sexta-feira, 22 de novembro de 2019
Ao ZMB
Porque os outros se mascaram mas tu não
E o poema faz falta na cidade
lembro os dias do sonho imaginário
presidindo ao improviso generoso
por esse país fora feito estrada
e todos nós em busca da verdade
O motivo era mais do que um aviso
era levar a palavra que é preciso
erguer o sonho e largar a barricada.
De tudo o que sobrou, tenho a memória
cá dentro - junto à tal inquietação
q foi tudo justo e bom, lindo e sentido;
e que hoje escreveria a mesma historia
repetindo mil vezes essa opção
mãos livres, peito aberto – esse o partido.
Tal o encanto, que não ficou um recanto
Onde faltasse a força desse canto
Que levámos em canções e poesia
A tantos sítios remotos onde se ia…
Inventámos os palcos onde fomos
truões e avisadores do q é preciso
a troco tantas vezes dum sorriso
simples sentir duma pátria convivida
selando contas de estrada e paraíso
com um almoço e um abraço à despedida
Do arrepio e das achas q acendemos
outros ganhos, outros cargos, outra gente
tomou conta, devagar e bem diferente
dos valores, decisões, gostos e fama.
Frívolas gentes, medíocres passatempos
Nos anestesiam até irmos para a cama
Desse tempo em q as vozes gritavam com paixão
Deixou de haver encanto e coragem na canção
Hoje vejo os amigos que sobraram
Lutando com armas tão magras, desiguais
Como nunca noutro tempo acreditaram
Para mim, sinto ainda no meu peito
os milhares de abraços e palavras
e às vezes aplausos - sempre demais -
q ao longo desta vida fui colhendo...
e isso basta-me, q não preciso mais.
Mas, a cada um q parte, outro envelhece;
e como outro espaço maior não aparece
sobra a ironia que nos vai cabendo;
Ficam o sonho, o recado, os ideais...
pois é.
mas os cantores de Abril… lá vão morrendo.
Pedro Barroso
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