Hugo Dionisio
Alguma coisa está em mudança no monte Olimpo e está a deixar em retalhos a união de tendências ligadas à falcoaria estado-unidense. Perceber e prever as acções da elite política que comanda, através dos seus mandatários transnacionais, os nossos destinos, implica conhecer o que reflecte e publica o mais importante think thank de defesa dos EUA. Esta pesquisa leva-nos a uma entidade que muito raramente surge nos momentos “informativos” da imprensa do atlântico norte: trata-se da RAND Corporation.
O momento mais conhecido da RAND, no que respeita ao conflito no leste europeu, é sinalizado pela publicação do relatório “Extending Russia - Competing from Advantageous Ground” (estender a Rússia – competir por uma posição vantajosa no terreno”. Este relatório contém todo o cardápio de malfeitorias que, nas pretensões tornadas públicas, publicadas e assaz repetidas pela cúpula do poder dos EUA, levariam a um fulminante derrota do poder político, económico e militar da Federação Russa.
A análise manifestada publicamente, pelos diversos intervenientes políticos, dizia que a Federação Russa não passava de “uma bomba de gasolina com armas nucleares”, um “tigre de papel” com um PIB equiparado ao da Holanda e um povo amordaçado por um “ditador louco” que apenas pelo “autoritarismo” e “repressão” se mantinha no poder.
Partindo de uma análise cuja informação parecia consubstanciar tais posicionamentos políticos, o relatório da RAND preconizava um tipo de intervenções, algumas das quais bem reportadas – outras nem por isso – na imprensa oficial. Foi o caso da tentativa de revoluções “coloridas” made in CIA na Bielorrússia, no Cazaquistão e nos países da ásia central, os quais, em conjunto com a Geórgia e a Moldávia, seriam provavelmente “promovidos” e “apoiados” à condição de uma Ucrânia actual. A Federação Russa, tendo de acorrer a todos os fogos, uns porque se transformavam em exércitos por procuração (como a Ucrânia), outros em bases de operações desestabilização interna lançadas pela CIA, acabariam por se “estender” até se partir em bocados e colapsar, colocando um fim à ameaça atual. Mesmo sem esta partição, sempre se poderia chegar a um ponto em que, após a destruição do poder político vigente, seria instalaria um “regime” mais dócil, apontando a uma “posição mais vantajosa no terreno”.
Dado a conhecer apenas em 2019, somos forçados a constatar que esta estratégia já estava em preparação há muito, principalmente a partir do momento em que o presidente russo perdeu a esperança de poder contar com uma “parceria” ocidental e anunciar o fim do mundo unipolar. Facto é que, o relatório tem uma ligação lógica com a National Defense Strategy de 2018 (estratégia nacional de defesa dos EUA).
Fosse quando fosse, esta estratégia entronca na estratégia de “jugoslavização” da Federação Russa. A verdade é que o itinerário constante desse trabalho foi cumprido quase escrupulosamente pela cúpula da segurança e defesa dos EUA: revoluções “coloridas”; estados transformados em exércitos por procuração; campanha de comunicação e desinformação; operações de desestabilização e sabotagem; sanções e embargos económicos. Um cardápio de fulminantes actividades “democráticas” em crescendo!
E porque é que é importante falar disto hoje? É importante porque nos últimos dias foi publicado um novo documento da RAND corporation, mas desta feita em sentido inverso, um estudo intitulado “Avoiding a Long War U.S. Policy and the Trajectory of the Russia-Ukraine Conflict” (evitar um conflito de longa duração – a política dos EUA e a trajectória do conflito russo-ucraniano).
Se os trabalhos anteriores apontavam para os objectivos que tão propalados foram por Anthony Blinken, Biden, Nuland ou Kirby, e que passavam por um conflito duradouro que esgotasse as energias russas, de forma a permitir a remoção do obstáculo, pela força, se necessário fosse, o estudo publicado, desta feita, aponta para a realização de uma relação de custo benefício entre os custos e riscos resultantes de uma guerra longa com Moscovo e os benefícios que os EUA podem retirar de uma trajectória que se prevê de escalada e poder resultar numa confrontação directa.
Algo mudou e de que maneira. Primeira era o triunfalismo e a destruição da ameaça, agora, um conflito longo traz riscos e custos que impedem os EUA de se focarem em prioridades mais prementes. Como ficamos? No início pretendia-se, precisamente, um conflito duradouro… Agora, não apenas comporta custos e riscos, como parece ser a própria Rússia que está mais confortável com a previsível extensão do conflito no tempo, ao ponto de designar Gerasimov como comandante chefe das forças armadas, prevendo mais do que um teatro de operações em simultâneo (a RAND apontava para a possibilidade bilateral Polaca).
Segundo o site www.moonofalabama.org
, uma das melhores fontes sobre politica externa dos EUA, a publicação deste estudo não surge por acaso, surgindo, antes, após uma tentativa por parte do chefe de gabinete dos EUA, Mark Milley, em promover um debate interno sobre possíveis negociações de paz com. Perdida a batalha na casa branca, não conseguindo demover Biden, pois este só ouve Nuland, Blinken e Sulivan (falcões de serviço), optou pela exposição publica da sua pretensão, vindo apelar ao início das negociações primeiro e, talvez, suscitar a publicação deste estudo, depois.
O problema é, como escreve Tyler Durden, num dos melhores sites de opinião da actualidade que é o www.zerohedge.com
, no seu artigo “The most Egregious Mistake” (o erro mais egrégio), recuar e inverter a direcção da política dos EUA, nesta matéria, não é, simplesmente, uma opção. A Casa Branca levou todo o ocidente numa direcção e velocidade tal, em matéria de triunfalismo, arrogância e “egrégia” imbecilidade, que não existe retorno ou inversão possíveis, sem uma total derrota da narrativa oficial e a consequente vergonha eterna. Daí que estes esforços de Mark Miller, devam de resultar em muito pouco, a não ser no aprofundamento das fracturas internas, o que pode ser positivo. O facto é que, já existe gente a pretender destoar deste caminho para o abismo.
Agora, ao contrário dos diversos escritos sobre a matéria, os quais tendem a explicar a impossibilidade de inversão na direcção, da estratégia suicida actual, com o sectarismo da narrativa oficial, que só oferece certezas e resultados inequívocos, em que, segundo os quais, inicialmente, esta estratégia não resultava propriamente de uma necessidade mas de uma escolha, traduzida no tal “erro egrégio”, eu, pessoalmente, tendo a considerar que não se tratou de um “erro”, nem tão pouco de uma escolha, mas sim, de um acto de desespero.
Diz a narrativa – americana - alternativa à corrente oficial, que a estratégia delineada representava uma ameaça existencial para a Rússia, mas não para os EUA. Para os EUA seria possível enveredar por outros caminhos que não os da criação deste conflito.
A meu ver, esta é uma posição condescendente e que desvaloriza os sentimentos de urgência que resultaram da análise catastrófica (nunca tornada pública) que, provavelmente, muitos terão feito quanto à situação da hegemonia estado-unidense. O facto é que, enquanto os EUA gastaram 8 triliões de dólares na guerra ao terror, canalizando para aí todos os seus esforços diplomáticos, económicos e militares… O que fizeram Rússia e China?
Enquanto os EUA usavam o pretexto do terrorismo (que eles próprios tantas vezes fomentaram e instrumentalizaram como arma de arremesso contra adversários políticos – Síria, por exemplo) para dominarem as maiores reservas mundiais de petróleo (no médio oriente), secundarizando outros recursos naturais, hoje com importância (como o lítio, por exemplo), a China desenvolveu as suas infra-estruturas, industria, exercito e, sobretudo, a sua plataforma internacional de trocas comerciais, hoje conhecida como Belt and Road Initiative (Novas Rotas da Seda). Neste período, o sul global pôde experimentar uma nova forma de “soft power”, que em vez de exigir privatizações, dolarização da economia e reformulação do sistema político à moda do que dava mais jeito, de que FMI e Banco Mundial eram os procuradores de serviço, a integração na BRI apenas exige que os projectos facilitem as trocas entre os países (daí as infra-estruturas). Em troca de recursos naturais, estes países – ao invés de corporações ocidentais e “investimento” traduzido na compra das empresas publicas -, recebem escolas, hospitais, redes 4G e 5G, portos, aeroportos, pontes, e quanto maiores e mais desafiantes melhor.
Nem a propaganda da “armadilha da dívida”, bem conhecida do FMI e dos tratados de associação com os EUA, impediu mais de 120 países de aderirem a esta rede. Entretanto e no mesmo período de tempo, a Rússia pôde reerguer-se do pesadelo neoliberal dos anos 90, recuperando a sua indústria e, acima de tudo, a sua auto-estima e orgulho nacional. Um pecado mortal aos olhos da casa branca. Foram feitos projectos de integração euroasiática (EUEA), de cooperação internacional (BRICS) e de infra-estruturas (INSTC) que contornam a influência dos EUA através dos mares, o que ajuda a blindar a economia dos países envolvidos.
Enquanto este mundo multipolar nascia nas barbas dos falcões mais arrogantes e sectários, o complexo militar industrial centrava as suas atenções na guerra ao terror. Os nossos noticiários, à data, em vez de Ucrânia, começavam e fechavam com atentados suicidas e bombas relógio. Até que…
Quando começaram a surgir as informações sobre este mundo, sob a forma de dados concretos, o pânico começou a instalar-se. Foi por alturas de 2017/18. É claro que, na minha perspectiva, este pânico não pode confessar-se. A sua exteriorização começou a surgir através do Euromaidan, da pressão e desestabilização sobre nações da américa latina menos alinhadas, com a prisão de Lula da Silva e de outros líderes nacionais, com cujas políticas a casa branca não estava confortável. Aos poucos fomos vendo a política externa dos EUA dirigir-se novamente para o domínio dos recursos naturais e dos mercados e menos para o terrorismo. Chegaram mesmo a “abandonar” o médio oriente, deixando aí apenas os cães de guarda Sionista e Curdo. Era o tempo dos noticiários que abriam e fechavam com a Venezuela.
Contudo, esta inversão de rumo já denunciava, a meu ver, uma espécie de corrida contra o tempo. Tempo que tinha que ser ganho.
Perante a contínua perda de terreno, lá chegámos ao tempo do Covid (que segundo muitos é “cartada” da casa branca, provocada ou oportunista, logo veremos, a seu tempo) e à construção de uma estratégia militar que terá sido eleita como, o último dos meios – longe de ser remoto –, para “conter” a China, recém classificada como “ameaça existencial”. O confronto no pacífico passaria pela criação de uma NATO oriental, baptizada de AUKUS. Nesta estratégia havia que remover os obstáculos que poderiam fazer pender a balança para o lado do inimigo. Esse obstáculo é a Federação Russa. A celebração de uma verdadeira aliança estratégica entre a Federação Russa e a China demonstra que as lideranças destes dois países deixaram de ter qualquer ilusão sore as reais intenções dos EUA. Quanto mais juntos estiverem, maior a sua protecção e maior a ameaça para os EUA.
É aqui que surge a opção “Ucraniana”! A estratégia de estender a Rússia até que partisse não foi uma opção. Foi uma acção desesperada. Absolutamente! E porquê?
Não o digo apenas por causa do que antes referi e da urgência que os dirigentes da elite das Corporações Transnacionais (a espinha dorsal do Império estado-unidense) deverão ter sentido perante a informação que lhes foi chegando. Nesta fase, convém dizer que o “falhanço” da estratégia Chinesa teve a sua importância nesse desespero. Para a elite corporativa que controla o poder político dos EUA, a “abertura” económica da China levaria de certeza (não sei em que ciência se basearam) à destruição do poder do Partido Comunista e à instalação de um governo de tipo neoliberal. Hong-Kong já terá sido uma etapa forçada, pois esta gente acreditava que o processo seria mais ou menos “natural”, resultando num colapso de tipo “URSS”, desta feita, na China. Mas não… Em 2015 já se dizia na casa branca que teriam de aprender a viver com a China como ela era. Não haveria um novo “Tiananmen” à vista.
Para a elite corporativa transnacional não existe cooperação. Existe domínio. Afinal é esse o combustível e a adrenalina do império. De qualquer um. Mas, voltando ao leste europeu, porque digo que a opção Ucraniana foi desesperada?
Primeiro foi forçada. E foi forçada porque resultou do fracasso de gente como Navalny e outros fantoches neoliberais, que deveriam ter conseguido produzir um desgaste do poder do Rússia Unida. A opção preferencial é sempre a que passa pela desconstrução e submissão interna do adversário. Não o conseguindo, sobrou apenas a militar. A militar é a componente em que os EUA ainda se consideram superiores.
O relatório da RAND apontava para um conjunto de “tarefas” que deveriam ser cumpridas para atingir-se o objectivo de “estender a Rússia” e assim conseguir uma “posição mais vantajosa no terreno”. Foi atingido esse desiderato? Não, nem por sombras.
Primeiro, falharam as revoluções “coloridas” na Bielorússia e Cazaquistão. Não apenas não removeram os respectivos governantes como pioraram a sua situação no terreno, reforçando o poder da Rússia sobre esses países (os respectivos governos por por si “salvos”). Segundo, falharam as sanções de 2014 em diante, ao não destruírem a economia russa. Pior, deram ao país uma capacidade de viver com as sanções do ocidente. As sanções foram “a” oportunidade de desenvolvimento, o pretexto que faltava para passar de uma economia apenas baseada na extracção de recursos, para uma economia industrial, em alguns casos de ponta e de ciclo completo, ou seja, com sectores chave soberanos e blindados contra manobras de sabotagem, a partir do exterior. Terceiro, a Geórgia não mordeu o isco e não se armou em exército por procuração, falhando o plano de criação de várias frentes de batalha. De tudo isto a Federação Russa saiu mais forte.
Enquanto o discurso para fora, por motivos ideológicos e estratégicos, continuava a ser o da “bomba de gasolina”, as acções denunciavam apenas desespero. A própria instrumentalização dos acordos de Minsk, acordos sancionados pela ONU, como forma de ganhar tempo para armar a Ucrânia, descredibilizou totalmente o ocidente aos olhos do sul global. Quem engana assim, um país como a Rússia, apoiando-se num processo como o de Minsk, é capaz de tudo.
O facto de conseguirem “convencer” um país ao sacrifício por causa do poder de outro, fazendo assentar esse “convencimento” na instauração de uma doutrina neonazi, que recupera Bandera (responsável directo pela morte de milhões de polacos, ucranianos e judeus), assente na xenofobia, no ódio racial e cultural, conduzindo esse país a um golpe de estado perpetrado por forças comparáveis às SS, e fazerem esta gente toda passar por mártires e heróis, chegado mesmo a retirar o batalhão Azov da lista de organizações extremistas… Tratou-se de outra facada na confiança, por parte de um mundo composto por nações a quem ainda não foi apagada a memória e conhecem o que de mal o fascismo e o nazismo lhes trouxe. Esse mesmo mundo também sabe a contribuição decisiva que a URSS – e a Rússia, por maioria de razão – deram, no século XX, para a derrota do colonialismo e para a libertação nacional da maioria da humanidade.
Tratou-se, também, da libertação das garras do imperialismo e colonialismo ocidentais. Do mesmo ocidente que usou a pilhagem como momento de apropriação primitiva de riqueza, que lhe permitiu chegar primeiro ao desenvolvimento e que depois o usou para submeter, ainda mais, os pilhados. Não, este mundo já não confia no ocidente. Este mundo não é o mesmo mundo que a média corporativa diz estar com Zelinsky.
O discurso oficial negou toda esta realidade e vendeu uma “banha da cobra”, segundo a qual, a Ucrânia, com a ajuda da poderosa NATO, venceria, sem apelo nem agravo, uma guerra de atrito contra a Rússia. Claro, a vitória seria tão retumbante que o atrito nem se iniciaria, pois, às primeiras sanções, o poder cairia na rua. Nem os milhares de agentes russos que a CIA tem no seu bolso foram capazes de o conseguir. O poder não só caiu como se reforçou, demonstrando que ainda está por nascer a nação orgulhosa que, sendo acossada a partir de fora, se volta contra si própria. Os pressupostos da RAND continuavam a estar cada vez mais longe de se verificarem.
Segundo a imbecilidade resultante do complexo de superioridade das elites ocidentais, um país com 3% do PIB global não teria hipótese contra o poderoso G7/NATO/EU. O que diz muito do método PIB enquanto forma de caracterização de uma economia. Como explicou o “velhinho” Marx, só o trabalho produz riqueza e só a transformação da matéria em algo com valor de uso traduz essa riqueza. É isso a “economia real” de que tanto fala Martyanov. Ao contrário da economia especulativa e ultra-financeirizada do ocidente, a Rússia tem uma economia real, que produz coisas com valor de uso. Com valor “real” de uso, sem as quais não vivemos, ao contrário de um Iphone ou de um perfume Chanel. Aliás, o sul global tem vindo, paulatinamente, a descobrir que tem os recursos, a tecnologia e a riqueza para possuir uma economia real. E não precisa do ocidente para isso. É o ocidente que não vive sem o sul global e não o contrário. O sul global já o percebeu, e os EUA também.
Ao constatá-lo, e ao assistir ao espectáculo deplorável que é o constante confisco de quantias soberanas depositadas em dólar ou euro, que o ocidente, a mando dos EUA, tanto rouba, hoje assistimos a um movimento de fuga do dólar…
Também nisto temos muito desespero, como o processo que levou à “instauração” de um Guaido na Venezuela ou as sucessivas tentativas de revolução “colorida” no Irão. Em ambos os casos, os dois países viram “congelados” as suas reservas no espaço G7/NATO/EU. Se este movimento, por si, já tinha colocado em sobreaviso muitos países, pois já não eram apenas os “comunistas” Cuba e República Popular da Coreia, desta feita, o congelamento e intenção de confisco das reservas russas fez, claramente, apertar o botão de pânico. Qualquer país, independente da dimensão, se não aceitar a submissão, é alvo de confisco de tudo o que tenha em moedas do ocidente colectivo.
O resultado? O resultado é BRICS+ e a cesta de moedas, é a proposta de moeda latino-americana entre Brasil e Argentina, é o retorno ao ouro, o criptoyuan e a multiplicação das trocas em moedas nacionais, como já sucede entre países euroasiáticos, Irão, China, India, Turquia e Rússia, a que muito recentemente se juntou o Paquistão, ou o caso da Arábia Saudita e China. O desafio parece ser simples: fugir às moedas “malditas”, mas sem parecer que se está a fazê-lo com urgência, não vá tudo cair aos trambolhões.
Este resultado era óbvio e foi tantas vezes previsto ao longo da última década. Inclusive em canais insuspeitos do ponto de vista da ideologia neoliberal como o Bloomberg ou Politico. Mas nem esses avisos demoveram a suicida arrogância e prepotência que resulta de 500 anos de supremacia racial ocidental.
Hoje, depois de Annalena Berbock nos confirmar que fomos arrastados para uma guerra, sem qualquer discussão democrática de fundo e reflexão pública, a não ser as infindáveis horas de propaganda “slava Ukraini” na média corporativa; tal guerra parte, também ela, de uma subavaliação das capacidades militares e industriais da própria federação russa. Lêssemos o relatório feito pelo congresso há uns dois anos sobre as capacidades militares da Federação Russa e veríamos que a conclusão geral era qualquer coisa como: muito armamento, mas pouco sofisticado, com problemas de precisão e ultrapassado em relação ao dos EUA. Ora, não é essa a história que contam os mais de 7500 tanques abatidos, os mais de 300 aviões, mais de 200 helicópteros e, mais importante que tudo, as centenas de milhares de vidas perdidas, principalmente de soldados (Zaluzhny terá dito ao Pentágono que seriam 232.000, fontes da CIA falam em 305.000 e a inteligência Chinesa já fala de 500.000 a 680.000). Seja o menor ou o mais pequeno, especialmente quando comparado com as perdas russas, dá-nos uma ideia catastrófica da desproporção de forças. Assistimos, de facto, a um processo de desmilitarização e desnazificação.
Com este pano de fundo, discutiu-se o envio de tanques, em mais um episódio de “armas maravilha”. Mas, desta feita, e depois de as outras não terem surtido o efeito desejado, os EUA já não querem atirar para a fogueira mais negócios de venda de armamento, como aconteceu com os “maravilhosos” HIMAR ou M777. Enviassem para lá os seus tanques Abrahms e logo cairia o número de vendas. Assim, os alemães que mandem para lá os seus Panzer-Gepard. Sholz não queria? Quando o ouvi dizer que só os enviaria se… Logo pensei: “ainda não recebeu o pedido não recusável de Biden e companhia”. Não demorou um dia a aparecerem imagens dos tanques caminho da Polónia, ainda antes do anúncio público. É assim a Alemanha dos nossos dias: um aglomerado de cavaleiros teutónicos identitários montados em unicórnios, com armaduras rosa e com girassóis não mão, em vez de espadas. Uma tristeza!
Seja como for, lá se vai preparando uma campanha de primavera em que, para defender os EUA, mais 100.000 militares ucranianos, recrutados à força, serão sacrificados em nome de Bandera (multiplicam-se a velocidade alucinante os vídeos de gente a ser apanhada nas ruas, nos centros comerciais, a esconder-se da polícia…)!
Podendo já garantir-se a derrota da ofensiva (vá lá… um país como a FR prefere sacrificar milhões dos seus melhores filhos a submeter-se a um qualquer império ocidental), os EUA preparam-se já para a próxima manobra desesperada. A jogar em Taiwan, Japão e Coreia do Sul. Entretanto seguem-se as tentativas de revolução “colorida”, até agora frustradas (os outros estão a aprender a desarmar o exército de ONG’s da CIA), para arranjar mais candidatos a “ucrânias” no pacífico.
O estudo da RAND aponta precisamente para essa “prioridade”. Mais uma que levará a acções cujos requisitos prévios não se verificam e, por isso mesmo, condenadas ao fracasso. Mas como alguém, dos EUA, disse há algum tempo: “já não existem opções boas”. Só as desesperadas. Faz lembrar os últimos tempos do Reich com a sua procura pelas “armas maravilha”.
Mas se o resto do mundo já viu as cenas dos próximos capítulos, aqui no território da NATO, a média corporativa ainda anda em modo ilusório, segundo o qual, o mundo é um quintal dos EUA e o ocidente colectivo é a referência civilizacional… É como o chavão “a Ucrânia está a ganhar a guerra”.
Será com prazer que assistirei a toda a uma multidão de jornaleiros, analistas, politólogos e outros charlatães a fazer o pino… e a dizer “ninguém previa isto”!
Não é o que fazem sempre? Em sinal de desespero?
E ainda há quem acredite neles!
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