quinta-feira, 4 de novembro de 2021
G20 e COP26: WYSIWYG
por Max
Se há uma coisa que dói é falar mal do ambientalismo porque a atenção em relação ao planeta e tudo o que for natural deveria ser o único dogma inviolável. Temos um planeta só, cheio dum sem número de formas de vida, todas maravilhosas. Excepto os mosquitos, claro.
Ao mesmo tempo, é um assunto terrivelmente sério mas aborrecido também: já falámos disso muitas vezes no passado, não há algo verdadeiramente novo. Então, repetir as coisas para quê?
Tomem isso como um artigo "devido" por uma questão de princípio. E depois não esqueçam que está a decorrer o mítico COP26, onde indivíduos que não estão minimamente interessados na ecologia enchem-se a boca com recomendações pró-Natureza. Ridículo, não é? Não: normal.
Jactos, jactos, jactos!
Na cimeira do G-20 em Roma, pudemos assistir a uma farsa sem paralelo representada pelos protagonistas e actores que apoiam as classes dirigentes dos Países mais importantes. O tema central da conferência foram as alterações climáticas e o Aquecimento Global, questões aparentemente filantrópicas às quais as classes dirigentes do mundo ocidental e não só estão a dedicar-se. O lema é "criar um planeta mais sustentável e mais justo". Tudo muito bonito. Em teoria. Porque a realidade é um pouco diferente.
Todas aquelas pessoas viajaram até a capital italiana nos seus aviões a jacto para entregar a mensagem e pontificar sobre como todos nós estamos a danificar o planeta com o nosso desperdício e a indiferença para com o ambiente. Estes grandes homens e mulheres da Terra foram ouvidos queixarem-se do flagelo das emissões industriais e do dióxido de carbono enquanto os seus 400 jactos privados poluíram duma forma brutal. Comeram as suas refeições de cinco estrelas, provando iguarias, enquanto nos seus discursos convidaram as massas a comer alimentos substitutos (culturas OGM e insectos), a não ligar o aquecimento ou o ar condicionado, a não utilizar o carro e a comprometer-se a comer menos carne.
O objectivo é mudar o comportamento para lidar com o desastre das alterações climáticas. Objectivo que é para nós, não para eles. Ninguém quer que os representantes ocidentais viajem de bicicleta ou comam uma sande de fiambre e queijo (que, em qualquer caso, nunca matou alguém). Mas entre uma pedalada e um jacto privado não haverá um meio termo?
É normal que o Presidente dos EUA, ZomBiden, chegue em Roma com 85 carros, incluindo o seu Cadillac One, um monstro movido por um motor V8 de 8.100 cc. que engole entre 29 e 64 litros de gasolina por cada 100 quilómetros? Ok, o Presidente tem que ser protegido, mesmo que seja ZomBiden... mas os outros 84 carros?!? Isso enquanto os veículos que as pessoas comuns utilizam em breve serão banidos devido ao poder poluente. Paragem obrigatória no Vaticano para encontrar Papa Francisco, aquele da Cruzada com Lady Rothschild. Cruzes, fotografias e aplausos.
Uma vez terminada a cimeira, a caravana deslocou-se para Glasgow, na Escócia, rigorosamente nos 400 jactos privados que poluem um pouco aqui e um pouco aí quando a recomendação dos participantes na cimeira é não voar frequentemente, conduzir menos e substituir os carros por bicicletas. 400 jactos privados que emitem 13.000 toneladas de dióxido de carbono, excedendo a média de emissões de 1.600 escoceses durante um ano inteiro, de acordo com uma estimativa do Sunday Mail.
Diz John Kerry, o enviado para o clima da Administração Biden:
Com o tempo que levo para chegar a algum lugar, não posso navegar através do oceano. Preciso de voar, conhecer pessoas e fazer coisas. Se compensares o teu carbono, é a única escolha para alguém como eu que viaja pelo mundo para ganhar esta batalha.
Não, não disse isso enquanto explodia em gargalhadas, aparentemente era sério. A lógica é: para combater o CO2 é preciso emitir mais CO2. De dar o exemplo nem se fala, ora essa.
Pegamos na Presidente da Comissão Europeia, a simpática Ursula von der Leyen que chegou a Glasgow num jacto privado. Como realça o diário britânico The Telegraph, a von der Leyen utilizou o jacto privado em 18 das 34 viagens oficiais feitas até agora, incluindo uma entre Viena e Bratislava: uma distância, entre descolagem e aterragem, de cinquenta quilómetros. Uma hora de comboio, até menos. Quanto terá ganho em termo de tempo?
Pegamos no Primeiro Ministro Boris Johnson: como explica o Daily Mirror, Johnson regressou a Londres na Terça-feira à noite a partir de Glasgow, com pressa, também a bordo de um voo privado; e fê-lo para assistir a um jantar não institucional para o qual tinha sido convidado por parte dum clube de antigos colegas jornalistas. No jantar Johnson terá conseguido compensar as suas emissões? Acreditamos que sim.
A realidade? Bem simples: os jactos são uma expressão de poder. As pessoas da classe dominante vivem numa dimensão de luxo, voam e viajam para todos os cantos do globo, consomem bens de alto valor e utilizam os serviços mais caros: preocupam-se com o nosso consumo, com os gastos das massas empobrecidas e pregam sobre a nossa mudança de comportamento. Querem reduzir as emissões de carbono em pelo menos 30%, dizem, em todo o planeta dentro de poucos anos, forçando os Países em desenvolvimento a deixar de utilizar combustíveis fósseis, petróleo e gás e a mudar para fontes alternativas, parques eólicos e carros eléctricos. Quem proporcionará os sistemas para a exploração das fontes alternativas? Não é dito. Mas nós temos uma ideia.
Estranho, porém, que o Presidente Biden tenha recentemente aumentado as exportações de carvão para a China em cerca de 900%, e ainda mais estranho que os EUA pretendam limitar as importações de gás da Rússia e do Qatar e substituí-las por gás de xisto, produzido nos EUA utilizando um sistema altamente poluente de pilhagem ambiental.
Mas tudo isso não passa de pormenores, meros detalhes. E nem é novidade. Os problemas são outros.
Drenagem
Esta gente mente. Mente descaradamente. Não falamos aqui apenas dos dados acerca das alterações climatéricas.
La Repubblica publica maioritariamente artigos pagos mas as reportagens sobre G20 e COP26 são oferecidas como leitura gratuita (um acaso, obviamente, nada de tentativas de influenciar os Leitores). E assim reza o diário:
Uma reunião crucial, da qual emergiu uma estratégia precisa: apoiar os carros eléctricos de todas as formas possíveis. Carros que já são mais baratos de manter do que os que queimam combustíveis fósseis e que estão perto de uma mudança quando em breve serão mais baratos de comprar.
Já agora, os automóveis eléctricos no segmento premium de tamanho médio são competitivos em termos de custos com os veículos com motor de combustão interna em 17 Países europeus.
Os carros eléctricos são mais baratos de manter, em parte porque há pacotes de ajudas fiscais (meu pai, por exemplo, com o seu automóvel híbrido não paga o estacionamento no centro da cidade, paga menos impostos anuais, tem desconto no seguro...). Mas o grande problema dos automóveis eléctricos não é a manutenção, é o custo da aquisição. E o que artigo não diz é que os preços de todos os carros subiram brutalmente durante os últimos anos, em parte para limitar as diferenças entre modelos eléctricos (100% eléctricos e híbridos) e modelos de combustíveis fósseis (sempre bem mais baratos), em parte para compensar os maiores custos suportados pelas casas automobilísticas na compra dos acumuladores e renovação das linhas de produção. A chegada das motorizações "verdes" falsificou o mercado, empurrando todos os valores para cima.
A subida dos preços não atinge apenas os veículos dos privados mas também aqueles das empresas: e se juntarmos os recentes aumentos dos custos dos combustíveis (energia eléctrica incluída), fica simples entender como a "viragem verde" tenham um custo enorme suportado pelo consumidor final (que somos nós, caso haja dúvidas).
Assim, dum lado temos novos instrumentos financeiros (como os green bonds) para o capital, com anexos investimentos de dinheiro público; do outro lado temos preços ao consumo que sobem e que são inteiramente suportados pelo cidadão pela empresas menores.
É uma enorme operação de drenagem de dinheiro público, do público, nosso dinheiro. Riqueza que é alegremente atirada para as actividade de especulação: ganham os bancos com os empréstimos; ganham as grandes empresas com os novos investimentos; ganha a Bolsa com a especulação. O que ganha o cidadão ou o pequeno empreendedor? Menos CO2 e contas mais caras. E são satisfações.
A ideologia
Por aqui nem vamos falar das outras implicações desta drenagem. Seria possível falar de Nova Ordem Mundial e arredores, mas ficamos no âmbito do ambientalismo.
O ambientalismo é a ideologia perfeita para as elites ocidentais que encontram nele a possibilidade de criar um sentido de propósito moral urgente: estão a salvar o planeta, pensem que objectivo ecológico sublime! Um objectivo que pode ser utilizado magnificamente para criar uma nova emergência, a emergência climática, com a qual se justifica um enorme financiamento para a mudança industrial em prol da economia "verde", um projecto que proporciona milhares de milhões em lucros para grandes empresas transnacionais e da Grande Finança.
Tanto para ter uma ideia: falámos dos green bonds, certo? Os também conhecidos como climate bonds são instrumentos financeiros de rendimento fixo (obrigações) utilizados para financiar projectos que têm benefícios ambientais. Os green bonds são uma classe de activos novos, mas estão a crescer rapidamente: o volume total de obrigações climáticas foi estimado em 160 biliões de Dólares em 2016; em 2019 já tinham chegado aos 255 biliões de Dólares mas a partir daí o crescimento foi exponencial: já ultrapassaram 1.4 triliões e atingirão 2.36 triliões de Dólares até 2023. Um oceano de dinheiro, uma festa da qual ninguém quer ficar de fora: são estas as obrigações que financiarão a reconversão industrial e a nova colossal fonte de lucros para multinacionais e Finança. Estes são os interesses por detrás da "reviravolta ecológica".
Por detrás de tudo isto estão os vários partidos e movimentos "verdes". No entanto, há muito que se entendeu como estas organizações são autênticas lobbies de poder que extraem as suas origens na antiga aristocracia e nas elites dirigentes da classe cosmopolita. Este é um movimento que permite aos descendentes de famílias bancárias incrivelmente ricas dizerem a todos nós para mudar os nossos hábitos, ligar menos o aquecimento, mudar de carro, de comida...
Tudo isso tem custos. Já sabemos quem já agora tem que pagar a conta das conversões "verdes", do gás, da electricidade, do combustível cada vez mais caros. E nem será complicado obrigar a pagar mais no futuro: será suficiente espalhar o medo de uma "catástrofe climática", que os meios de comunicação já começaram a difundir repetidamente e obsessivamente.
Mais uma vez: nada disso é novidade. Nestas páginas já falámos da manipulação ambientalista, de como está a intensificar-se para convencer as pessoas da inevitabilidade de recorrer a sacrifícios. Até estou um pouco farto disso. Organizações como a Fundação Rockefeller, o Instituto Tavistock de Relações Humanas, a Fundação Carnegie, o M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology), o Centro de Investigação de Stanford, o Instituto Hudson, o Centro George Town para Estudos Estratégicos e mais ainda, incluindo a CIA e o insubstituível trabalho de propaganda de Hollywood e das suas estrelas altamente remuneradas para patrocinar a campanha de persuasão: é aqui que é dirigida a manipulação.
WYSIWYG
Mas como é que a maioria das pessoas não entende?
Em primeiro lugar: a maioria das pessoas não está interessada. Não que seja insensível, mas o ecológico é um assunto que sempre foi tratado "por alto", com medidas "invisíveis" no dia-a-dia. Isso até hoje, claro. O ambientalismo foi sempre algo deixado à boa vontade e aos proclamas dos partidos políticos. Normal: após uma vida passada a ouvir "gasta, compra, consome", quando os mesmos começam a dizer "gasta menos, poupa" não é possível levá-lo a sério.
Depois há o problema do WYSIWYG, expressão informática que significa "Aquilo que vês é o que tens". Muitos adoptam como verdadeira a imagem da realidade difundida pela comunicação social, ignorando ou até recusando a hipótese de possíveis tramas subjacentes. Aliás, quem hoje tenta descortinar algo é logo rotulado como "teórico da conspiração" por parte da mesma comunicação social. Não é algo inocente, faz parte duma conhecida técnica de manipulação mental. Mas, espantem-se: funciona!
Pelo que, a maioria vive no seu mundo WYSIWYG sem muitas perguntas incómodas, incapaz de imaginar algo diferente do que vê. Então não é difícil prever que a curto prazo o aperto do clima assumirá a forma de uma nova emergência, algo que permitirá ameaçar novamente os direitos dos cidadãos, impedindo comportamentos e forçando uma economia em declínio onde a produção é penalizada em favor de actividades de serviços ultra-tecnológicos e especulação financeira. De facto, será o prolongamento da emergência da "pandemia", apenas para manter as populações num estado de completa subjugação enquanto aguardam as medidas salvíficas emitidas pela governação mundial e pelos organismos supranacionais que ditam as directivas aos governos nacionais.
O povo WYSIWYG aderirá, não porque convencido mas porque atordoado, distante, cansado. Hipnotizado e resignado. Incapaz de ver mais além.
Aborrecida nota final
Voltamos a repetir mais uma vez, tanto para evitar possíveis acusações desprovidas de qualquer sentido por parte de Leitores ocasionais: não, Informação Incorrecta não apoia os combustíveis fósseis; e sim, acha que mudar é deveras preciso porque o nosso sistema tem que ser pesadamente corrigido (melhor ainda: reescrito). Há uma emergência ambiental mas não tem o nome de Aquecimento Climático. Chama-se poluição das fontes, dos rios, dos mares; chama-se desaparecimento de espécies animais; chama-se destruição de inteiros ecossistemas; chama-se exploração excessiva dos recursos naturais.
O dióxido de carbono é o último dos problemas. E permitir que a mudança seja conduzida pelos mesmos que até hoje mais lucro obtiveram a partir das maiores práticas poluidoras e anti-ecológicas é simplesmente ridículo, algo impensável numa sociedade minimamente séria. Possível e normal na nossa.
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