quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
MOMENTOS DE MAGIA . . . À Beira Mar
Do meu posto de vigia, junto ao mar, não vejo só cantores aflitos. Por vezes, também assisto a momentos de magia e nem sempre a minha leitura é um momento de concentração porque os sons que vêm da esplanada acabam por desviar a minha atenção para o que se passa à minha volta.
Em frente ao banco onde me sento, existe um muro que protege a esplanada da falésia e aí costumam poisar as pombas que observam com algum desdém o voo picado e gracioso das gaivotas. Incapazes de maiores proezas preocupam-se em procurar alimento deixado ao acaso por quem passa.
Atrás de mim, na esplanada, estava um casal com uma filha pequena e em cima do muro tinha pousado uma pomba que sem se atrever a voar, pelo espaço aberto que tinha à sua frente, como as destemidas gaivotas, se debruçou no muro de cabeça para baixo, em perfeito equilíbrio mas, para quem olhasse, numa posição de autêntico suicídio. Foi o que deve ter parecido à pequenita que disse aflita para o pai:
-Pai, pai, olha, a pomba vai cair!
O pássaro alheio à aflição da menina esticava o pescoço para fora do muro, espreitando, talvez, alguma lagartixa que por ali andasse a tomar banhos de sol.
Numa atitude de puro divertimento o pai resolve brincar com a filha e diz num jeito teatral:
Ó pomba, não! Não faças isso, pensa nos teus familiares, pensa nas pessoas que gostam de ti.
A pomba recuou na sua posição e entreteve-se a procurar umas migalhas que estavam caídas por ali.
A menina ria-se encantada e não tirava os olhos do animal. Regressei à leitura e passados alguns momentos voltou a menina ao seu chamamento aflito:
Pai, pai, olha a pomba!
E o pai voltou a brincar, vendo que o pássaro tinha voltado à sua posição suicida.
Ó pomba, não! Não faças isso, há sempre uma solução, pensa nos teus amigos, não!
E a ave voltava para trás, naturalmente, cansada da posição em que se encontrava, saltitando à procura de alimento.
A menina ria-se agarrada ao braço do pai, a mãe sorria feliz e o mágico, esse, estava encantado com os momentos de alegria que proporcionava à sua filhota. Esta, provavelmente, iria guardar na sua memória, as palavras mágicas do pai, num certo passeio a Cascais.
Eu, sorria para mim, pensando naquele momento de uma família em perfeita harmonia.
E continuo a acreditar que são estes pequenos momentos que fazem de nós pessoas felizes.
Todos os dias, à hora do almoço, do meu posto de vigia, eu vejo a vida acontecer!
Carla
Outubro 2007
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