sábado, 29 de janeiro de 2011

Darrell Issa , afaste-se das corporações ! Milhões de norte-americanos contraem doenças transmitidas por alimentos todos os anos.

OPINIAO | 29 JANEIRO, 2011 - 01:00 | POR AMY GOODMAN

Lembram-se das “freedom fries” ou “batatas-fritas da liberdade”? Esse foi o nome que os deputados republicanos, na última vez em que foram maioria, deram às batatas fritas (que em inglês se chama “french fries”), logo após a França negar o apoio à invasão do Iraque. Parece que renomear batatas será a única matéria que alguns no Congresso estão dispostos a apoiar, em termos de regulamentação alimentar.

A nova maioria republicana ameaça dar início a uma enxurrada de investigações. O congressista republicano pela Califórnia Darrel Issa é o novo presidente do Comité de Controlo e Reforma do Governo. Issa vem divulgando no seu twitter informações sobre os assuntos que pretende investigar: “Lista de investigações de controlo iniciais e contínuas: as fugas da WikiLeaks, a segurança alimentar e dos medicamentos dos Estados Unidos e a eficácia das retiradas de produtos do mercado por parte da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA na sigla em inglês)...”

O momento escolhido para anunciar que controlará a segurança alimentar foi impecavelmente oportuno. Exactamente um dia antes de o presidente Obama promulgar, segundo estava previsto, a Lei de Modernização da Segurança Alimentar da FDA, um dos últimos projectos de lei aprovados pela câmara baixa antes de o Congresso iniciar o recesso no final de Dezembro. A nova lei outorga à Administração de Alimentos e Medicamentos autoridade para ordenar a retirada de produtos do mercado, entre outras faculdades orientadas a proteger os cidadãos dos EUA de doenças transmitidas pelos alimentos. Ainda que duvidem, até ao presente momento, a FDA podia recomendar a retirada de mercado, mas não ordená-la.

A nova lei não vai chegar a tempo, no entanto, para ajudar a Shirley Mae Almer, que morreu em 21 de Dezembro de 2008, após ser infectada por salmonela, que contraiu ao consumir manteiga de amendoim. Almer e pelo menos outros oito morreram devido a uma doença provocada pela manteiga de amendoim King Nut e outros produtos feitos a partir de amendoins estragados da Peanut Corporation of America. Dois anos se passaram desde a morte de Almer, e a sua família acaba de conseguir entrar com uma acção no tribunal federal. Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, como sigla do seu nome em inglês) informam que ao menos 714 pessoas contraíram a enfermidade durante esse intervalo em 46 estados. A CDC disse que milhões de pessoas contraem doenças transmitidas por alimentos todos os anos, levando 128 mil a hospitais e matando outras três mil. É mais de oito pessoas por dia.

A Associação Americana de Saúde Pública, membro da coligação pela segurança alimentar Make Our Food Safe, celebrou a nova lei que, segundo diz: “Finalmente começará a ocupar-se dos perigosos vazios que tem deixado o lamentavelmente obsoleto sistema de segurança alimentar do nosso país.” Porém não é por um projecto ter sido promulgado e transformado em lei que será financiado. Os republicanos do Congresso ainda podem impedir o financiamento (como parece que vão fazer com alguns artigos da lei de reforma do sistema de saúde aprovada no ano passado). O congressista republicano Jack Kingston, da Georgia, membro do Subcomité de Gastos da Câmara de Representantes que financia a FDA, declarou ao The Washington Post: “Ninguém quer que as pessoas adoeçam, e deveríamos esforçar-nos sempre por garantir que os alimentos sejam seguros. No entanto, isso não é motivo para um gasto 1,4 mil milhões de dólares.”

Sério? É um consolo saber que Kingston não quer que ninguém adoeça, mas isso não altera o facto de que milhões de pessoas estão sim a adoecer. Quando se trata de segurança alimentar, assim como da segurança aérea, segurança mineira, ou de qualquer indústria, as regulamentações salvam vidas.

Mas, segundo informou o jornal Politico, Darrel Issa enviou cartas para 150 associações comerciais, companhias e grupos especializados pedindo que a aconselhem sobre quais regulamentações deve investigar. Um fragmento da carta, que foi publicada pelo NBC News, diz: “Solicito a sua colaboração para identificar aquelas regulamentações existentes ou propostas que tenham trazido um impacto negativo ao crescimento da taxa de emprego dentro da actividade industrial dos seus membros. Agradeço também sugestões para a reforma das regulamentações identificadas e do processo legislativo.”

O foco de Issa é parecido com o do novo chefe do Comité de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes, o congressista Spencer Bachus, do Alabama. Bachus declarou ao jornal The Birmingham News que: “Em Washington, a opinião é que se deve regulamentar os bancos; na minha opinião, Washington e os reguladores deveriam estar a serviço dos bancos.”

Deve estar claro agora porque a Câmara de Comércio dos Estados Unidos e as corporações que a integram puseram tanto dinheiro nas eleições. Uma nova pesquisa realizada pelo grupo Union of Concerned Scientists revela que muitos cientistas e pesquisadores do governo crêem que os interesses corporativos estão a minar a segurança alimentar no país.

Darrell Issa é o deputado mais rico da Câmara de Representantes e conta com um património líquido de pelo menos 160 milhões de dólares, que ganhou com o sistema de alarmes de carros Viper, esse que diz a todo volume (com a voz do próprio Issa): “Afaste-se do carro.”

Senhor Presidente do Comité Darrel Issa, proteja os norte-americanos, afaste-se das corporações.

6 de Janeiro de 2011

Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.

Texto em inglês traduzido por Fernanda Gepe, editado por Gabriela Díaz Cortez y Democracy Now! em espanhol.

Texto em espanhol traduzido por Rafael Cavalcanti Barreto, revisado por Bruno Lima Rocha, blog Estratégia & Análise

Sobre o autor


Amy Goodman
Co-fundadora da rádio Democracy Now, jornalista norte-americana e escritora.

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