quarta-feira, 22 de setembro de 2021

NEGACIONISMOS & OUTROS ESTIGMAS


Paulo Figueiredo


- A acabar de ver um magnifico programa na RTP 2 acerca da grande escritora norte-americana Toni Morison, que descreveu como ninguém lancinantes estórias da História do racismo nos Estados Unidos da América. Sim, há menos de 60 anos atrás havia, no país (dito) mais desenvolvido do mundo, transportes, casas de banho, hotéis, escolas, etc, diferenciadas para “brancos” e “de cor”. Nessa altura, quem defendesse que pessoas negras eram iguais a pessoas brancas eram chamadas de “negacionistas” – porque negavam o valor dominante da supremacia branca. Em Portugal, durante a ditadura, quem protestasse contra a repressão era chamada “do contra” – eram os negacionistas da virtude da tétrade “Deus, Pátria, Família, Autoridade”. Nas colónias, quem lutasse contra o poder imperial era chamado de “turra”, abreviatura de “terrorista” – eram os negacionistas da afirmada bondade secular do colonialismo da ocupação da terra alheia. Exemplos não faltam, incluindo no cenário da evolução da Ciência: evidentemente, Galileu era negacionista do geocentrismo, Newton negacionista das explicações clássicas do movimento dos corpos e de muito mais. E por aí além: a História não existiria sem negacionismos.
- A forma abjecta como é citada nos media – e pelos politiqueiros que nos entram todas as noites em casa pela televisão – qualquer crítica / oposição às estratégias ditadas pelas autoridades político-sanitárias de combate à COVID-19 é absolutamente revoltante. Ao invés de se procurar a clarificação das razões e dos argumentos que movem cada uma das posições – e relembre-se que insignes personalidades científicas de todo o mundo, incluindo Prémios Nobel, estão frontalmente contra o modo como se lidou com a pandemia -, opta-se por etiquetar de “negacionista” quem questiona o confinamento e a cessação (e repressão) dos direitos individuais. Como um anátema, uma excomunhão, um insulto, um estigma, uma marca. Como se fosse uma espécie de crime. Em muitas dessas cabeças suspira-se por uma polícia que puna tais “actos criminosos” – para dar “porrada a sério” nesses “perigosos” resistentes. Poderá ser secreta e chamar-se de PIDA - DGS: Polícia Internacional de Defesa do Aceitacionismo. A sigla “DGS” toda a gente sabe o que quer dizer.
- Parece que o ex Director Geral da Saúde, Francisco George, desafiou Fernando Nobre para um debate na sequência das intervenções críticas deste relativamente à gestão do lidar com a crise epidemiológica. Acho muito bem. Para quem, como eu, trabalha em/com Ciência desde há várias décadas, o mais chocante disto tudo foi/é a prática ditatorial que procurou criar a ideia de um falso unanimismo científico, com a perseguição implacável a quem contestasse a verdade oficial, por mais brilhante que fossem o seu curriculo e prática centíficos. Havia que impedir o debate a todo o custo – não fossem as massas começar a questionar. Pensavamos muitos de nós que tal pertencia ao passado, antes do advento da Democracia e do respeito pela diversidade de opiniões. Éramos ingénuos. E pagamos com a maior riqueza que temos, a Liberdade.

 

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