fosse o lume e tu fosses a chama...
*
António Feijó
Portugal, Ponte de Lima 1859 – Suécia, Estocolmo 1917
in “ Sol de Inverno “ seguido de vinte poesias inéditas
Introd. Álvaro Manuel Machado
Editor: Imprensa Nacional-Casa da Moeda
*
Arte: Richard Macneil..
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