segunda-feira, 15 de maio de 2017
Salvador Sobral - Presságio de Fernando Pessoa
O AMOR, QUANDO SE REVELA
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
.
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
.
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
.
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
(1928)
*
Júlio Resende ao Piano
*
FERNANDO PESSOA, in POESIAS INÉDITAS (1919-1930). (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) [ Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990)]
https://www.youtube.com/watch?v=ZpFsBf4D7LQ
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