Compreende-se perfeitamente a desilusão dos apoiantes de Fernando Nobre com os acontecimentos dos últimos dias.
São pessoas bem intencionadas e fartas da ditadura partidocrática que se assolapou como uma lapa em cima da Democracia, ou como uma doença maligna que cresce e estiola o hospedeiro. Nobre, que só era conhecido por aparecer na televisão com palavras de compaixão pelos pobres deste mundo e como dirigente de uma associação de médicos de “prestígio internacional”, aterrou de repente na arena nacional como um desinteressado anti-político capaz de salvar a pátria do cavaquismo, socratismo e clientelismo. Disseram logo as línguas viperinas que fora convencido a concorrer pelo melífluo Mário Soares, só para fazer concorrência ao ex-amigo e recém inimigo Manuel Alegre, mas esse mal dizer depressa se esfumou com a avalanche de apoiantes politicamente correctos e desinteressados. Era um rodopio de jovenzinhas pós-hippies e senhores republicanos do antigamente a ajudar uma campanha sem verbas, sem apoios partidários, sem construtores civis a dar dinheiro por fora e, também, sem norte.
Não foi uma boa campanha, pois Nobre logo se mostrou muito vaidoso e pouco subtil, em afirmações quasi desastradas. Não importa; a boa vontade e a pureza estavam lá, para lavar a corja dos políticos encardidos. E o resultado foi mesmo muito razoável, “uma autêntica vitória moral”, segundo amigos e, até, alguns políticos mais dispostos a admitir as evidências.
E ainda há duas semanas Nobre tinha dado uma entrevista em que afirmava, com firmeza e murros na mesa, que partidos “jamais”.
A notícia da sua inclusão como cabeça de lista do PSD por Lisboa, com destino certo de Presidente da AR, caiu como uma bomba, numa situação política tão inacreditável que parece impossível que mais alguma coisa surpreenda.
O mais chocante é, com certeza, este volte face estúpido e contraproducente – tanto para ele, que se desacredita completamente, como para o PSD, que não se percebe que vantagens terá, uma vez que os ex-apoiantes de Nobre dificilmente o apoiarão agora. Mas também é chocante o acordo de fazer de Nobre o próximo Presidente da AR, uma vez que o cargo é votado por maioria de 2/3 na AR, ou seja, nem o PSD pode prometer uma coisa que não é dele, nem Nobre, que nunca foi deputado, tem credenciais para o cargo. Depois de mais este faux pas de
Coelho, nenhum partido votará por Nobre, eliminando à nascença a possibilidade de ser Presidente da AR.
Tanta infantilidade, até chateia.
Na contra corrente desta notícia embasbacadora, logo aparecem na net informações sobre Nobre que levantam dúvidas sobre a sua gestão na AMI. Logo para começar, tem cinco familiares na administração: a irmã, a mulher, o cunhado e mais duas familiares. A seguir, as contas da Fundação, que recebe bons subsídios estais, não são públicas, nem se sabe quanto a família Nobre recebe do que parece ser, afinal, uma empresa familiar. Finalmente, os centros Porta Amiga prestam uma assistência irregular, muito longe da bem aventurança proclamada.
Também não falta que lembre que Nobre era monárquico em 1992, apoiou Miguel Portas (BE), Mário Soares (PS), Durão Barroso e António Capucho (PSD).
Um homem independente, anti-partidário, que faz o que for preciso no momento para ajudar o país, os pobres e os doentinhos; ou um vaidoso que muda de camisa ao sabor das oportunidades e vive à custa dos necessitados. Qual dos dois retratos será verdadeiro?
Provavelmente, como em qualquer pessoa, será um pouco de cada um. Ninguém é completamente mau ou totalmente bom. Agora, o que alguns são, e Nobre com certeza, é supinamente vaidoso e absolutamente desastrado.
Mais uma possibilidade perdida.
publicado por Perplexo às 23:41
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