sábado, 26 de julho de 2014

"Lesboa": Marcelo e Ricardo Salgado



Henrique Raposo


A tempo e a desmodo

Henrique Raposohenrique.raposo79@gmail.com

"Lesboa": Marcelo e Ricardo Salgado

De vez em quando, meio a brincar, meio a sério, falo da existência de “Lesboa”, o bunker político-mediático da capital, a penthouseque abole as distâncias institucionais através de laços sociais. Este amiguismo é visível na relação entre instituições e na relação entre poder e comentadores. Exemplos? O caso BPN mostrou a natureza deste fenómeno em dois momentos. Em primeiro lugar, Vítor Constâncio e António Marta afirmaram que não desconfiavam de nada porque estavam a lidar com “pessoas distintas”. Como escrevi na altura, “Lesboa” é isto: os laços sociais entre “pessoas distintas” passam por cima de tudo, até do rigor institucional de um órgão regulador. Os laços de amizade ou de respeito social entre administradores do Banco de Portugal e administradores do BPN impediram uma audição séria. Afinal de contas, o social é mais importante do que as regras institucionais. Em segundo lugar, ficou sempre a ideia de que o meio jornalístico já conhecia as práticas ilegais do BPN. A pergunta, portanto, só pode ser uma: por que razão os média não fizeram fogo sobre o BPN na hora certa?

MARCELO REBELO DE SOUSA FEZ CARREIRA ENTRE LINHAS,

NUM TERRENO AMBÍGUO E ESCORREGADIO ENTRE JORNALISMO E POLÍTICA

A novela em redor do BES e demais barraquinhas financeiras do Grupo Espírito Santo volta a revelar “Lesboa” em todo o seu esplendor provinciano. Marcelo Rebelo de Sousa é amigo de Ricardo Salgado. Não interessa se passam férias no Mediterrâneo ou na Baixa da Banheira. O local do aconchego veraneante é uma irrelevância, a relevância está na amizade que une Marcelo e Salgado. Perante este facto, o entertainer da TVI só tinha dois caminhos legítimos na relação mediática com o imbróglio BES: ou estava calado, ou criticava Salgado. Sucede que Marcelo optou pelo único caminho que não podia tomar: elogiou em público as escolhas de Salgado (Morais Pires). Em nome da salubridade do debate, Marcelo Rebelo de Sousa não pode fingir que é um anjo neutral nesta questão. Até porque a sua companheira, Rita Amaral Cabral, é administradora do BES.

Marcelo Rebelo de Sousa fez carreira entre linhas, num terreno ambíguo e escorregadio entre jornalismo e política. Ao longo dos anos, transformou-se num vaporzinho de segredos palacianos. Mas, no caso do BES, já era tempo de o Dr. Marcelo acabar com os seus próprios segredinhos. No fundo, o Prof. Doutor e restantes donos de “Lesboa” têm de perceber uma coisa: isto não é tudo de Suas Excelências.

Jornal Expresso Quinta, 3 de Julho de 2014

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