O impacto que os sistemas de produção alimentar têm no ambiente está a colocar a humanidade perante uma emergência mundial, com efeitos na natureza e na nossa saúde. Dados do World Wide Fund for Nature (WWF) revelam que as formas de produção convencionais provocam alterações do uso do solo e perda de habitats naturais, ameaçando a biodiversidade, promovem a desertificação das terras e contribuem para as alterações climáticas e para a degradação ambiental. De acordo com esta ONG, os sistemas alimentares:
👉 São responsáveis por cerca de 1/4 de todas as emissões de gases de efeito de estufa;
👉 Contribuem para que 50% das terras agrícolas estejam afetadas pela desertificação e degradação ambiental;
👉 Ocupam 40% da superfície terrestre habitável;
👉 Representam 70% do consumo de água doce;
👉 Contribuem para 70% da perda de biodiversidade terrestre.
E ainda:
👉 A agricultura é responsável por 80% da desflorestação;
👉 35% das populações piscícolas são alvo de sobrepesca a um nível insustentável.
É, por isso, urgente uma transição global para dietas mais sustentáveis, que passam, sobretudo, pela redução do consumo de carne, cujos modos de produção são geralmente nocivos para o meio ambiente.
Bom para o planeta e bom para as pessoas
A dieta convencional portuguesa não segue as recomendações da roda dos alimentos: se por um lado ingerimos carne e laticínios em excesso, por outro, quase metade da população não come fruta, vegetais e cereais nas quantidades recomendadas.
Em Portugal, a carne ainda é a principal fonte de proteína. O consumo anual de carne por pessoa tem vindo a aumentar nos últimos 40 anos e, ao contrário do que seria de esperar, não há sinais de inversão de tendência. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2023 cada português consumiu, em média, 119,6 kg de carnes e miudezas. A quantidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), recorde-se, é de 115,6 kg por ano, ou 300 g por semana.
O consumo de carne em excesso leva a sistemas de produção intensivos, que procuram maximizar o rendimento, sem atender a questões ambientais e de saúde. Assim, uma transição para dietas mais responsáveis e sustentáveis é fundamental para o cumprimento das metas climáticas e de biodiversidade, mas também para a saúde humana.
É importante reduzir o consumo excessivo de carne e laticínios, procurando adotar uma dieta mais variada, alternando entre diferentes tipos de proteína, optando por legumes e frutas que respeitem as sazonalidades, e preferindo sempre os produtos frescos, nomeadamente aqueles provenientes de agriculturas biológicas.
Nos sistemas de cultura biológicos, as práticas agrícolas são mais amigas do ambiente do que nos sistemas convencionais. Promove-se o respeito pela biodiversidade, faz-se uma gestão sustentável dos recursos naturais existentes, e a utilização de pesticidas é bastante limitada, assim como o uso de aditivos e fertilizantes de origens não naturais.
Preferir uma dieta mais respeitadora do equilíbrio do planeta melhoraria drasticamente a saúde das pessoas a um nível global, reduzindo até 30% a mortalidade prematura, segundo os dados do WWF.
Está nas nossas mãos
A primeira fase da transição para uma alimentação mais sustentável passa pela informação.
É fundamental a tomada de consciência dos nossos impactos alimentares, e procurar informação fidedigna é o primeiro passo para a mudança. Por exemplo, sabia que para produzir 1 kg de carne de bovino são necessários 15.000 litros de água? É o triplo do que é necessário para produzir a mesma quantidade de lentilhas, leguminosas altamente ricas em proteína.
Escolher fontes de proteína vegetais não é tão difícil como parece, e há inúmeras opções que permitem fazer uma dieta variada e saborosa. A Associação Natureza Portugal e o WWF (ANP|WWF), elaboraram o Guia de Consumo de Proteína em Portugal, que estuda e avalia o desempenho ambiental dos modos de produção de diferentes fontes de proteína, e que pode ser uma ótima ajuda para nos orientar nas nossas escolhas.
Neste Guia são avaliados vários alimentos proteicos produzidos em Portugal, segundo três critérios: pegada climática, uso de pesticidas e impacto na biodiversidade. Diz-nos como reduzir o consumo de carne, como conhecer a origem dos produtos e como diversificar o nosso consumo, dando preferência às fontes de proteína vegetal.
Se tem curiosidade em saber se os seus hábitos alimentares são sustentáveis, encontra no site da ANP|WWF um “quiz” que lhe permite, de forma lúdica, responder a isso mesmo, medindo a pegada ambiental da sua alimentação.
Afinal, talvez não seja assim tão difícil ajudar a mudar o mundo, um prato de cada vez. Basta procurar saber mais sobre a origem e o impacto dos alimentos e fazer escolhas mais conscientes quando fazemos as compras da semana. Um dia por semana sem carne pode ser uma boa maneira de se lançar à mudança. Se pensarmos bem em tudo o que está em risco, é uma decisão fácil.
Sem comentários:
Enviar um comentário