Os bonequitos lá partiram, saltitando alegremente, pelos trilhos da inocência, à procura das cores que melhor ilustrassem a tela que levavam debaixo do braço. Uns com melhor sorte, outros com maior dificuldade, foram experimentando as tonalidades de uma vida ainda sem côr, com mil promessas no olhar, cheios de esperança, cheios de ilusões.
Passou-se o tempo e os bonecos cresceram. Nas telas já surgiam vários traços, daquilo que viriam a ser as obras encomendadas pelo Mestre. Eram sonhos de cristal, em corações de prata, aguarelas de mil cores, na constante mutação dos tons, eram o Sol em posição vertical!
Lentamente, os anos foram passando. Os rabiscos inocentes deram lugar a traços complexos, a mistura de cores capazes de confundir a observação atenta de qualquer mestre. Alguns começavam a duvidar da sua capacidade para completar a pintura. Havia já pouco espaço na tela e pareciam dizer: Estamos perdidos!
Um dia, muito suavemente para uns, de repente para outros, os bonecos deram conta de que a corda que o Escultor lhes dera estava a acabar e assustaram-se. Lembraram-se que Ele lhes tinha falado em limite de tempo. E agora? Era altura de olhar o quadro e rever os detalhes. Que côr deveriam ter posto ali? Que pincel utilizado acolá? Já não havia tempo, tinham de regressar e, de tela ao peito, os bonecos, enfrentaram o Escultor murmurando: Mestre, um dia pediste-nos para pintarmos um quadro. Aqui o tens! Foi o melhor que soubemos fazer.
O Artista olhou-os um por um e disse: Não estão nada mal, cada um de vós trouxe-me um original. Vou ter de analisar obras de arte até à eternidade mas, até lá, vou continuar a fazer bonecos.
Carla Caetano
Outubro de 1999
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