sábado, 28 de dezembro de 2019

Semear favas e ervilhas

A vegetação já se vestiu com as cores do Outono...o Inverno aproxima-se...a terra saciada pela abundancia das chuvas, convida às primeiras sementeiras...favas...ervilhas...ao plantar das couves...brócolos...cebolas..

As favas são um alimento muito saudável e completo, extremamente energético, fonte de próteinas vegetais.
Por esse facto, também utilizadas como complemento na alimentação animal, mulas , burros...cavalos. Ao final de cada dia de trabalho, recebiam uma porção de favas, a chamada "ração de cavalo"

A sua composição nutricional, rica em Molibdénio, Folatos, Potássio,Triptofanos,Manganésio,Magnésio, Ferro,Cobre,Fosforo, vitamina B1e Fibras, atribui a este alimento um papel importante na recuperação de estados físicos de debilitados... convalescencia de doenças infecciosas...situações de anemia e estados de gravidez.

Em secas, eram com frequencia transformadas em farinha.
Colocada num tabuleiro, com canela e acucar amarelo (de cana), consumida depois em papas, adquirindo a forma de um alimento energético muito revigorante.

A sementeira, feita nos meados de Outubro, princípios de Novembro, não requer muitos mimos.
Devido às suas carateristicas rùsticas, produzem e sobrevivem em solos pobres, bastando basicamente, deita-las à terra, adicionando-lhe um pouco de adubo e aguardar que as mesmas se desenvolvam.


O adubo, pode ser o que estiver à mão, um pouco de Amónio, cinza...Foscamónio, tudo misturado, no entanto, a quantidade de Amónio em relação a outros componentes deve ser reduzida, por exemplo, uma parte, para oito de cinza, por ser muito agressivo quando em contacto directo, correndo o risco de queimar.


O terreno a cultivar, apresentando grande abundância de erva, antes de se preparar a terra, manualmente ou com auxilio de pequena máquina agrícola, com fresa, deve-se eliminar esse excesso, caso contrário vai dificultar o trabalho, enrolando-se na alfaia.



Com a ajuda indespensavel do "velho motocultivador" , a sementeira, fi-la em regos, distanciados cerca de 40 centímetros, podendo tambem ser feita em pequenas covas...mas como já referi, podem apenas espalhar-se por cima da terra, enterrando-as um pouco, cobrindo-as apenas.

No entanto optei por semeá-las com algum critério , dispondo-as de modo a que depois, se necessário, seja mais fácil a sacha...dar-lhe alguma atenção. Prefiro semear menos e dar-lhe algum cuidado, de modo a obter uma boa produção.


Maio será o mês da colheita.
Lá diz o povo "Maio as dá, Maio as leva", mesmo é dizer que este é o periodo em que se encontram nas condições ideais para serem colhidas, consumidas em verde. Depois disso , começam a ficar rijas, no entanto, durante mais algum tempo, se lhe retirar-mos a pele , ainda é possivel confeciona-las.

Uma vez por semana, procuro as que já se encontram com a vagem cheia, colho-as, descasco-as, dou-lhe um escaldão, cerca de quatro minutos, emersas em água a ferver, posteriormente arrefeço-as em água fria, embalando-as em pequenos sacos de plástico, procedendo á sua congelação.
Conservam-se o ano inteiro.

Se pretender-mos guardá-las para semear no ano seguinte, ou para fazer farinha, temos de as deixar concluir o precesso de maturação, colhendo-as só no Verão, quando já se encontram bem secas.

Aconselho a fazê-lo, pois um quilo de favas secas, oxcila entre três a cinco euros.


ERVILHAS...

As ervilhas pertencem tambem à familia das leguminosas, são ricas em vitamina A, C e do complexo B, assim como Ferro,Calcio, Enxofre e Potássio.
O seu cultivo remota á milhares de anos, com origem na Asia Central e na Europa, possuindo dezenas de variedades.

Cultivam-se basicamente da mesma forma que as favas, embora um pouco mais tarde...finais de Novembro, principios de Dezembro.

Embora resistentes a baixas temperaturas, são mais frageis, sensíveis, carecem de maior atenção.

Começando pela sementeira, o desejável será utilizar uma base de fertelizante organico, estrume e cinza, com a adição de pequena percentagem de adubo quimico de prefundidade existindo tambem o cuidado de não as deixar demasiado enterradas, basta cobri-las.






A escolha de um terreno, "leve" com boa drenagem e exposição solar, é importante. A existencia de uma ou outra árvore, tambem se mostra benéfica, devido à protecção que oferecem, em caso de eventual queda de geadas.




Consumidas em verde, assim que as vagens se encontrem cheias, podem ser colhidas. Congeladas, podem guardar-se vários meses.
Ou se colocam diretamente no congelador, como costumo fazer, ou escaldadas primeiro, neste caso, cerca de 2 minutos e depois arrefecidas em água fria.

CULTIVO DO TREMOÇO - Novembro / Dezembro - Quarto Crescente


Diz o meu pai “…se levarmos tremoços no bolso e os deixarmos cair, eles nascem…” É devido a este ímpeto reprodutivo, que o seu cultivo se mostra facilitado.
No final do Outono, durante o mês de Novembro, Dezembro, depois da queda das primeiras chuvas, com os solos já húmidos, basta espalhar a semente pela terra, 25 a 30 sementes por metro quadrado, sem qualquer fertilizante ou lavoura.
Se o cultivo for para fins de fertilização do terreno, podemos espalhar a semente de forma mais concentrada.

Ao germinarem, voltam-se para o solo e enraízam.



No entanto, a verdade de outrora com as alterações climatéricas, em que se verifica um aumento da temperatura, do tempo seco, talvez necessite de algum ajustamento, para quem tem um trator, depois de espalhar a semente, passar com a frese ao de leve, remexendo a terra á superfície, de modo a que fiquem ligeiramente enterrados, para que possam usufruir de uma maior quantidade de humidade parece-me benéfico.
Ou então, com um gadanho, uma enxada, pica-se um pouco a terra, não devendo ficar enterradas mais que 2 a 3 cm.
Todavia, se pretendermos uma produção abundante, devemos disponibilizar-lhe os mesmos cuidados que temos para com outras culturas, preparação da terra, um pouco de fertilizante...como as favas, podendo ser semeados do mesmo modo, aos regos ou às covas. Quando assim for, os regos devem ser espaçados cerca de 30 cm, e em cada metro linear, colocamos 10 a 15 sementes.


COLHEITA
- Julho / Agosto -


O tremoceiro vai-se desenvolver ultrapassando um metro de altura.
No final da maturação, aos 130…140 dias, as vagens pontiagudas, tem estrutura dura, sendo necessário algum cuidado no manuseamento.
A colheita é feita nos finais de Julho…Agosto.
Por esta altura, as plantas terminaram o ciclo de vida, já se encontram secas, assim como os tremoços que se encontram no interior das vagens.
A apanha, é mais facilitada usando umas luvas, e sendo feita pela manhã cedo, aproveitando alguma humidade, antes do sol começar aquecer, depois ficam ásperas, desagradáveis de manusear devido aos bicos aguçados.
Uma a uma, pegam-se as plantas pelo pé, quebrando-as, reunindo-as em pequenos molhos que facilitarão o transporte, ou colhem-se apenas as vagens.
Na eira, se necessário espalham-se dois ou três dias ao sol, e em final de tarde, quando se encontram bastante estaladiças, debulham-se, pisando-as com os pés, com o rodado do trator ou batendo com um malho. Depois é separar os tremoços da palha, podendo-se utilizar uma pá, aproveitando alguma aragem, enchendo-a e com os braços ao alto, elevando-a, deixando-os cair lentamente para que o vento vá limpando desses resíduos, ou pode-se também mandar ao ar, contra o vento.
Ter uma máquina de limpar cereais, azeitona, facilita muito este processo, sendo um bom investimento, custando cerca de 300€, pode-se optar por comprar usada.
Os tremoços depois de limpos, devem ficar mais quatro, cinco dias, espalhados ao sol, volvendo-os diariamente com os bicos de um gadanho, para que fiquem bem desidratados, secos, para armazenamento.
Guardados em local seco, dentro de um saco de serapilheira, ou outro recipiente, conservam-se durante todo o ano.
Semente que se pode utilizar no ano seguinte.


CURTIR TREMOÇOS
(A água da rede não serve para os curtir)


1- Escolhê-los para retirar alguma impureza e por de molho, de um dia para o outro, 20 a 24 horas.


2- Cozer, até conseguirmos espetar a unha no “olho”, 50 a 70 minutos, ou mais se necessário. Demasiado cozidos, ficam moles.


3- Depois de cozidos, escorrem-se e colocam-se dentro de um saco de serapilheira, num ribeiro, riacho, com água corrente, ou poço com nascente. Em casa, desde que se tenha água da nascente, podem-se colocar dentro de uma barrica…alguidar, mudando a água, 4 vezes, por dia, durante, 3 a 4 dias, provando, até deixarem de amargar.


4- Guardar num recipiente com água e bastante sal marinho.

Fases da Lua 2020

Fase da Lua
Data
Hora
Primeiro quarto3 Janeiro 202005:46:52
Lua cheia10 Janeiro 202020:23:14
último quarto17 Janeiro 202014:00:35
Lua nova24 Janeiro 202022:44:11
Primeiro quarto2 Fevereiro 202002:43:28
Lua cheia9 Fevereiro 202008:34:35
último quarto15 Fevereiro 202023:19:09
Lua nova23 Fevereiro 202016:33:44
Primeiro quarto2 Março 202020:58:38
Lua cheia
(Superlua)
9 Março 202018:48:35
último quarto16 Março 202010:35:39
Lua nova24 Março 202010:29:36
Primeiro quarto1 Abril 202012:21:52
Lua cheia
(Superlua)
8 Abril 202004:35:36
último quarto15 Abril 202000:56:57
Lua nova23 Abril 202004:27:00
Primeiro quarto30 Abril 202022:38:44
Lua cheia7 Maio 202012:45:35
último quarto14 Maio 202016:03:18
Lua nova22 Maio 202019:39:49
Primeiro quarto30 Maio 202005:30:22
Lua cheia5 Junho 202021:12:43
último quarto13 Junho 202008:24:59
Lua nova21 Junho 202008:42:16
Primeiro quarto28 Junho 202010:16:30
Lua cheia5 Julho 202006:44:57
último quarto13 Julho 202001:31:28
Lua nova20 Julho 202019:33:36
Primeiro quarto27 Julho 202014:33:47
Lua cheia3 Agosto 202017:59:38
último quarto11 Agosto 202018:47:48
Lua nova19 Agosto 202004:42:15
Primeiro quarto25 Agosto 202019:59:11
Lua cheia2 Setembro 202007:23:12
último quarto10 Setembro 202011:28:18
Lua nova17 Setembro 202013:00:59
Primeiro quarto24 Setembro 202003:56:34
Lua cheia1 Outubro 202023:06:55
último quarto10 Outubro 202002:41:24
Lua nova16 Outubro 202021:32:14
Primeiro quarto23 Outubro 202015:24:17
Lua cheia31 Outubro 202015:51:29
último quarto8 Novembro 202014:47:38
Lua nova15 Novembro 202006:08:54
Primeiro quarto22 Novembro 202005:45:54
Lua cheia30 Novembro 202010:32:04
último quarto8 Dezembro 202001:37:59
Lua nova14 Dezembro 202017:18:45
Primeiro quarto22 Dezembro 202000:42:31
Lua cheia30 Dezembro 202004:30:24

Influência lunar



A frescura verdejante vai cobrindo a paisagem...o manto verde, a copa das árvores, desabrocha numa paleta de cores e aromas perfumados.

A euforia da passarada, o zumbido dos insetos deixam adivinhar a chegada da Primavera.
Repete-se o ciclo reprodutivo da renovação.A terra anuncia-se fértil, é tempo de lhe lançar sementes.


As carateristicas do terreno, posição geográfica, chuvas intensas, temperaturas demasiado altas ou baixas para a época, são alguns fatores que condicionam o maior ou menor sucesso das culturas.


A sabedoria popular, o meu amigo Reis, acrescenta-lhe outra variante - influencia lunar -




Homem já de muitas culturas, há muito se rendeu ao encantamento da terra. Entre a vinha, o olival e os hortos, do tempo que lhe sobra, pouco lhe resta.

Aproximando-se com ar sério, reservado, delineando traços de postura militar, registos de outrora, que o passar dos anos quis preservar...fitando-me por instantes, lá vai dizendo, em jeito de advertência :


- Andei a espreitar o Terramanhada...tens de dizer que na Lua Nova não se semeia nada !

Lua Nova

-Pois é Reis...eu não costumo ligar muito a essas questões da Lua...semeio, planto, quando tenho tempo disponível e oportunidade. Mesmo assim, as colheitas não vão sendo más.
Mas tens razão ! A Lua tem a sua influencia, lá do alto do seu podium, é ela que vai orquestrando a sinfonia da vida !
Então, mas diz-me porque é que na lua nova não se deve semear nada ?


- Ganha tudo muita rama e não produz nada ! Os frutos são poucos e não se desenvolvem como deve ser.


- Bem...! Então, já agora se não te importas, dás-me mais umas dicas sobre a lua, p'ra pôr no Terramanhada !


Lua Cheia

- Podes ir ver ao Almanaque, está lá tudo.
- Eu sei...! Mas diz -me tu que eu vou tomar nota.

- As batatas...nunca ouviste dizer, « semeadas na lua cheia, cova cheia » ?
Mas também se podem semear no minguante.

- Então, e no quarto crescente ?

- Oh pá...! Plantam-se tomateiros, pimentões, semeia-se feijão, favas, ervilhas, abóboras, melancias, melões, pepinos, milho...até a fruta sabe melhor, mais suculenta, é também a melhor altura para enxertar.


Quarto Crescente

- E no minguante ?


Quarto minguante

- No quarto minguante, semeia-se batatas, planta-se o cebolo, couves de horto ou galegas, como lhe chamam também...alfaces...tudo o que pode vir a espigar !
A poda da vinha também se deve fazer no minguante, as videiras perdem menos seiva...e se forem podadas à tarde, vão cicatrizando durante a noite.

- Oh, Reis ! E a madeira, para madeiramento, corta-se no minguante ou no crescente !?

- A madeira...ouve-se dizer "os antigos", para o madeiramento das casas, era cortada no minguante de Janeiro. Escolhiam as árvores de casca mais fina, menos rugosa, indicando um crescimento mais lento, com madeira mais enxuta, mais resistente á deteoração e ao bicho.
O soalho da casa da minha avó, tem quase 200 anos, e não se vê uma tábua podre !
E sabes...? O choupo, é uma madeira muito boa para madeiramentos...é leve...e eterna , se for aplicada ao enxuto.

A muda do vinho, para passar a limpo, tambem deve ser feita no minguante, de Janeiro a Março...até as galinhas se devem por a chocar no minguante.


- Então, mas em que altura começa o minguante, é logo a seguir á lua cheia !?

- Sim, a seguir á lua cheia, vêm o minguante, mas deve-se considerar só passados quatro ou cinco dias, quando ela começa a diminuir a influência na Terra…no crescente, basta passar dois ou três dias da lua nova. Cada fase têm sete dias.
Depois, tens de escrever, lá , fui eu que te disse...!

- Está bem...- sorrindo -...eu escrevo !


A convicção do meu amigo Reis em cada "quarto" que cresce ou mingua, nos seus sete dias, acordou em mim a necessidade de ir ao encontro desta cumplicidade lunar...quis saber, de que modo essa influência se delineava.
Sabia que a sua atração, já desenhava as marés ou, quando em todo o seu esplendor obrigava as mulheres a dar á luz. Mas, e as plantas ?! Como influenciava o seu desenvolvimento ?


Depois de alguma pesquisa, fiquei a atender, a relação entre a Terra, Sol e Lua...diferentes massas, que se atraem simultaneamente, umas às outras, fazendo variar essa intensidade, podendo concluir que a Lua na suas continuas viagens á volta da Terra, vai variando a sua influencia, assim como a superficie iluminada visivel se vai modificando, consoante a sua posição, e se encontre, a maior ou menor distancia do Sol.
Nesta viagem de trinta dias, ela terá sempre uma face iluminada pelo astro rei, no entanto, da terra, o que observamos depende do seu posicionamento. Podemos observa-la por completo, quando está posicionada à frente do sol, do outro lado da terra, será lua cheia.
Depois desta posição, consoante se vai movendo, e aproximando-se do sol, o angulo de visão vai-se modificando, e a superficie iluminada vai começando a ser observada de lado, diminuindo cada vez mais a area visível, sendo em determinado dia e momento, um quarto da sua superficie total, assinalando neste caso, o quarto minguante, continuando, até á invisibilidade total, que será a lua nova.


A lua nova acontece, quando ela se encontra o mais próximo possivel do sol, com a face iluminada, num frente a frente com o mesmo, de costas para a terra, deixando a noite mais escura.
Entretanto nas próximas noites, começa a afastar-se, e vamos observá-la a crescer, a redesenhar-se no céu, brevemente atingirá o quarto crescente, depois em todo o seu esplendor, lá bem longe, do outro lado da terra, a lua cheia.


Podemos imagina-la como um espelho virado para o sol, que se vai movendo e consoante a sua posição na trajetória á volta da terra, assim vai refletindo a luz do mesmo, ora aumentando, ora diminuindo.


Da lua cheia á lua nova, vai estar cada vez mais perto do sol, e gradualmente menos visivel, será o percurso do minguante, do quarto minguante, para cultivar considera-se 4…5 dias, depois da lua cheia, até aos 2…3 dias, depois do quarto minguante.
Nesta fase, aproximando-se do sol, o poder da sua massa muito superior, vai-lhe reduzindo a capacidade de influencia na terra.
Na lua nova, quando está mais próxima dele, e completamente escura. ela é deminuta, quase inesistente.

Depois da lua nova, inicia o percurso crescente, do quarto crescente, afastando-se lentamente, começando a redesenhar-se no céu, retomando gradualmente o seu poder, com expoente máximo na lua cheia.
Nesta posição, encontra-se frente a frente com o sol, mas á maior distancia do mesmo, de um e outro lado da terra, ficando esta no centro, sofre a maior influencia de ambos.
É nos fluídos que o seu poder é exercido de forma visível,estimulando, ativando a sua circulação, colocando a vida ao rubro... despertando, ateando desejos... acelerando os partos, incitando ao desabrochar de novas vidas, fluindo a seiva, para a parte superior das plantas. Penso também, que a somar a esta estimulação, a vida vegetal será enaltecida pelo crepúsculo do luar. Esta exposição à luminosidade, também durante a noite, possibilitará maior atividade de fotossíntese, beneficiando o desenvolvimento das plantas.


Faz sentido plantar no minguante, aquando o sistema vegetativo se encontra usufruindo momentos de tranquilidade, com a seiva circulando sem pressa, com maior afluência na parte inferior da planta, contribuindo com maior disponibilidade, para o desenvolvimento das raízes, ou semear canteiros, alfobres, de couve, alface, cebolo…tudo o que sejam plantas de folhagem, ou suscetiveis de vir a espigar, pois se forem cultivadas sob o dominio do crescente, a estimulação vegetativa, pode levar a isso mesmo, incentivá-las a um excessivo desenvolvimento e a espigar de forma prematura.
Quanto à poda, aliado ao facto de ser feita do inicio do outono ao final do inverno, aquando as arvores se encontram em repouso vegetativo, com menos seiva a circular, a ser no minguante, quando circula de forma ainda menos ativa, menor será a perda pelo corte executado.

No que respeita, à germinação de sementes, plantio da batata, cujo sucesso depende do desenvolvimento do grelo, o Crescente parece-me ser quem mais favorece.

Entretanto, apreendi nesta cumplicidade lunar, a sua importância como parte do todo...considerando-a, sempre que possível !

domingo, 15 de dezembro de 2019

OM MANI PADME HUM- BELLÍSIMA VERSIÓN DE IMEE OOI

BELLÍSIMA VERSIÓN del mantra más conocido del budismo, cantado por Imee Ooi compositora y arregladora de origen malayo nacida en Kuala Lumpur. Imee Ooi trabaja desde 1997 para I.M.M. Musicworks, fundada por ella para publicar su música. Om mani padme hum ( contempla la joya en el loto) es probablemente el mantra más famoso del budismo. El Dalái Lama dice:"Es muy bueno recitar el mantra Om mani padme hum, pero mientras lo haces, debes pensar en su significado, porque el significado de sus seis sílabas es grande y extenso... La primera, Om simboliza el cuerpo, habla y mente impura del practicante; también simbolizan el cuerpo, habla y mente pura y exaltada de un Buddha" "El camino lo indican las próximas cuatro sílabas. Mani, que significa "joya", simboliza los factores del método, la intención altruista de lograr la claridad de mente, compasión y amor" "Las dos sílabas, padme, que significan "loto", simbolizan la sabiduría" "La pureza debe ser lograda por la unidad indivisible del método y la sabiduría, simbolizada por la sílaba final hum, la cual indica la indivisibilidad" "De esa manera las seis sílabas, om mani padme hum, significan que en la dependencia de la práctica de un camino que es la unión indivisible del método y la sabiduría, tú puedes transformar tu cuerpo, habla y mente impura al cuerpo, habla y mente pura y exaltada de un Buddha"

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Utopia concreta em vila anarco-comunista


Terra e trabalho para todos. Jornadas de 6 horas. Salários igualitários. Casa por cem reais. Mobilização permanente. Como o cooperativismo transformou a pequena Marinaleda num oásis, em meio à Europa em regressão social e política
OUTRASPALAVRAS
PÓS-CAPITALISMO
por Gabriel Bayarri

Publicado 03/09/2019 às 17:45 - Atualizado 03/09/2019 às 17:52


Por Timothy Ginty e Gabriel Bayarri | Entrevista e trabalho de campo: Timothy Ginty e Scott Arthurson


No sul da Espanha, uma pequena vila de 2626 habitantes organiza-se há décadas para administrar comunalmente a propriedade da terra, do trabalho e das casas. A pequena aldeia andaluza de Marinaleda, que se dedica principalmente à agricultura, revelou-se ao mundo com o seu sistema de cooperativas como um exemplo de como este modelo de gestão pode reduzir de forma absolutamente eficaz os níveis de desigualdade e alcançar o pleno emprego.

Tim Ginty e Scott Arthurson conversaram com o prefeito e líder carismatico do movimento, Juan Manuel Sanches Gordillo, sobre seu papel na organização, educação e agitação da cidade de Marinaleda.

Entre os olivais do sul espanhol, pedimos aos trabalhadores rurais com seus velhos tratores e vans que nos levassem a Marinaleda. Francisco abre um lugar para nós em seu carro, e enquanto dirige ao longo da estrada local, conta os principais pontos da aldeia: a Casa do Povo, onde o Sindicato dos Trabalhadores do Campo realiza tarefas comuns de educação, ativismo e organização; os serviços públicos como a piscina, as escolas e os centros esportivos.“El Humoso”, a propriedade rural expropriada da aristocracia após o fim do franquismo

Marinaleda, coberta de cal branca como qualquer outra vila da serra sevilhana, tem vários murais pintados nos seus predios: os olhos escuros de Che Guevara observam-nos a partir dos edifícios municipais. As bandeiras de uma Andaluzia vermelha, uma Catalunha independente, um País Basco e uma Palestina livre pintam a cidade de vermelho, verde e azul. Os pombos voam sobre as palavras de paz, rebelião e esperança.


Juan Manuel Sánchez Gordillo é uma figura central no “milagre de Marinaleda”. Prefeito desde 1979, o ano do retorno da democracia após a morte de Franco, ele ganhou as eleições com amplas maiorias absolutas. Intelectual, revolucionário, preso por ocupar terras militares e filho de agricultores, o papel central de Gordillo na construção de Marinaleda como uma “utopia para a paz” comunista, como diz o lema da cidade, ganhou fama e ódio em partes iguais. Os apoiadores de Gordillo comemoram sua liderança nas inúmeras campanhas que transformaram Marinaleda em um oásis de pleno emprego, em uma região onde o desemprego ainda sobe acima de 20% e o desemprego juvenil acima de 40%. A taxa de desemprego de 5% da Marinaleda é muito inferior à das grandes cidades como Madrid ou Barcelona.

A luta mais importante da aldeia azeitoneira foi a campanha de doze anos para tomar a terra da aristocracia moderna e devolver a propriedade ao povo que a cultivava, os trabalhadores diaristas. A partir de 1979, a luta pela reivindicação da coletivização da terra começou com uma greve de fome de mais de 700 vizinhos que durou meio mês. O processo continuou com inumeráveis ocupações de lotes privados, e longas disputas e negociações legais que finalmente lhes renderam, em 1991, a propriedade legal de uma vasta extensão de terra chamada El Humoso, um latifúndio de 1200 hectares que era propriedade do Duque del Infantado e que hoje é administrado como uma cooperativa pelos trabalhadores de MarinaledaO prefeito Gordillo: anarquismo e comunismo, com um toque cristão

Na entrada da propriedade lê-se um grande letreiro: “Esta terra é para os trabalhadores diaristas desempregados de Marinaleda”. No Humoso, a agricultura é 100% ecológica, os campos são irrigados e completados com oliveiras, estufas e viveiros. Foi também impulsada uma fazenda de criação de cabras e ovelhas e uma fábrica local de conservas de legumes. Os pilares da produção são o pimentão, o feijão, a alcachofra e o azeite de oliva.


Reconhecendo que sua luta não foi apenas uma batalha local pela terra, os moradores de Marinaleda tornaram-se os líderes morais do movimento contra a austeridade na Espanha após o colapso do sistema habitacional em 2008. E durante longos anos de crise econômica, Gordillo alcançou fama nacional por suas políticas contra a pobreza, o desemprego e a falta de moradia que dispararam durante anos de recessão.

Entrando em seu escritório, a bandeira da Segunda República Espanhola – símbolo da esquerda antifranquista – brilha com seu tricolor vermelho, amarelo e roxo no canto, enquanto uma fotografia de Che Guevara dirigindo-se às Nações Unidas fica ao seu lado. A peça central da sala se assenta numa mesa redonda: uma escultura de punhos grandes erguidos, tratando de se libertar das correntes de ferro que prendem os pulsos. Abaixo do punho se lê gravado:”MARINALEDA”A entrada de El Humoso, cooperativa de onde vem parte da riqueza compartilhada

A filosofia política de Gordillo amadureceu à medida que o regime fascista espanhol se enfraquecia; após a morte de Franco, Gordillo se envolveu com o Sindicato de Trabalhadores do Campo, uma união agrária que se aliou ao Coletivo de União dos Trabalhadores (CUT) para apresentar Gordillo como candidato a prefeito nas primeiras eleições municipais espanholas em 1979, após o colapso do regime de Franco.

Depois de ganhar a prefeitura, Gordillo lançou uma campanha após a outra com o objetivo de satisfazer as necessidades básicas das pessoas: alimentação, água, moradia e eletricidade. O passo mais audacioso nesses primeiros anos foi a histórica greve de fome e ocupação que buscava transferir vastas terras privadas para os camponeses sem terra. Explicando a razão desta greve de fome e desta ocupação, Gordillo conta: “Compreendemos que a luta contra o desemprego significava uma luta pela terra.” Este confronto com os proprietários privados fez do gabinete de Gordillo um gabinete de prefeitos que enfrentou os problemas em suas raízes; um gabinete raro e radical.

Uma História de Consciência Política

Em nosso encontro, Gordillo enfatiza que a ação coletiva deve ser baseada em uma educação política que desenvolva a consciência de classe: “as pessoas expropriadas devem organizar-se e identificar-se como expropriadas. Mesmo as classes médias também são expropriadas – da terra, do capital, do poder. E em Marinaleda, a consciência de classe é uma alta prioridade. Os murais contra-culturais que pintam as paredes do povo são testemunho da esperança que leva este povo à ação.”

Mas Gordillo não é um dogmático. Ele se inspira em todas as fontes, em qualquer ser humano que tenha sonhado em “construir um mundo diferente no qual os recursos sejam colocados a serviço das pessoas e não de interesses privados”. Cita Gandhi, Che Guevara, Jesus Cristo, junto com a experiência de nações que ainda lutam para serem reconhecidas como tais; os curdos, os saarauis, os palestinos. Ele diz: “Você tem que tirar um pouco de cada um; você tem que tirar um pouco do anarquismo, do socialismo, do marxismo, do Che, de algumas coisas de Lênin, de algumas coisas de todos e, acima de tudo, da sua própria experiência”. A filosofia política de Gordillo é um mosaico de ideias endurecido na experiência do genocídio que a esquerda viveu durante o regime de Franco, a guerra civil e a ditadura, e moldado na memória histórica do nacionalismo andaluz. Questionado sobre o que aprendeu com sua própria experiência, ele responde: “A não-violência pode realizar qualquer coisa no mundo. Que tudo é possível”.As paredes brancas cobertas de murais

Perguntando a sua citação de Cristo entre os seus heróis, ele nos explica que vê Cristo como o primeiro comunista. “Cristo era um revolucionário, e assim eles se livraram dele. Cristo o pacifista, Cristo o agitador, o reformador que declarou que o reino de Deus está dentro do homem, não em outro lugar, e certamente não dentro de um papa”.

É esta tradição social cristã, a mesma desenvolvida pela Teologia da Libertação na América Latina, que Gordillo reivindica. Ele insiste que “o cristianismo e o marxismo, o cristianismo e o comunismo são perfeitamente compatíveis”, e reconhece o papel de um elemento mais profundo — pessoal ou espiritual — no humanismo político, demonstrando que, em contraposição aos projetos neofascistas ou da “supremacia teológica”, pode-se reconstruir uma tradição cristã progressista.

Marinaleda e a Solução Cooperativa

Os sucessos sócio-econômicos da aldeia, como o pleno emprego, salários igualitários de 1200 euros por mês (aproximadamente 4450 reais) em jornadas de 6 horas de trabalho ou a inexistência de polícia fazem-nos pensar sobre como o modelo cooperativo de Marinaleda seria transferível para outras regiões. O modelo cooperativo tem sido acompanhado por um sistema participativo no qual todas as decisões estratégicas do município são tomadas em uma Assembléia Popular, bem como as políticas de gestão de terras e habitação, oferecendo habitação a partir de 15 euros por mês (aproximadamente 66 reais)

O modelo cooperativista não apresenta inviabilidade estratégica. Em vez de canalizar lucros para executivos e acionistas que agregam pouco valor produtivo, uma cooperativa reinveste no capital da empresa, permitindo-lhe prosperar em tempos bons e sobreviver em tempos difíceis. É um modelo que salvaguarda aspirações sociais, econômicas, políticas e culturais conjuntas por meio de empresas de propriedade coletiva e controladas democraticamente.

O conflito entre a gestão e os trabalhadores é minimizado graças à representação democrática e à tomada de decisões, e o exemplo de cooperativas bem sucedidas como El Humoso de Marinaleda pode ser visto em outros lugares – como no caso representativo da cooperativa de Mondragon, a maior do mundo. Localizada no País Basco, norte da Península Ibérica, ela emprega atualmente cerca de 81 mil trabalhadores e realiza um volume de negócio anual de mais de 11 bilhões de euros (aproximadamente 50 bilhões de reais).

No atual declínio da social-democracia, substituída por um neoliberalismo social no contexto espanhol, as cooperativas são um mecanismo capaz de iniciar modelos transformadores de gestão de recursos. O caso de Marinaleda revela o potencial de sucesso destes mecanismos intersetoriais, capazes de enfrentar as desigualdades estruturais resultantes do sistema atual. Num contexto de crise sistêmica, econômica, ambiental, social e política, materializada no ascenso das extremas direitas, estas práticas oferecem formas eficazes de ação coletiva.

No entanto, somente através desta ação coletiva, mobilizada pelas diversas organizações pró-cooperativistas, bem como pelos sindicatos, será possível promover uma consciência social efetiva, capaz de exigir políticas que promovam a cooperativização da economia através de uma série de incentivos fiscais e creditícios

Marinaleda demonstra que uma comunidade dominada pela agricultura familiar terá uma estrutura social mais igualitária e uma vida institucional mais rica, colaborando não só em relações sócio-econômicas bem-sucedidas, como também na geração de vínculos emocionais e psico-afetivos, permitindo que essa gestão seja, como diz Gordillo, “uma forma de educação política e de aquisição de consciência de classe”.


Gabriel Bayarri é um escritor e antropólogo espanhol

Timothy Ginty é um escritor australiano. Escreve em seu blog, Lives and Times: Writing on the World Around Us.

Scott Arthurson é um escritor australiano.

domingo, 24 de novembro de 2019

Leia a íntegra do pronunciamento oficial de Lula ao PT


23 de novembro de 2019



Companheiras e companheiros do PT,

Convidados de todo o Brasil e de outros países,

Minhas amigas, meus amigos,

Esperei muito tempo para poder falar livremente ao povo brasileiro. Esse dia finalmente chegou, e minha primeira palavra tem de ser de agradecimento, pela solidariedade, pelo carinho e pelas manifestações de quem não desistiu de lutar e vai continuar lutando pela verdadeira justiça.

Durante 580 dias fui isolado da família, dos amigos e companheiros, apartado do povo, mesmo tendo o direito constitucional de recorrer em liberdade contra a sentença injusta e fraudulenta de um juiz parcial. Um direito que somente agora foi proclamado pelo Supremo Tribunal Federal, para todos, sem exceção.

Com as armas da verdade e da lei, continuarei lutando para que os tribunais reconheçam, agora, que fui condenado por quem sequer poderia ter me julgado: um ex-juiz que atuou fora da lei, grampeou advogados, mentiu ao país e aos tribunais, antes de desnudar seus objetivos políticos. Lutarei para que seja anulada a sentença e me deem o julgamento justo que não tive.

Aos 74 anos de idade, não tenho no coração lugar para ódio e rancor. Mas quem nesse país já sofreu a humilhação de uma acusação falsa, por causa da cor de sua pele ou por sua origem social humilde, conhece o peso do preconceito e é capaz de sentir o quanto fui ferido em minha dignidade. E isso não se apaga.

Nada nem ninguém vai devolver o pedaço arrancado da minha existência, mas quero dizer que aproveitei esses 580 dias para ler, estudar, refletir e reforçar meu compromisso com o Brasil e com nosso povo sofrido. Voltei com muita vontade de falar sobre o presente e principalmente sobre o futuro do Brasil.

Mas logo depois da minha primeira fala, de volta ao sindicato onde passei o último momento de liberdade, disseram que eu deveria ter cuidado para não polarizar o país. Que seria melhor calar certas verdades para não tumultuar o ambiente político, para o PT não provocar uma ameaça à democracia.

Vamos deixar uma coisa bem clara: se existe um partido identificado com a democracia no Brasil é o Partido dos Trabalhadores. O PT nasceu lutando pela liberdade durante a ditadura. Não tentem negar essa verdade porque nós apanhamos da repressão, fomos perseguidos, presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional por defender essa ideia.

Desde que foi criado, há quase 40 anos, o PT disputou dentro da lei e pacificamente todas as eleições neste país. Quando perdemos, aceitamos o resultado e fizemos oposição, como determinaram as urnas. Quando vencemos, governamos com diálogo social, participação popular e respeito às instituições.

Outros partidos mudaram as regras da reeleição em benefício próprio. Nós rejeitamos essa ideia, mesmo gozando de uma aprovação que nenhum outro governo jamais teve, porque sempre entendemos que não se pode brincar com a democracia.

Não fomos nós que falamos em fechar o Congresso, muito menos o Supremo, com um cabo e um soldado. Em nossos governos, as Forças Armadas foram respeitadas e os chefes militares respeitaram as instituições, cumprindo estritamente o papel que a Constituição lhes reserva. Nenhum general deu murro na mesa nem esbravejou contra líderes políticos.

Não fomos nós que pedimos anulação do pleito só para desgastar o partido vencedor; que sabotamos a economia do país para forçar um impeachment sem crime; que sustentamos uma farsa judicial e midiática para tirar do páreo o candidato líder nas pesquisas.

Não fomos nós os responsáveis, ativos ou omissos, pela eleição de um candidato que tem ojeriza à democracia; que foi poupado de enfrentar o debate de propostas, que montou uma indústria de mentiras com dinheiro sujo, sob a complacência da mesma Justiça Eleitoral que, desacatando uma decisão da ONU, cassou o candidato que poderia derrotá-lo.

São essas pessoas que agora nos dizem para não polarizar o país. Como se polarização fosse sinônimo de extremismo político e ideológico. Como se o Brasil já não estivesse há séculos polarizado entre os poucos que têm tudo e os muitos que nada têm. Como se fosse possível não se opor a um governo de destruição do país, dos direitos, da liberdade e até da civilização.

Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho: somos e seremos oposição a esse governo de extrema-direita que gera desemprego e exige que os desempregados paguem a conta.

Somos e seremos oposição a um governo que rasga direitos dos trabalhadores e reduz o valor real do salário mínimo. Que aumenta a extrema pobreza e traz de volta o flagelo da fome. Que destrói o meio ambiente. Que ataca mulheres, negros, indígenas e a população LGBT; ataca qualquer um que ouse discordar.

Somos, sim, radicais na defesa da soberania nacional, da universidade pública e gratuita, do Sistema Único de Saúde, público, gratuito e universal. Nós não somos meia oposição; somos oposição e meia aos inimigos da educação, da cultura, da ciência e da tecnologia. Nós não aceitamos mais censura, tortura, AI-5 e perseguição a adversários políticos.

Andam negando essa verdade científica, mas a Terra é redonda e nós estamos, sim, em polos opostos: enquanto eles semeiam o ódio, nós vamos mostrar a eles o que o amor é capaz de fazer por este país.

Companheiras e companheiros,

Já foi dito que o PT nasceu para mudar o Brasil. E mudou. Porque trazemos na origem o compromisso com os trabalhadores, com os mais pobres, com os que carregaram ao longo de séculos o peso da exclusão e da desigualdade. Porque pela primeira vez fizemos um governo para todos os brasileiros e brasileiras, e isso fez toda a diferença em nosso país.

Se fosse para governar apenas para uma parte da população, o Brasil não precisaria do PT.

Para o mercado decidir quem pode e quem não pode se aposentar, quanto vai custar o gás de cozinha, o combustível, a energia elétrica, visando somente o lucro, o Brasil não precisaria do PT.

Se fosse para entregar ao estrangeiro as riquezas naturais, o petróleo, as águas, as empresas que o povo brasileiro construiu, o Brasil não precisaria do PT.

Se fosse para queimar a floresta, envenenar a comida com agrotóxicos, deixar impunes crimes como os de Marielle, Mariana, Brumadinho, ignorar desastres como o óleo no litoral do Nordeste, quem precisaria do PT?

Para o filho do rico estudar nas melhores universidades do mundo e o filho do trabalhador ter de largar a escola pra sustentar a família, o Brasil não precisaria do PT.

Se é para alguns terem mansão em Miami e muitos viverem debaixo do viaduto; para o rico ficar isento até do imposto de herança e o trabalhador carregar o peso do imposto de renda, o Brasil não precisaria do PT.

Para manter a mais escandalosa concentração de renda do planeta Terra, para o rico continuar cada vez mais rico e o pobre ficar cada dia mais pobre, aí mesmo é que o Brasil não precisaria do PT.

Porque o maior inimigo do Brasil hoje e desde sempre é a desigualdade, esse vergonhoso fosso em que 1% da população detém 30% da renda nacional e para a metade mais pobre sobram 17%, as migalhas de um banquete indecente.

Mas se este país quer superar a chaga imensa da desigualdade, recuperar a soberania e o seu lugar no mundo, se quer voltar a crescer em benefício de todos os brasileiros e brasileiras, o Partido dos Trabalhadores é mais do que necessário: ele é imprescindível.

Esta é a enorme responsabilidade que estamos recebendo. O Brasil nunca precisou tanto do PT. E o PT tem de ser grande o bastante para corresponder ao que o país espera de nós. Tem de estar unido, forte e cada vez mais conectado com o povo brasileiro.

Temos a responsabilidade de renovar o partido, compreender o que mudou na sociedade brasileira nesses 40 anos e buscar as respostas para os novos desafios. Fomos forjados na luta em defesa da classe trabalhadora.

O peso da injustiça recai hoje sobre os motoristas de aplicativos, os jovens que perdem a saúde e arriscam a vida fazendo entregas em motos, bicicletas, ou mesmo a pé. Os que não têm a quem recorrer por seus direitos, porque a única relação de trabalho que conhecem não é a carteira profissional, mas um telefone celular que ele precisa recarregar desesperadamente.

Esse é o lugar que resta aos deserdados de um modelo neoliberal excludente, cada vez mais desumano. Um mundo em que o mercado é deus e em que a solidariedade deixa de ser um valor universal, substituída por uma competição individualista feroz.

É com esse mundo novo que o PT precisa dialogar, sem abrir mão de nossos compromissos históricos, mantendo os pés firmes no presente e mirando sempre o futuro. Se as formas de exploração mudaram, a injustiça e a desigualdade permanecem e são cada vez mais cruéis. Temos de estar mais organizados, mais fortes, conscientes e mais decididos do que nunca a construir um país mais generoso, solidário e mais justo. É por isso que o Brasil precisa tanto do PT.

Companheiras e companheiros,

Salvar o país da destruição e do caos social que este governo está produzindo não é tarefa para um único partido. Fomos eleitos e governamos em aliança com outras forças do campo popular e democrático. Por mais que tentem nos isolar, estamos juntos na oposição com partidos da centro-esquerda e estamos com os movimentos sociais, as centrais sindicais e importantes lideranças da sociedade.

Embora tantos tenham cometido erros antes e depois dos nossos governos, é somente do PT que exigem a autocrítica que fazemos todos os dias. Na verdade, querem de nós um humilhante ato de contrição, como se tivéssemos de pedir perdão por continuar existindo no coração do povo brasileiro, apesar de tudo que fizeram para nos destruir. Preciso dizer algumas verdades sobre isso.

O maior erro que nós cometemos foi não ter feito mais e melhor, de uma forma tão contundente que jamais fosse possível esse país voltar a ser governado contra o povo, contra os interesses nacionais, contra a liberdade e a democracia, como está sendo hoje.

Deveríamos ter feito mais universidades do que fizemos, mais reforma agrária, mais Luz Pra Todos, mais Minha Casa Minha Vida, mais Bolsa Família e mais investimento público.

Teríamos de ter conversado muito mais com o povo e com os trabalhadores, conversado mais com os jovens que não viveram o tempo em que o Brasil era governado para poucos e não para todos.

Também tínhamos de ter trabalhado muito mais para democratizar o acesso à informação e aos meios de comunicação, apoiado mais as rádios comunitárias, fortalecido mais a televisão pública, a imprensa regional, o jornalismo independente na internet.

Antes que a Rede Globo me acuse outra vez pelo que não disse nem fiz, não ousem me comparar ao presidente que eles escolheram. Jamais ameacei e jamais ameaçaria cassar arbitrariamente uma concessão de TV, mesmo sendo atacado sem direito de resposta e censurado como sou pelo jornalismo da Globo.

Eu sempre disse que jamais teria chegado onde cheguei se não tivesse lutado pela liberdade de imprensa. Hoje entendo, com muita convicção, que liberdade de imprensa tem de ser um direito de todos, não pode ser privilégio de alguns.

Não pode um grupo familiar decidir sozinho o que é notícia e o que não é, com base unicamente em seus interesses políticos e econômicos.

Entendo que democratizar a comunicação não é fechar uma TV, é abrir muitas. É fazer a regulação constitucional que está parada há 31 anos, à espera de um momento de coragem do Congresso Nacional. É fazer cumprir a lei do direito de resposta. E é principalmente abrir mais escolas e universidades, levar mais informação e consciência para que as pessoas se libertem do monopólio.

Enfim, penso que teríamos de ter lutado com mais vontade e organização, fortalecido ainda mais a democracia, para jamais permitir que o Brasil voltasse a ter um governo de destruição e de exclusão social como voltou a ter desde o golpe de 2016.

A autocrítica que o Brasil espera é a dos que apoiaram, nos últimos três anos, a implantação do projeto neoliberal que não deu certo em lugar nenhum do mundo, que vai destruir a previdência pública e que ao invés de gerar os empregos que o povo precisa está implantando novas formas de exploração.

A autocrítica que a democracia e o estado de direito esperam é daqueles que, na mídia, no Congresso, em setores do Judiciário e do Ministério Público, promoveram, em nome da ética, a maior farsa judicial que este país já assistiu.

O mundo hoje sabe que, ao contrário de combater a impunidade e a corrupção, a Lava Jato corrompeu-se e corrompeu o processo eleitoral e uma parte do sistema judicial brasileiro. Deixou impunes dezenas de criminosos confessos que Sérgio Moro perdoou e que continuam muito ricos.

Como podem dizer que combateram a impunidade se soltaram pelo menos 130 dos 159 réus que ele mesmo havia condenado? Negociaram todo tipo de benefício com criminosos confessos, venderam até o perdão de pena que a lei não prevê, em troca de qualquer palavra que servisse para prejudicar o Lula.

Que ética é essa que condena 2 milhões de trabalhadores, sem apelação, destruindo empresas para salvar os patrões acusados de corrupção?

Não tem moral, não tem autoridade para discutir ética quem deu cobertura aos procuradores de Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot quando eles entregaram a Petrobrás aos tribunais dos Estados Unidos, um crime de lesa-pátria que já custou quase 5 bilhões de dólares ao povo brasileiro.

Temos muito o que falar sobre ética, sobre combate à corrupção e à impunidade. Mas acima de tudo temos que falar a verdade.

Meus amigos e minhas amigas,

Alguns professores de deus defendem um modelo suicida de austeridade fiscal e redução do estado, que não deu certo em nenhum lugar do mundo. Tiveram o apoio da mídia e das instituições para culpar os governos do PT por tudo de ruim que havia no Brasil. Mentiram que tirando o PT do governo tudo se resolveria, por obra do mercado e do ajuste fiscal. E os problemas se agravaram ainda mais.

Os indicadores econômicos do Brasil pioraram: a balança comercial em queda, a economia paralisada, setores da indústria destruídos, o investimento público e privado inexistente, o rombo nas contas aumentado irresponsavelmente por razões políticas. O custo de vida dos pobres aumentou e as pessoas voltaram a cozinhar com lenha porque não podem comprar um botijão de gás.

É preciso dizer umas verdades sobre isso também.

A primeira delas é que o Brasil só não quebrou ainda por causa da herança dos governos do PT. Por causa dos 370 bilhões de dólares em reservas internacionais que acumulamos e querem queimar na conta dos juros. Por causa dos mercados internacionais que abrimos e que uma política externa irresponsável está fechando. Por causa do pré-sal que descobrimos e que estão vendendo na bacia das almas.

O Brasil só não está passando por uma convulsão social extrema por causa da herança dos governos do PT. Porque não conseguiram acabar com o Bolsa Família, último recurso de milhões de deserdados. Porque milhões de famílias ainda produzem no campo, para onde levamos água, energia, tecnologia e recursos em nosso governo. E também porque não conseguiram destruir ainda os sistemas públicos de saúde, educação e segurança, mas fatalmente isso irá ocorrer pela criminosa política de cortes do investimento público.

Sempre acreditei que o povo brasileiro é capaz de construir uma grande Nação, à altura dos nossos sonhos, das nossas imensas riquezas naturais e humanas, neste lugar privilegiado em que vivemos. Já provamos que é possível enfrentar o atraso, a pobreza e a desigualdade, desafiando poderosos interesses contrários ao país e ao povo.

Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário é dependência, servidão, submissão. É o que está acontecendo hoje. Estão entregando criminosamente a outros países as empresas, os bancos, o petróleo, os minerais e o patrimônio que pertence ao povo brasileiro. Trair a soberania é o maior crime que um governo pode cometer contra seu país e seu povo.

A Petrobrás está sendo vendida em fatias a suas concorrentes estrangeiras.

Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra de entreguismo e privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o país.

Tão importante quanto defender o patrimônio público ameaçado é preservar os recursos naturais e nossa riquíssima biodiversidade. Utilizar esse patrimônio, fonte de vida, com responsabilidade social e ambiental.

Um país que não garante educação pública de qualidade a todas as suas crianças, adolescentes e jovens não se prepara para o futuro.

Mas parece que enfiaram o Brasil à força numa máquina do tempo e nos enviaram de volta a um passado que a gente já tinha superado. O passado da escravidão, da fome, do desemprego em massa, da dependência externa, da censura, do obscurantismo.

O Brasil precisa embarcar de volta para o futuro. E não tem ninguém melhor para pilotar essa máquina do tempo do que a juventude desse país. Porque essa juventude, seja ela branca, negra ou indígena, ela quer ensino de qualidade, quer adquirir conhecimento, quer de volta as oportunidades de trabalho digno, sem alienação e sem humilhações.

Essa juventude quer e merece um mundo melhor do que este em que estamos vivendo.

Hoje me coloco à disposição do Brasil para contribuir nessa travessia para uma vida melhor, vida em plenitude, especialmente para os que não podem ser abandonados pelo caminho.

Sem ódio nem rancor, que nada constroem, mas consciente de que o povo brasileiro quer retomar a construção de seu destino; de que temos de fazer juntos um Brasil soberano, democrático, justo, em que todos e todas tenham oportunidades iguais de crescer e sonhar.

O futuro será nosso, o futuro será do Brasil!

Muito obrigado!

Luiz Inácio Lula da Silva