segunda-feira, 23 de julho de 2012
Alemanha... falta de memória (ainda bem que há Historiadores!)
Em 1953, a Alemanha de Konrad Adenauer entrou em default, falência, ficou
Kaput, ou seja, ficou sem dinheiro para fazer mover a actividade económica
do país. Tal qual como a Grécia actualmente.
A Alemanha negociou 16 mil milhões de marcos em dívidas de 1920 que
entraram em incumprimento na década de 30 após o colapso da bolsa em Wall
Street. O dinheiro tinha-lhe sido emprestado pelos EUA, pela França e pelo
Reino Unido.
Outros 16 mil milhões de marcos diziam respeito a empréstimos dos EUA no
pós-guerra, no âmbito do Acordo de Londres sobre as Dívidas Alemãs (LDA),
de 1953. O total a pagar foi reduzido 50%, para cerca de 15 mil milhões de
marcos, por um período de 30 anos, o que não teve quase impacto na
crescente economia alemã.
O resgate alemão foi feito por um conjunto de países que incluíam a Grécia,
a Bélgica, o Canadá, Ceilão, a Dinamarca, França, o Irão, a Irlanda, a
Itália, o Liechtenstein, o Luxemburgo, a Noruega, o Paquistão, a Espanha, a
Suécia, a Suíça, a África do Sul, o Reino Unido, a Irlanda do Norte, os EUA
e a Jugoslávia.
As dívidas alemãs eram do período anterior e posterior à Segunda Guerra
Mundial. Algumas decorriam do esforço de reparações de guerra e outras de
empréstimos gigantescos norte-americanos ao governo e às empresas.
Durante 20 anos, como recorda esse acordo, Berlim não honrou qualquer pagamento
da dívida.
Por incrível que pareça, apenas oito anos depois de a Grécia ter sido
invadida e brutalmente ocupada pelas tropas nazis, Atenas aceitou participar
no esforço internacional para tirar a Alemanha da terrível bancarrota em
que se encontrava.
Ora os custos monetários da ocupação alemã da Grécia foram estimados em 162
mil milhões de euros sem juros. Após a guerra, a Alemanha ficou de
compensar a Grécia por perdas de navios bombardeados ou capturados, durante
o período de neutralidade, pelos danos causados à economia grega, e pagar
compensações às vítimas do exército alemão de ocupação.
As vítimas gregas foram mais de um milhão de pessoas (38 960 executadas, 12
mil abatidas, 70 mil mortas no campo de batalha, 105 mil em campos de
concentração na Alemanha, e 600 mil que pereceram de fome). Além disso, as
hordas nazis roubaram tesouros arqueológicos gregos de valor incalculável.
Qual foi a reacção da direita parlamentar alemã aos actuais problemas
financeiros da Grécia? Segundo esta, a Grécia devia considerar vender
terras, edifícios históricos e objectos de arte para reduzir a sua dívida.
Além de tomar as medidas de austeridade impostas, como cortes no sector
público e congelamento de pensões, os gregos deviam vender algumas ilhas,
defenderam dois destacados elementos da CDU, Josef Schlarmann e Frank
Schaeffler,
do partido da chanceler Merkel.
Os dois responsáveis chegaram a alvitrar que o Partenon, e algumas ilhas gregas
no Egeu, fossem vendidas para evitar a bancarrota.
"Os que estão insolventes devem vender o que possuem para pagar aos seus
credores", disseram ao jornal "Bild". Depois disso, surgiu no seio do
executivo a ideia peregrina de pôr um comissário europeu a fiscalizar
permanentemente
as contas gregas em Atenas.
O historiador Albrecht Ritschl, da London School of Economics, recordou
recentemente à "Spiegel" que a Alemanha foi o pior país devedor do século
XX. O economista destaca que a insolvência germânica dos anos 30 faz a
dívida grega de hoje parecer insignificante.
"No século XX, a Alemanha foi responsável pela maior bancarrota de que há
memória", afirmou. "Foi apenas graças aos Estados Unidos, que injectaram
quantias enormes de dinheiro após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial,
que a Alemanha se tornou financeiramente estável e hoje detém o estatuto de
locomotiva da Europa. Esse facto, lamentavelmente, parece esquecido",
sublinha Ritsch.
O historiador sublinha que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais, a
segunda de aniquilação e extermínio, e depois os seus inimigos perdoaram-lhe
totalmente o pagamento das reparações ou adiaram-nas.
A Grécia não esquece que a Alemanha deve a sua prosperidade económica a
outros países.
Por isso, alguns parlamentares gregos sugerem que seja feita a contabilidade
das dívidas alemãs à Grécia para que destas se desconte o que a Grécia deve
actualmente.
Sérgio Soares, jornalista português
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