domingo, 3 de junho de 2012

Para reflectir . . .

       DISCURSO DO EMBAIXADOR MEXICANO

Um discurso feito pelo embaixador Guaicaípuro Cuatemoc, de
ascendência indígena, sobre o pagamento da dívida externa do seu país, o
México, embasbacou os principais chefes de Estado da Comunidade Europeia.

A Conferência dos Chefes de Estado da União Europeia,
Mercosul e Caribe, em Madrid, viveu um momento revelador e surpreendente:
os Chefes de Estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso
irónico, cáustico e historicamente exacto.

Eis o discurso:

"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40
mil anos, para encontrar os que a "descobriram" há 500... O irmão europeu
da alfândega pediu-me um papel escrito, um visto, para poder descobrir os
que me descobriram. O irmão financeiro europeu pede ao meu país o
pagamento, com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca
autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu explica-me que toda a dívida
se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e
países inteiros, sem lhes pedir consentimento. Eu também posso reclamar
pagamento e juros. Consta no "Arquivo da Companhia das Índias Ocidentais"
que, somente entre os anos de 1503 a 1660, chegaram a São Lucas de
Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata
provenientes da América.

Teria aquilo sido um saque? Não acredito, porque seria
pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!

Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer
que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.

Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos
caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que
afirmam que a arrancada do capitalismo e a actual civilização europeia se
devem à inundação dos metais preciosos tirados das Américas.

Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de
prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América
destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a
existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a
devolução, mas uma indemnização por perdas e danos.

Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.

Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o
início de um plano "MARSHALL MONTEZUMA", para garantir a reconstrução da
Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos,
criadores da álgebra e de outras conquistas da civilização.

Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos
perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo
menos produtivo desses fundos?

Não. No aspecto estratégico, delapidaram-nos nas batalhas de
Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias outras formas
de extermínio mútuo.

No aspecto financeiro, foram incapazes - depois de uma
moratória de 500 anos - tanto de amortizar capital e juros, como de se
tornarem independentes das rendas líquidas, das matérias-primas e da
energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.

Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman,
segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar, o que nos
obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos
juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos para
cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de
nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30%
de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo.

Limitar-nos-emos a exigir a devolução dos metais preciosos,
acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300
anos, concedendo-lhes 200 anos de bónus. Feitas as contas a partir desta
base e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, concluimos, e disso
informamos os nossos descobridores, que nos devem não os 185 mil quilos de
ouro e 16 milhões de quilos de prata, mas aqueles valores elevados à
potência de 300, número para cuja expressão total será necessário expandir
o planeta Terra.

Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculados
em sangue?

Admitir que a Europa, em meio milénio, não conseguiu gerar
riquezas suficientes para estes módicos juros, seria admitir o seu absoluto
fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos
capitalistas.

Tais questões metafísicas, desde já, não nos inquietam a
nós, índios da América. Porém, exigimos a assinatura de uma carta de
intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente na obrigação
do pagamento da dívida, sob pena de privatização ou conversão da Europa, de
forma tal, que seja possível um processo de entrega de terras, como
primeira prestação de dívida histórica..."



Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da
Comunidade Européia, Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo uma
tese de Direito Internacional para determinar a verdadeira Dívida Externa.

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