sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Pois . . . Bertolt Bretch !
Para além da austeridade aplicada ao português comum os funcionários públicos tiveram um corte de 10% do vencimento, pagam mais contribuições,
tiveram maiores penalizações no caso das reformas antecipadas e perderam dois subsídios.
Qual foi a posição de quase todos os que agora protestam e acusam o governo de brutalidade?
Ficaram calados, optaram pelo cinismo de ficarem em silêncio pensando que se sacrificavam alguns portugueses e os outros se escapavam.
Mas mais uma vez temos que recordar o famoso poema de Bertolt Bretch:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
Por cá enquanto a austeridade atingiu os funcionários públicos ninguém se importou, quando se aumentaram os impostos sobre o consumo dos mais pobres ninguém se importou, quando se aumentaram os passes sociais e se cortaram nas prestações sociais ficaram calados, quando os professores começaram a ser despedidos em massa ninguém protestou, mas agora que a brutalidade da austeridade chegou sob a forma de meia dose aos jornalistas, aos advogados e a muitos opinion maker aqui del Rei que a austeridade é demais.
Os funcionários públicos podiam perder o equivalente a 3,4 vencimentos que não havia problema, estava tudo a correr sobre rodas, mas quando os outros têm de pagar o equivalente a um vencimento é o ai Jesus que o país já não aguenta mais austeridade, até parece que até aqui tudo estava a correr bem e que a austeridade estava a ser ministrada em doses equilibradas e de forma inteligente e competente.
Muitos idiotas não perceberam o golpe que estava em curso, que os que se queixavam de que os custos salariais não pretendiam corrigir o suposto problema através do IVA ou do IRS, precisavam de um truque para roubar aos trabalhadores e entregar aos patrões. Sem o ouro do Brasil, sem os pretos de África, sem os apoios e proteccionismo da EFTA e acabados os subsídios de Bruxelas os nossos xulos só tinham uma forma de continuar a alimentar este capitalismo corrupto, os trabalhadores. Os que pensavam que se sacrificavam os funcionários públicos numa noite dos cristais e tudo estava resolvido enganaram-se. E agora é tarde, um ano de bestialidade à solta levou a uma dívida bem superior, a um défice descontrolado e a níveis impensáveis de desemprego e de evasão fiscal, a austeridade vai chegar a todos e os que festejavam a desgraça da função pública perceberam tarde demais que também estavam na lista das vítimas destes fascistas de discoteca.
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