Por Carlos Braga
Após oito anos de investigação à compra dos submarinos, a montanha da Justiça pariu um rato. Dito de forma mais prosaica, arquivou o processo.
Isto, depois de sabermos que houve gente condenada na Alemanha. Corruptores, tanto quanto se sabe. Ora havendo corruptores por lá, forçoso é concluir - se a lógica não é uma batata - que há corrompidos por cá. Se há, esfumaram-se como o vento. Tiveram artes de escapar à Justiça, como areia fina por entre os dedos.
Isto, apesar do Ministério Público dizer, às escâncaras, que Paulo Portas "excedeu mandato" em negócio "opaco" dos submarinos. Pois: a opacidade da transparência, assim como quem suspeita - mas se fica por aí - de tudo aquilo que não está imediatamente à vista.
Fazendo jus ao provérbio chinês segundo o qual "quando a árvore cai espalham-se os macacos", ficámos a saber, pela boca de Ricardo Salgado, como foi feita a generosa distribuição dos milhões com que a intermediação da Escom premiou os Espírito Santo: um módico milhão para cada clã da família, 16 milhões para três administradores e 6 milhões para uma personagem de mistério, já que o ministério (público) não foi capaz de descobrir o embuçado. Ora bolas!
Transparente foi João Semedo, em entrevista ao Expresso. Sobre a comissão parlamentar de inquérito, desferiu estas setas certeiras: "há comissões de inquérito que têm conclusões pré-determinadas, como foi o caso dos submarinos (...). Houve uma maioria claramente liderada pelo CDS que tratou de proteger a actuação de Paulo Portas. Só mesmo em Portugal é possível que um destacadíssimo dirigente do CDS presida à comissão cujo objecto é o de analisar factos que potencialmente implicavam o líder! Só em Portugal isto não é uma incompatibilidade substantiva e formal!"
Afinal, parece querer dizer o Ministério Público, para quê tanta freima para encontrar provas de crimes se estes, a existirem, já estavam prescritos? Haja bom senso, deixem funcionar a Justiça, mesmo que com derrotas vergonhosas. De derrota em derrota até à vitória final. Já faltou mais...
E pronto. Paulo Portas respira de alívio. É, agora, um Sísifo (ou um Django?) libertado. Livrou-se desta. Só falta mesmo saber se conseguiu livrar-se da sombra negra da dúvida, e de algumas aves canoras de piar agoirento que tanto o apoquentaram ao longo dos anos.
É certo e sabido que o vamos ter cá pela Bairrada. Talvez em Setembro, ou Outubro de 2015, com o inseparável panamá a proteger-lhe a cabeça. Nas feiras da região, há-de renovar juras de amor à agricultura, essa nobre e humilde arte de empobrecer alegremente. E não vai deixar de dar uma mãozinha nas vindimas, para que os tonéis bairradinos fiquem ainda mais grávidos de mosto. In vino veritas.
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