quarta-feira, 20 de outubro de 2021



Há 10 anos, em 20 de outubro de 2011, o líder socialista Muammar Kadhafi era capturado e assassinado por tropas rebeldes apoiadas pelas potências ocidentais durante a Guerra Civil da Líbia.





Pensar a História
3 de novembro de 2020 ·

Muammar Kadhafi (1942-2011), revolucionário e teórico socialista, líder da Revolução de 1º de Setembro e chefe de Estado da República Líbia entre 1969 e 2011.
Muammar Kadhafi nasceu em 7 de junho de 1942 na cidade de Abu Hadi, em uma família de beduínos pobre. Tornou-se um nacionalista de tendências socialistas ainda na juventude, durante seus estudos em Saba. Após ingressar na Academia Militar de Bengazi, Kadhafi fundou um grupo revolucionário que fazia forte oposição à dinastia Senussi, criticando a submissão dos monarcas líbios aos interesses econômicos e políticos das potências ocidentais. Em 1969, Kadhafi liderou a Revolução de 1º de Setembro, depondo o rei Idris I e fundando a República Árabe da Líbia. A revolução contou com apoio massivo da população líbia, descontente com a corrupção, disputas tribais, interferências externas, crises econômicas e problemas sociais que marcavam o país.
Sob o comando de Kadhafi, a Líbia inaugurou um regime político baseado no socialismo islâmico. Kadhafi nacionalizou a indústria de petróleo e estatizou setores estratégicos da economia, utilizando as receitas do setor petrolífero para criar a mais abrangente rede de proteção social do continente africano. O governo líbio passou a garantir moradia gratuita para todos os habitantes e implementou sistemas universais de saúde pública e educação, além de programas de distribuição de renda e alimentação. Em 1973, iniciou a Revolução Popular, criando os Congressos Populares de Base, um sistema de democracia direta e autogestão, onde o povo tomava decisões autônomas em nível regional, sem a intermediação do governo. O sistema, chamado "Terceira Teoria Universal", visava a implementação de uma alternativa ao capitalismo, misturando princípios do socialismo islâmico, do titoísmo, do pan-africanismo e do pan-arabismo. No campo das relações exteriores, Kadhafi expulsou as bases militares ocidentais e fortaleceu os vínculos entre a Líbia e os governos árabes nacionalistas.
Durante o governo de Kadhafi, a Líbia experimentou períodos de grande crescimento econômico e forte desenvolvimento social, além de se tornar o país com a menor dívida pública do mundo. Paralelamente, a distribuição de renda e os abrangentes programas sociais fizeram da Líbia a nação com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África. O país também registrou um significativo aumento da participação das mulheres na vida pública e aprovou uma das legislações antirracistas mais avançadas do continente.
Malgrado os avanços, a Líbia foi objeto de fortes pressões externas, intervenções e inúmeras sanções internacionais desde os anos oitenta. Em 1986, o país foi bombardeado por uma frente formada por Estados Unidos, Reino Unido e Israel e sofreu sanções da ONU, motivadas por acusações de que estaria fomentando o terrorismo internacional. A Líbia foi novamente ameaçada de invasão por George W. Bush durante a segunda Guerra do Iraque, sob a alegação de que estaria escondendo armas de destruição em massa. Kadhafi respondeu às acusações convidando inspetores da ONU a visitarem as instalações militares do país.
O mandatário líbio voltou a irritar o Ocidente quando anunciou a intenção de seguir os passos de Saddam Hussein - que havia tentado substituir o uso de petrodólares em suas transações internacionais antes de ser deposto e morto pelos Estados Unidos. Kadhafi sugeriu criar uma nova moeda internacional, o dinar de ouro, para utilizar nas transações internacionais entre o países produtores de petróleo da África e do Oriente Médio, abolindo o uso do euro e do dólar na região. Pouco tempo depois, seu governo tornou-se alvo de grandes protestos que escalonaram rapidamente para o uso da violência. Estados Unidos e países europeus acusaram Kadhafi de cometer "crimes contra a humanidade" ao reprimir manifestantes. Em agosto de 2011, a Corte Penal Internacional emitiu um mandato de prisão contra Kadhafi. Alegando razões humanitárias, Estados Unidos e seus aliados da OTAN intervieram diretamente na Guerra Civil Líbia, submetendo o país a intensos bombardeios e tomando a capital, Trípoli.
Em em 20 de outubro de 2011, após 8 meses de conflito, Kadhafi foi capturado e morto por opositores, apoiados pelas potências ocidentais. A intervenção do Ocidente deixou dezenas de milhares de civis mortos, fez colapsar as instituições e destruiu toda a infraestrutura do país - outrora o mais próspero do continente. A Líbia vive desde então mergulhada em uma guerra civil e sofre com múltiplos conflitos tribais. O país enfrenta um cenário de completa anomia política e total ausência do Estado de direito, registrando-se até mesmo o retorno de práticas que haviam sido banidas há décadas, como a venda de escravos subsaarianos.

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