segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como ainda tenho memória encontrei esta lembrança.

Tudo começou em Belém. Primeira parte: não é a história do Menino Jesus, é a história do buraco em que estamos metidos. Corria o ano de 1986, e sem nos terem consultado, Portugal aderiu à CEE. Começou a chegar dinheiros a rodos, que teoricamente devia servir para modernizar o país.

Entretanto houve eleições. O PSD teve a maioria absoluta, o que lhe permitiu distribuir a massa como quis. Mandou construir o Centro Cultural de Belém, um edifício que foi orçamentado em 32,5 milhões de euros. Acabou por custar duzentos milhões e este foi, a meu ver, o primeiro grande assalto às finanças públicas. E como ninguém foi preso nem sequer admoestado os assaltos continuaram. Agora eu pergunto ao senhor que deixou isto acontecer: se fosse uma obra paga com o dinheiro dele, pagaria? Qualquer chefe de família, mesmo sendo analfabeto, não o permitiria. O senhor que deixou isto acontecer chama-se Aníbal Cavaco Silva, que na altura era primeiro-ministro. Até há quem diga que o homem é muito sério e um grande economista. A Casa da Música, a Ponte Rainha Santa Isabel, o túnel do Rossio e o Aeroporto Sá Carneiro, levaram mais 241 milhões. Isto é apenas o que o tribunal de contas conseguiu apurar. Um estudo publicado na década de 1980 dava conta de que enquanto em Portugal se faziam cem quilómetros de auto-estradas, em Espanha faziam-se 140.

O dinheiro que devia servir para modernizar a agricultura e as pescas foi para acabar com as ditas. Acaba em grandes casarões com piscinas em vez de instalações agrícolas e, em vez de tractores, jipões de alta cilindrada. Como se tudo isto não bastasse, construíram-se estradas à pressa, que estão hoje a ser desmanteladas, casos do IP3, IP4, IP5.

Eu fui durante trinta anos um ator secundário nesta trama e posso afirmar que os atores principais foram o partido social-democrata. Só em obras públicas entre roubo e desperdício, dava para não termos de andar agora apagar portagens. Mudar os atores não vai resolver o problema. É preciso mudar a história. “Julgar criminalmente os culpados”.



Quintino Silva

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