terça-feira, 25 de março de 2014

Como a medicina da doença funciona





Aos 30 anos, você apresenta uma depressãozinha, uma tristeza meio persistente e a prescrição médica é FLUOXETINA. A Fluoxetina dificulta seu sono, então, prescreve-se CLONAZEPAM, mais conhecido como Rivotril. O Clonazepam o deixa meio abobado ao acordar e reduz a capacidade de sua memória.

Você volta ao doutor e ele nota que seu peso aumentou. Aí, prescreve SIBUTRAMINA. A Sibutramina o faz perder alguns quilinhos, sim, mas lhe traz uma taquicardia meio incômoda. Novo retorno ao doutor. Além da taquicardia, ele nota que você também está com a pressão alta. Então, prescreve-lhe LOSARTANA e ATENOLOL, este último para reduzir a taquicardia.

Você, agora aos 35 anos, já toma: Fluoxetina, Clonazepam, Sibutramina, Losartana e Atenolol. E, aparentemente adequado, um polivitamínico também lhe é prescrito. Como o doutor não entende nada de vitaminas e minerais, manda que você compre um“POLIVITAMÍNICO DE A a Z” da vida, que pra muito pouca coisa serve. Mas, na TV, Luciano Huck disse que esse produto é ótimo e você acredita. Corre pra farmácia, compra e começa a tomar imediatamente.

Lamentável! Já se vão 350 reais por mês. Pode pesar no orçamento. O dinheiro a ser gasto em investimentos e lazer, é desviado para os dutos da indústria farmacêutica. Você começa a ficar nervoso, preocupado e ansioso – apesar da Fluoxetina e do Clonazepam – pois as contas não fecham no fim do mês.

A preocupação lhe traz dor de estômago e azia. Seu intestino fica preso. Procura outro médico. Prescrição: OMEPRAZOL +DOMPERIDONA + LAXANTE NATURAL. Os sintomas desaparecem. Mas, só os sintomas, pois sua flora intestinal está aos frangalhos.

Outras queixas aparecem. Dentre elas, uma é particularmente perturbadora: aos 37 anos você não tem mais potência sexual. Além de estar brochando com frequência, tem pouquíssimo esperma e a libido está em baixa. Literalmente, em baixa. Mas, para o doutor da medicina da doença, isso não é problema. Ele até te deixa à vontade para escolher o remédio: SILDENAFIL, TADALAFIL, LODENAFIL ouVARDENAFIL. Escolha por pim-pam-pum. É esse! Sua potência sexual melhora, mas, como consequência, esses remédios provocam uma tremenda dor de cabeça, além de palpitação, vermelhidão e coriza. Sem problema. O doutor aumenta a dose do Atenolol e passa uma NEOSALDINA para você tomar antes do sexo. Se precisar, receita um remedinho para ser instilado nas narinas e estancar a coriza, que sobrecarrega seu coração.

Quando tudo parece solucionado, aos 40 anos, você percebe que seus dentes estão apodrecendo e caindo. Aí aparece o dentista e tome grana pra gastar com ele!

Nessa mesma época, outra constatação: sua memória está falhando, bem mais que o normal para a idade. Mais uma vez, para seu doutor, isso não é problema: GINKGO BILOBA é a solução.

Nos exames de rotina, sua glicose está em 110 e seu colesterol em 220. Novo receituário: METFORMINA + SINVASTATINA. “É pra evitar diabetes e Infarto”, diz o cuidador de sua saúde(?).

Pouco mais de 40 anos e você já toma: Fluoxetina, Clonezapam, Losartana, Atenolol, Polivitamínico de A a Z, Omeprazol, Domperidona, Laxante Natural, Sildenafil, Neosaldina (ou simplesmente “Neusa”, como é chamada), Ginkgo biloba, Metformina e Sinvastatina. Ufa! Convenhamos, tudo isso está muito longe de ser saudável, além de amargar o gasto de mais de mil reais por mês! E pior, sem saúde! Mas você ainda continua deprimido, cansado e engordando.

Aí, você retorna ao médico. Ele, então, troca a Fluoxetina por DULOXETINA, um antidepressivo mais moderno.

Após dois meses você se sente melhor, ou, pra ser mais exato, um pouco menos ruim que antes.

Um outro contratempo, no entanto, surge: o novo antidepressivo deixa sua micção demorada e com jato fraco. Passa a ser necessário levantar duas vezes à noite para ir ao banheiro. Lá se foi seu sono, seu descanso, tão importante para sua saúde. Mas o doutor – novamente ele! – entra em ação e prescreve TANSULOSINA, para melhorar a micção. Realmente, melhora, mas... você, coitado, não ejacula mais! Não sai nada!

Vou parar por aqui. É deprimente. Isso não é medicina. Isso não é saúde. Essa história termina com uma situação cada vez mais comum: a derrocada em bloco da sua saúde.

Você está obeso, sem disposição, com sofrível ereção, memória e concentração deficientes, diabético, hipertenso e uma suspeita de câncer já foi levantada. O peso elevado escangalhou seu joelho e um ortopedista chegou a sugerir a colocação de uma prótese.

Surge, então, na sua cabeça a idéia maluca de procurar um cirurgião bariátrico para fazer uma redução de estômago, que poderá te permitir um emagrecimento milagroso em curto espaço de tempo. Paralelamente aos preparativos cirúrgicos, um psicoterapeuta é indicado para cuidar de seu juízo destrambelhado.

A essa altura, você já está sem dinheiro, triste, ansioso, deprimido, pensando em dar fim à sua minguada vida. E doente, muito doente! Apesar da batelada de remédios (ou por causa deles!).

A indústria farmacêutica? Ah! Vai bem, obrigado! Cada vez mais com sua valiosa contribuição por anos e décadas. E o seu doutor? Também vai bem, obrigado! Graças às suas doenças (ou às doenças plantadas passo-a-passo em sua vida).

Sem comentários: