sexta-feira, 30 de junho de 2017

Bachman Turner Overdrive - You ain't seen nothing yet 1974


Changes - Black Sabbath (72)


Pedro Chagas Freitas

O mais curioso nos amores impossíveis é que por vezes acontecem.

Escolheu, depois de muito ponderar, a saia azul, bem justa, para levar ao momento mais importante da sua vida. Maquilhou-se com o cuidado de quem prepara uma bomba atómica, cada fio no seu lugar, escolheu as botas de cano alto para se sentir mais protegida, como se a pele tapada a protegesse do mundo, olhou-se a medo ao espelho no final, e esboçou o sorriso possível, os lábios trémulos e um aperto nos olhos, a ansiedade inteira a governar o corpo.

«Perdoa-me», frente ao espelho ele ensaiava o que tinha para dizer, «perdoa-me por algum dia ter acreditado que havia vida sem que houvesses tu», com ar confiante, seguro de si, «quero-te para sempre e tenho a certeza de que vai saber a pouco», e saiu para a rua, o fato impecável, os sapatos impecáveis, o amor impecável, a realidade, só ela, manchada de um erro que queria agora corrigir.

Encontraram-se no café de outrora, a mesa vazia como se os esperasse. Ele chegou primeiro, as palavras ensaiadas bem decoradas na sua cabeça, os gestos, até os gestos, pensados até ao mais último pormenor. Até que ela chegou, os passos como se pisassem pessoas, a saia azul justa e os homens todos a olhar. Ele disse o que tinha para dizer, ela ouviu o que tinha para ouvir. Quiseram os dois abraçar-se logo ali, antes que o mundo acabasse. Mas nenhum assumiu o risco. Ele esperou que ela dissesse «sim, perdoo-te», ela esperou que ele dissesse «desculpa mas vou abraçar-te toda mesmo que contra a tua vontade». E o tempo certo para o momento certo perdeu-se.

Em casa, ela despiu a saia azul, descalçou as botas de cano alto e cedeu, o corpo pousado na cama como se de repente sem sangue. Ele ainda ficou no café alguns minutos, apenas a despedir-se do que não fora capaz de fazer, antes de lentamente voltar para o quarto vazio, o cheiro dela e as roupas dela, se fosse um homem corajoso teria tido a cobardia de desistir da vida.

Casaram-se e foram quase felizes para sempre. Não um com o outro, claro. Ela encontrou um homem perfeito e ele encontrou uma mulher perfeita. Foram andando e, com o tempo, foram desaprendendo a maneira como um dia correram, o que um dia os fazia correr e saltar – mas nunca andar. Vieram os filhos, novos desafios, as rugas, os netos, a pele a ceder e o tempo todo a fazer-se de episódios cada vez mais raros de paixão.

Haveriam de morrer distantes, tão distantes quanto a geografia o permitia, até o tamanho insuportável de um mar a separá-los. Certo é que, estranhamente, as lápides de ambos continham o mesmo erro, uma gralha imperdoável», segundo os respectivos marido e mulher: a data do falecimento apontava para há mais de trinta anos, nunca ninguém conseguiu entender porquê. A inscrição, essa, imediatamente abaixo da data, é que não tinha qualquer falha.

«Não é parar que é morrer; é ir andando.»

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Tangos e Tragédias - Aquarela da Sbórnia



Nós nascemos na Sbørnia! (BAH!)
Nós nascemos na Sbørnia! (BAH!)
A Sbørnia era grudada ao continente por um istmo...(istmo!)
Após sucessivas explosões nucleares... mal sucedidas
Ai, ai, ai, ai...
A Sbørnia se desgrudou!
A Sbørnia se desgrudou! (do continente)
E hoje é uma ilha navegando pelos mares do mundo, mares do mundo, mares do mundo, mares do mundo!

Nós nascemos na Sbørnia! (BAH!)
Todos sabem que a Sbørnia é conhecida
internacionalmente, internacionalmente, internacionalmente!
Por ter uma grande lixeira, onde todo mundo deposita o lixo cultural,
o que não serve mais para nada, o que já saiu de moda...

Nós nascemos na Sbørnia! (BAH!)
O sistema político da Sbørnia é o Anarquistmo Hiberbólico!
Em época de grande indecisão o povo se reúne em uma praça pública
e fica naquele clima de indecisão, aquela coisa de indecisão...
Até que nasce uma flor,
maravilhosa flor, tão bonita flor...

Nós nascemos na Sbørnia! (BAH!)

Bolo de café


Ingredientes

8 ovos
2 chávenas de chá de açúcar
2 chávenas de farinha de trigo
1 colher de sopa de fermento
1 colher de café de baunilha
1 chávena de café forte (chávena = à da farinha)

Batem-se muito bem as gemas com o açúcar , até obter um creme leve e esbranquiçado
Juntam-se os ingredientes secos peneirados , alternadamente com o café , batendo bem , depois de juntar cada porção .
Por fim , deita-se a baunilha e as claras em castelo .

Envolve-se sem bater .

Coze-se em forno médio , numa forma redonda sem buraco .
Depois de cozido e frio , recheia-se e cobre-se com :
2 pacotes de natas batidas em chantilly com nescafé e salpica-se com amêndoa torrada

Pink Floyd - Wish You Were Here (1977-07-02) 24/96 legendado

Pink Floyd - Comfortably Numb (1980) legendado

terça-feira, 27 de junho de 2017

The War On Drugs - "Thinking Of A Place" [Official Audio]

It was back in Little Bend that I saw you 
Light was changing on the water 
Where birds above had flown 
There was pain in your eyes 
So you vanished in the night 
Missouri River in the distance 
So I lied upon the lawn
 
I remember walking against the darkness of the beach 
Love is like a ghost in the distance, ever-reached 
Travel through the night because there is no fear 
Alone but right behind until I watched you disappear 

[Chorus] 
I'm moving through the dark 
Of a long black night 
Just moving with the moon 
And the light it shines 
And I'm thinking of a place 
And it feels so very real 
Just moving through the dark 

Once I had a dream 
I was falling from the sky 
Coming down like running water 
Passing by myself alight In the morning, 
I would wake to the sound of summer falls 
Like little whispers through the signs
 
[Chorus] 
I'm moving through the dark 
Of a long black night 
And I'm looking at the moon 
And the light it shines 
But I'm thinking of a place 
And it feels so very real 
Oh, it was so full of love!
 
Come and take my hand, babe 
There's a turn in the road that we've been taking 
Let it set you free 
Because there's a rhythm in the way that we've been moving 
Yeah, there's a darkness over there, but we ain't going
 
See it through through my eyes 
Walk me to the water 
Hold my hand and something turns to me 
Love me every night 
Drown me in the water 
Hold my hand and there's something turning me 
See it through my eyes 
Love me like no other 
And hold my hand and something turns to me 
And turns me into you
 
Lead me through the light 
Pull me from the water 
Hold my hand and something turns to me 
Turns me into you 
Just see it through my eyes 
Love me like no other 
Hold my hand and something turns to me 
Turns me into you 
Turn to me 
Into you.

domingo, 25 de junho de 2017

Tom Waits - I Want You

I Want You,

"I want you, you, you
All I want is you, you, you
All I want is you
Give you the stars above, Sun on the brightest day
Give you all my love, if you would only say
I want you, you, you
All I want is you, you, you
All I want is you"

sexta-feira, 23 de junho de 2017

BOMBEIRO RESPONDE A AGNES ARABELA EM TEXTO EMOTIVO



Agnes Arabela, ex-concorrente de um reality show esteve envolvida numa grande polémica, depois de ter dito que os bombeiros “coçam os colh**s 9 meses por ano e trabalham 3”.

Muitas foram as mensagens de indignação, mas existe um texto emotivo de um bombeiro ganhou especial destaque:

“Começo esta publicação por lembrar á Agnes que vivemos em democracia, e que em 1974 se deu uma coisa em Portugal que nos permitiu o direito e liberdade de expressão, possivelmente ela não saberá o que foi isso, pois sendo Romena possivelmente nem estava a residir em Portugal ainda nessa altura.

Depois quero relembra-la que ela está em Portugal, vive em Portugal e é em Portugal que tem o seu vencimento para viver!! Não deve cuspir no prato onde comeu, pois a fome volta e ela pode não ter mais prato depois.E é do País que a acolheu que ela fala mal daqueles que dão a vida pela vida de outro!!

O direito de expressão NÃO TE DÁ o direito de faltares ao respeito a ninguém, porque o respeito é uma coisa que vem do Berço, e quem quer Respeito tem de se dar ao respeito, simples lei de cidadania!!

Não Jovem!!!

Nenhum de nós, Bombeiros Portugueses, precisámos de um reality show para ficarmos conhecidos, até pelo contrário, gostamos de permanecer desconhecidos!!
E então tendo em conta o meu caso, deixa-me que te coloque umas questões, de forma bem simples e prática, para que tu possas perceber dado o teu Q.I.:

– Tu sabes o que é acordar a meio da noite com o coração a bater-te na garganta do sobressalto de ouvires uma sirene a tocar?!

– Sabes o que é saíres de casa sem saberes para onde vais, nem quando voltas ou até mesmo se voltas?

– Sabes o que é teres filhos que não sabem o que é ir à praia com os pais, porque no verão os pais passam mais tempo a combater incêndios do que com eles?

– Sabes o que sente uma mãe, um pai, uma esposa ou um marido, quando nos vêem sair a correr pela porta fora, ou nos dizem adeus junto do quartel, como se fosse o último, enquanto a viatura desvanece no fundo da rua?!

– Sabes o que é saíres de casa e deixares os teus filhos a chorar e a pedir que não vás porque teem medo que seja a última vez que te vêem?

– Sabes qual é a sensação de levar um camarada irmão á última morada, prestar-lhe a última honra e continência, enquanto a sirene chora o adeus a par contigo?

– Sabes qual é a sensação de saberes que alguém faleceu porque tu, mesmo fazendo tudo o que te era possível, não conseguiste salvar a vida?

– Sabes o que é acordares sobressaltado de noite, com pesadelos de uma ocorrência ou de um susto que quase te tirou a vida se transforma em pesadelo todas as noites?

Esses bombeiros que os coçam como tu dizes, passam horas e horas, dias e dias, no combate aos incêndios, sem saber dizer que não. Muitas vezes comem a primeira alimentação a sério ao fim de 12/15h de combate. E sabes o que comem?! Sopa de pais com filhos, sabes o que é?! Não!! Tu é que és a celebridade…

Não sabes o que é estares a saborear a primeira refeição ao fim de muitas horas e teres de largar o prato, sem saberes quando voltas a comer, para ires depressa para uma frente que apareceu, ou um reacendimento que se deu!!

Não!! Tu é que és a celebridade…

Sabes o que é beberes água verde, puxada manualmente dum poço, com um garrafão que encontraste largado, porque a sede e o desgaste físico assim te obrigam para continuares a combater esses tais monstros que dizes que nos vão matar da forma mais ironica e estúpida na tua publicação?!

Não, não sabes!! Tu é que és a celebridade…

Mas garanto-te, nunca na minha vida bebi água tão fresca quanto aquela…

E no final pergunto-te eu, o que é que tu sabes?!

Diz-me, o que fazes tu por Portugal, para criticares quem dá a vida por ele?!

Diz-me, quantas vidas ja salvaste tu para acusares os bombeiros pelas vidas que eles não conseguem salvar?!

Diz-me…

Em que é que tu és melhor, ou mais do que eu para isso te dar o direito de te dirigires a QUEM REALMENTE FAZ ALGO PELO PAÍS (ao contrário de ti), e os humilhares, rebaixares, desceres ao ponto que desceste, possivelmente só para que a polémica faça lembrar o País que tu existes?!

DIZ-ME, QUEM ÉS TU PARA FALARES DOS BOMBEIROS PORTUGUESES?!…

Em que é que o País te pode agradecer a TI?!

Anda, diz-me!!!

Não te bastou a publicação que fizeste, largando cá para fora toda a tua verborreia mental, num dia em que os Bombeiros Portugueses choravam a partida de um dos seus irmãos, agora ainda vens armada em Virgem Ofendida para a comunicação social?!

Quem diz o que quer, ouve o que não quer!!! Simples…

Porque a tua liberdade acaba quando começa a minha!!!

Porque eu, não sou celebridade, nunca apareci em Reality Show nenhum para ficar conhecido, eu não sou ninguém!!!

Sou um Bombeiro actualmente emigrado do país, que saiu daí dedicando 17 anos de serviço á população portuguesa!!

Eu jurei dar a minha vida pelo meu país, e tu que fizeste pelo país?!

Diz-me…

Agnes, as vezes mais vale estares calada e todos pensarem que és idiota, do que abrires a boca e prova-lo!!

E sabes porquê?

Porque o estrume da tua ignorância não chega para cultivar os campos férteis da inteligência dos Bombeiros Portugueses!!!”

Texto: Marco Francisco

terça-feira, 20 de junho de 2017

Gonçalo Ribeiro Telles: Esta entrevista tem 14 anos mas podia ter sido dada hoje




Nos primeiros 15 dias de agosto de 2003 arderam cerca de 300 mil hectares no nosso País. Passaram 14 anos e continuamos a falar do mesmo. Por isso esta entrevista que, na altura, a VISÃO fez a Gonçalo Ribeiro Telles, não perdeu um pingo de atualidade. Vale a pena voltar a ler as suas palavras e perceber como nada aprendemos com a História, continuando ano após ano na permissividade da celebração do eucaliptal



ALEXANDRA CORREIA

Jornalista


Nos primeiros 15 dias de agosto de 2003 arderam cerca de 300 mil hectares no nosso País. Os fortes incêndios de Oleiros, Sertã e Aljezur fizeram as manchetes dos jornais (e da VISÃO) e os temas são sempre os mesmos: a floresta de eucaliptos e pinheiros, as falhas da proteção civil, a falta de condições de trabalho dos nossos bombeiros. Passaram 14 anos e continuamos a falar do mesmo. Por isso esta entrevista que, na altura, fizemos a Gonçalo Ribeiro Telles, arquitecto paisagista e “pai” do ecologismo português, não perdeu um pingo de atualidade. Vale a pena voltar a ler as suas palavras e perceber como nada aprendemos com a História, nenhuma lição retiramos dos nossos erros, continuando ano após ano na permissividade da celebração do eucaliptal.

VISÃO: Quais são as causas desta calamidade?

GONÇALO RIBEIRO TELLES: A grande causa é um mau ordenamento do território, ou seja, a florestação extensiva com pinheiros e eucaliptos, de madeira para as celuloses e para a construção civil. O problema foi uma má ideia para o País, a de que Portugal é um país florestal. Lançou-se a ideia de que, tirando 12% de solos férteis, tudo o resto só tem possibilidades económicas em termos de povoamentos florestais industriais.

V: De onde vem essa ideia?

GRT: É uma ideia antiga que começou nos anos 30 com a destruição, também por uma floresta extensiva, das comunidades de montanha do Norte de Portugal, que tinham a sua economia baseada na pecuária. As dificuldades por que passava a agricultura deram origem a que se quisesse transformar grandes áreas do País já são 36% em florestas industriais. Esta campanha transformou a silvicultura, que era a profissão básica, numa profissão de florestal, para dar resposta aos grandes interesses económicos. Houve ainda outra campanha, a do trigo, em que se organizou o País em função desta cultura, que tinha por base o mito da independência de Portugal em pão. Além das terras para o trigo, tudo o resto, num sistema de agricultura economicista, tem que ser floresta, produção de madeira. O resultado está à vista.

V: Passámos então a ser um País florestal.

GRT: Os romanos dividiam o território em três áreas, além da urbe: o ager, que era o campo cultivado intensamente; o saltus, a pastagem, a agricultura menos intensiva; e a silva, a mata de produção de madeira e de protecção. Todo esse ordenamento foi transformado, acabou-se com a silvicultura e começou o culto da floresta, que não temos. Se formos ao campo perguntar onde fica a floresta, eles só conhecem a do Capuchinho Vermelho, porque o que têm na sua terra são matas, matos, etc. No século XIX, o pinheiro bravo veio para responder às necessidades do caminho-de-ferro que estava em lançamento. Mais tarde é que vem a resina, a indústria da madeira e a celulose. O pior é que se transformou o País num território despovoado e que, dadas as características mediterrânicas, arde com as trovoadas secas.

V: Como deve ser reordenado o território?

GRT: O País está completamente desordenado. Por um lado, uma política agrícola que não considera o mosaico mediterrânico, com agricultura, pecuária, regadio e horticultura, os matos, as matas, todo um mosaico interligado e ordenado. Em Mação, por exemplo, aquela população vivia tradicionalmente da agricultura que fazia nos vales e nas naves.

E na serra existiam os matos pastados pelas cabras, pelos bovinos. Dos matos retirava-se o mel, a aguardente de medronho, a caça e as aromáticas.
A França, nas zonas de mato, tem uma política de aromáticas de abastecimento da indústria de perfumes. A questão, hoje, é criar uma mata que produza madeira, mas que se integre nos agro-sistemas, uma paisagem sustentada, polivalente e nunca repetir, como já querem, a plantação de eucaliptos e de pinhal. As populações estão fartas disso e devem ser chamadas a depor. E tem que haver duas intenções ecológicas fundamentais: a circulação da água e a circulação de matéria orgânica, aproveitando-a para melhorar as capacidades de retenção da água do solo.

V: A excessiva divisão do território (em meio milhão de proprietários) dificulta as limpezas florestais?

GRT: A limpeza da floresta é um mito. O que se limpa na floresta, a matéria orgânica? E o que se faz à matéria orgânica, deita-se fora, queima-se? Dantes era com essa matéria que se ia mantendo a agricultura em boas condições e melhorando a qualidade dos solos. E, ao mesmo tempo, era mantida a quantidade suficiente na mata para que houvesse uma maior capacidade de retenção da água.

Com a limpeza exaustiva transformámos a mata num espelho e a água corre mais velozmente e menos se retém na mata, portanto mais seco fica o ambiente.

V: Se as matas estivessem bem limpas ardiam na mesma?

GRT: Ardiam na mesma e a capacidade de retenção da água não se dava, passava a haver um sistema torrencial. A limpeza tem que ser entendida como uma operação agrícola. Mas esta floresta monocultural de resinosas e eucaliptos, limpa ou não limpa, não serve para mais nada senão para arder. Aquela floresta vive para não ter gente. Se houvesse lá mais gente aquilo não ardia assim.

V: Defende uma mata com que tipo de madeiras?

GRT: Madeiras para celulose é difícil porque temos agora uma forte concorrência no resto do mundo. Os eucaliptais, para serem mais rentáveis, só poderiam sê-lo no Minho que é onde chove mais de 800 ml ao ano. O eucalipto precisa de muita água e Portugal não pode concorrer com o Brasil e a África em termos de custo. Só se transformarmos o Minho num eucaliptal. Pode-se optar pelas madeiras de qualidade da cultura mediterrânica como todos os carvalhos, o sobreiro, a azinheira e pinhais criteriosamente distribuídos.

V: Não são tão rentáveis...

GRT: O carvalho, por exemplo, acompanha toda uma panóplia de rendimento como a cortiça, a pecuária, a produção do mel, das aromáticas, a caça.

V: Há uma visão limitada do que pode ser rentável na floresta?

GRT: É muito bom para as celuloses e muito mau para as populações e para o País, que está devastado. O mundo rural foi considerado obsoleto, como qualquer coisa que vai desaparecer. Veja-se o disparate que foi a política de diminuição dos activos na agricultura. Contribuiu para o aumento dos subúrbios, dos bairros de lata, da emigração. Trouxe alguma coisa melhor para a província? Não. Apenas um grande negócio para as celuloses e para os madeireiros.

V: As populações estão alertadas para essa multiplicidade de culturas?

GRT: Completamente alertadas; quem parece que não está são os políticos e os técnicos. Porque se perderam numa floresta de «números». Quem conhece as estatísticas diz que somos o terceiro país da Europa em número absoluto de tractores, só ultrapassados pela Alemanha e pela França. Somos um país de tracto res porque os subsídios dão para isso, porque interessa à importação dessa maquinaria toda. As pessoas foram levadas a investimentos, em nome do progresso, que não tinham qualquer racionalidade.

V: No caso de se aumentarem as áreas agrícolas, temos agricultores para tratar delas?

GRT: Temos. Estão desviados, foram convencidos de que eram uns labregos. Houve toda uma política de desprestígio do mundo rural tendo por base a ideia de que era inferior ao mundo urbano. Despovoámos os campos e essa gente toda veio para a cidade. Hoje, enfrenta o desemprego. Esqueceram-se que o homem do futuro vai ser cada vez mais o homem das duas culturas, da urbana e da rural. Hoje, 30% das pessoas que praticam a agricultura económica na Europa não são agricultores. É gente que vive na cidade, tem lá o seu escritório e tem uma herdade no campo onde vai aos fins-de-semana. A expansão urbana aumenta e não podemos viver sem a agricultura senão morremos à fome.

V: Que pode fazer o Estado, uma vez que 84% da nossa floresta está nas mãos dos proprietários?

GRT: Pode fazer planos integrados de ordenamento da paisagem. O Estado não domina totalmente a expansão urbana quando quer, não faz planos gerais de urbanização? Não se devia poder plantar o que se quer porque também não se pode construir o que se quer. Constrói-se mal porque, às vezes, o Estado adormece. Faltam planos gerais de ordenamento de paisagem, que a actual legislação não contempla, apesar de já ter instituído a Estrutura Ecológica Municipal através do Decreto-Lei 380/99. A Lei de Bases do Ambiente tem os conceitos e os princípios para um plano de ordenamento de paisagem, está lá tudo escrito, mas nunca foram regulamentados.

V: A actual legislação favorece as monoculturas?

GRT: Favorece porque a chamada «modernização» da agricultura é um escândalo de incompetência. As universidades de Agronomia em Portugal tiveram um período de grande pujança intelectual no fim do século XIX e no princípio do século XX. Agora, parece terem-se rendido ao economicismo.

V: Deve o Estado apoiar com subsídios e benefícios fiscais?

GRT: Com certeza. O proprietário está com a corda na garganta, faz aquilo que lhe der dinheiro já para o ano. Por isso, têm que se estabelecer limites e normas a sistemas, não a culturas, mas sem tirar às pessoas a liberdade de correr riscos.

V: E promover o associativismo florestal, como em Espanha, por exemplo?

GRT: Abrimos um bom caminho com as «comunidades urbanas» que estão na forja, pequenas áreas metropolitanas de freguesias e aldeias, acho muito bem. Estamos numa cultura mediterrânica e não se pode traduzir o desenvolvimento em unidades economicistas de produção em grande volume de dois ou três produtos. É da polivalência, da multiplicidade de produtos e da harmonia da paisagem que resulta a possibilidade de ter uma população instalada em condições de dignidade.

Essas comunidades é que deverão fazer a síntese de todos os interesses. Porque quando começamos a destacar os interesses por sector, a visão sistémica desaparece e os interesses da comunidade passam para empresas que ultrapassam as suas fronteiras comprometendo a sustentabilidade da região.

Não defendo que haja um sector agrícola e um sector florestal, para mim é exactamente o mesmo: a agricultura completa a floresta e a floresta completa a agricultura.

V: O Partido Socialista voltou a falar da regionalização como forma mais eficaz de ordenar o território. Concorda?

GRT: Defendi uma regionalização há muito tempo, que deu origem a um documento de que os grandes partidos fizeram muita troça. Dividia o País em cerca de 30 regiões naturais, áreas de paisagem ordenada, que estavam já organizadas histórica e geograficamente.
São as terras de Basto, as terras de Santa Maria, as terras de Sousa, a Bord'água do Tejo, etc. O País é isso e não é outra coisa. Esta regionalização podia contribuir para a efectivação dos planos de ordenação da paisagem, com uma participação democrática das respectivas populações.

V: O Governo acordou tarde para a calamidade dos incêndios?

GRT: Que podia o Governo fazer? O mal vem de longe. Mas não estou seguro de que se vá enveredar agora pelo caminho certo. Já estão a dizer que querem reflorestar tudo como estava. Fico horrorizado quando ouço isso. Significa que querem voltar aos pinheiros e aos eucaliptos. Perguntem às vítimas dos incêndios que ficaram sem as casas se querem outra vez pinheiros à porta. Destruíram as hortas... Porque ardem as casas? Porque o pinheiro está no quintal.

V: Olhando para o futuro, os incêndios podem constituir uma oportunidade para se reorganizar o território?

GRT: Também o terramoto permitiu que o Manuel da Maia, a mando do Marquês de Pombal, fizesse a Baixa lisboeta. Não desejo um terramoto, mas não percam esta oportunidade. O futuro do País e da sua identidade cultural e independência está em causa.

(Entrevista publicada na VISÃO 545, de 14 de Agosto de 2003)

Isto não é uma crónica, é um vómito de indignação






OPINIÃO

ANTÓNIO LOBO ANTUNES



Quando morrer, não quero a vossa hipocrisia em torno do meu caixão. Basta-me que a sombra de Cristo ou de um dos seus Anjos se apiede, mesmo de longe, ainda que de muito longe, da minha alma pecadora. Não quero nenhum fariseu junto ao nosso diálogo





Não perdoo à Igreja nunca ter pedido perdão aos portugueses pela sua colaboração activa com a Ditadura e as iniquidades decorrentes dela, a sua total indulgência, desde a primeira hora, com a injustiça, a crueldade, a desigualdade, a intolerância, os campos de concentração

(Tarrafal, São Nicolau)

a monstruosa polícia política, a violência da censura, o desprezo pelas mulheres, a guerra colonial, a perseguição aos estudantes, aos operários, aos camponeses, a desavergonhada defesa dos 
ricos, as missas para as criadas, as homilias em que exortavam à obediência aos patrões, a violência para com os sacerdotes e os bispos que ousaram levantar-se contra o Estado Novo, a forma como abençoaram as centenas de milhares de rapazes mandados para África combater as aspirações dos povos colonizados, mandando capelães abençoar aquele horror, apoiar aquele horror, santificar aquele horror

(eu estava lá e vi)

em nome da luta contra o comunismo ateu, em nome da defesa dos valores cristãos, em nome da tolerância, em nome de Cristo. Porque carga de água não tem sequer a simples dignidade de pedir desculpa? Porque carga de água finge esquecer-se? Porque carga de água este silêncio? Eu sou cristão e aprendi a ser fiel até à morte como está escrito no Livro e pergunto: como tem coragem de tocar na Bíblia, como tem coragem de ser hipócrita para com o Senhor? O capelão do meu batalhão em África era um pobre jesuíta que se queixava das instruções que o obrigavam a fazer a apologia do colonialismo em nome do Deus e não tenho a menor dúvida que Jesus o cuspiu da Sua boca. Porque não pede perdão por ter afastado tanta gente da Virtude com as suas atitudes, as suas homilias, até com a utilização ignóbil das pobres crianças de Fátima a quem Nossa Senhora pediu em português

(que outra língua saberiam elas?)

para rezarem pela conversão da Rússia comunista, elas que nem sabiam o que comunismo queria dizer, manobradas sem vergonha pela hierarquia eclesiástica. O que terá sofrido o nosso capelão

(Tenho de fazer isto, tenho de fazer isto, dizia ele)

obrigado a louvar a guerra santa, obrigado a prometer o Paraíso aos nossos mortos, criaturas inocentes condenadas a dois anos e tal de um sofrimento injusto. E a Igreja, passados mais de quarenta, permanece em silêncio, completamente alheada da sua culpa. Isto entende-se? Isto aceita-se? Isto apaga-se? Claro que os filhos das classes altas não iam para a guerra. Conheço filhos dessas classes altas poupados a África com desculpas inacreditáveis. Conheço os seus nomes e conheço as desculpas, desde “incompatibilidade psicológica com o Exército” (posso citar nomes) até “incontinência urinária” (posso citar nomes), até “pé chato” (posso citar nomes), até classificações aldrabadas durante a especialidade (posso citar nomes), e é impossível que a Igreja não soubesse disto. Soube, claro, colaborou. E até hoje nenhuma voz oficial dela se ergueu, nenhuma voz oficial dela protestou, nenhuma voz oficial dela pediu perdão a Portugal, nenhuma voz oficial dela pediu perdão aos portugueses, nunca os sucessivos cardeais roçaram sequer este assunto quanto mais falar nele. Pelo contrário: abençoaram o Estado Novo que perseguiu os sacerdotes que ousaram, ainda que só timidamente, levantar a voz contra isto tudo. Perseguiram-nos, expulsaram-nos fizeram-lhes a vida negra. Nem disso a Igreja a que pertenço tem vergonha? Um bocadinho de vergonha ao menos? Limitou-se a arranjar bispos castrenses que aceitaram, apadrinharam, foram cúmplices desta situação. Não temos uma Igreja de Cristo, temos, sob muitos aspectos, uma Igreja hipócrita e complacente. Cristo não foi nunca hipócrita nem complacente: Porque é que a Igreja portuguesa o é? Tenho o maior orgulho no meu País, não tenho o menor orgulho nesta Igreja. Se Cristo aqui estivesse vomitá-la-ia da sua boca por não ser fria nem quente. Meu Deus será que nem arrependimento existe? Será que pensa que a memória dos homens é curta? Será que pensa que os portugueses esquecem? Será que não se importa de ser vendilhão do Templo? Será que acredita que vai ficar impune aos olhos do Senhor? Será que imagina que o Senhor não sabe? Será que toma Deus por parvo? Será que cuida que São Paulo, por exemplo, não a varreria? Onde estão as palavras do Senhor? Os Seus ensinamentos? 
O Seu exemplo? Ainda que em linguagem aparentemente críptica Cristo foi sempre muito claro. E quem quiser ouvir que oiça. A ditadura acabou em 1974, há quarenta e três anos portanto. E nem uma voz até hoje? Nem um simples pedido de perdão, nem uma confissão fácil

– Errei

não existe nenhuma humildade honesta neste silêncio, não existe o simples assumir de uma culpa, de um erro formidável, de um silêncio indecente. Dói-me na alma que a minha Igreja, o meu Deus sejam amesquinhados e esquecidos pelos que se dizem Seus filhos. Tenho vergonha. Tenho nojo. Tenho pena de vós que pagareis por isto. Será que um simples pedido de desculpa não alivia a alma? Parece que não. Por isso, quando morrer, não quero a vossa hipocrisia em torno do meu caixão. Basta-me que a sombra de Cristo ou de um dos seus Anjos se apiede, mesmo de longe, ainda que de muito longe, da minha alma pecadora. Não quero nenhum fariseu junto ao nosso diálogo. Quereria um Homem Justo. Um Homem Justo bastava-me. Onde, na hierarquia da Igreja, da minha pobre Igreja, ele estará?

(Crónica publicada na VISÃO 1266, de 8 de junho de 2017)

Bob Marley-Africa Unite (Traduzione in Italiano) live in Santa Barbara 1...



Os deuses não abdicam de ganhar a guerra , e , para isso , vão-se rodeando dos melhores . . .

ASCENSÃO E TOMBO

Hoje vim trazer-lhes flores
Com pétalas disformes
Flores secas sem olores
E também sem pólen
Para separar as páginas
Da biografia trágica
Que retrata o assombro
Da história com o título:
‘O Presidente ilegítimo
Ascensão e tombo’.
.
Um parasita contumaz
E mero ser decorativo
Acostumado a ficar atrás
Dos poderosos políticos
Para longe das câmaras
Fazer tramóias e chicanas
Mantendo a nefasta figura
De vampiro monetário
Que suga o erário
Passando longe das urnas.
.
Traidor-mor da República
Que como reles facínora
Superou o miserável Judas
Ao dar um beijo em Dilma
Entregando-a aos criminosos
Que com acordos ardilosos
Abreviaram o seu mandato
Para em troca de favores
Retirarem dos trabalhadores
Os direitos conquistados.
.
Ao ver-se envolto em denúncias
E execrado pela plateia
Negociou a sua renúncia
Para safar-se da cadeia
Propôs entrar para a história
Como ícone da escória
Contanto que longe do cárcere
Mas o povo disse sem medo:
‘De Judas faça arremedo
E pendure-se numa árvore’.
.
Eduardo De Paula Barreto

“Agora Nunca É Tarde”
Cada um de nós nasce com um artista lá dentro.
Um poeta, um escultor, um aventureiro... um cientista, um pintor, um arqueólogo, um estilista, um astronauta, um cantor, um marinheiro.
E o sonho e a distância, e o tempo e a saudade deram-nos vida, amor, problemas, mentiras e verdade; e damos por nós mesmos descobrindo que agora, se calhar, já é um pouco tarde.
E nas memórias velhas e secretas da menina morou sempre aquele sonho de um dia ser...
bailarina, actriz, modelo, princesa, muito rica; eu sei lá!
Mas os anos correram num assombro, e a vida foi injusta em qualquer jeito para a chama indelével que ainda arde. E os filhos são bonitos no seu peito.
Pois é...
mas agora...
agora já é tarde.
E nos papéis antigos que rasgamos há sempre meia dúzia que guardamos.
São os planos da conquista do Pólo Norte que fizemos aos sete anos, escondidos no sótão uma tarde, e estiveram perdidos trinta anos.
E agora, se calhar, maldita sorte!
Por desnorte, acaso ou esquecimento, alguém já descobriu o Pólo Norte e agora...
agora pronto, agora já é tarde.
Há sempre nas gavetas escritores secretos, cientistas e doutores, desenhos e projectos construtores feitos em meninos de tudo o que sonhámos fazer quando fosse a nossa vez!
Cientistas em busca de Plutão, arqueólogos no Egipto, viajantes sempre sem destino, futebolistas de sucesso no Inter de Milão.
E o curso da vida foi traidor, e o curso da vida foi cobarde, e o ciclo do tempo completou-se, e agora... e agora pronto, paciência, agora já é tarde...
Agora é tarde.
Emprego, casa, filhos muito queridos, algum sonhar ainda com amigos, às vezes sair, beber uns copos p'ra esquecer ou p'ra lembrar, e fazer ainda um certo alarde, talvez para esconder ou para abafar, como é já tão demasiado e tão impiedosamente tarde... Não... mas não, não; nunca é tarde para sonhar!
Amanhã partimos todos para Istambul, Vladivostock, Alasca, Oslo, Dakar!
Vamos à selva a Timor abraçar aquela gente e às montras de Amsterdam (que eu afinal também não sou diferente).
Chegando a Tóquio são horas de jantar, depois temos de voltar a Bombaim, passando por Macau e Calcutá, que eu encontro Portugal em todo o lado e mesmo fugindo nunca saio de mim.
E se esse marinheiro, galã, aventureiro, esse, que já não há, pois que me saiba cumprir com coerência, nos limites decentes da demência, nos limites dementes da decência; e cumpramo-nos todos, já agora, até ao fim, no que fazemos, na diferença do que formos e dissermos!
E perguntando, criando rebeldias, conferindo aquilo que acreditamos e que ainda formos capazes de sonhar!
E se aquilo, aquilo que nos dão todos os dias não for coisa que se cheire ou nos deslumbre, que pelo menos nunca abdiquemos de pensar com direito à ironia, ao sonho, ao ser diferente.
E será talvez uma forma inteligente de, afinal, nunca... nunca, nunca ser tarde demais para viver, nunca ser tarde demais para perceber, nunca ser tarde demais para exigir, nunca ser tarde demais para ACORDAR.
(Pedro Barroso)

domingo, 18 de junho de 2017

É PROIBIDO NÃO CONHECER PABLO NERUDA


publicado em literatura por Jéssica Carvalho

O poeta Nereu, Pablo Neruda, é o capitão da poesia chilena. Militante político expressivo e amante das coisas simples, seu amor pela vida foi a sua embarcação mais usada.
Nas águas da vida, não reconheceu fronteiras e adotou o mundo como sua morada.
Não há onda que apague sua história tão pulsante.
Por isso, é proibido não conhecer Pablo Neruda.



Na alegria e leveza de suas palavras de amor ou na franqueza e paz invocada em suas palavras políticas, Pablo Neruda, originalmente batizado como Neftalí Ricardo Reyes, é um poeta que soube viver e encher o mundo de vida.

Antes de personificar-se como a poesia Chilena, Neruda era um estudioso e admirador de escritores de todo o mundo. Assim, quando mudou seu nome de batismo em ação de modificação de nome civil, homenageou os poetas tcheco Jan Neruda e o francês Paul Verlaine, reafirmando seu caráter de cidadão do mundo.

De tão cidadão do mundo era que, em 1927, começou sua carreira diplomática. Lutou contra o franquismo na Espanha ao lado do também poeta Federico García Lorca, assassinado pelos fascistas; o que lhe rendeu o poema "Espanha no coração".

Espanha no coração

Madrid isolada e solene, Julho te surpreendeu com tua alegria de colmeia pobre: tua rua era clara, claro era teu sonho. Um desejo negro de generais, uma vaga de sotainas raivosas rompeu entre teus joelhos suas lodosas águas, seus rios de escarro.

Todavia, com os olhos feridos de sono, com escopeta e pedras, Madrid, recém-ferida, defendeste-te. Corrias pelas ruas deixando estelas de teu santo sangue, reunindo e chamando com uma voz de oceano, com um rosto mudado para sempre pela luz do sangue, como uma vingadora montanha, como uma sibilante estrela de facas.

Quando nos tenebrosos quartéis, quando nas sacristias da traição entrou tua espada ardendo, não houve senão o silêncio do amanhecer, não houve senão teu passo de bandeiras, e uma gota de sangue em teu sorriso.



Foi ativista do Partido Comunista do Chile, foi Senador, foi candidato à presidência do Chile, apoiou Salvador Allende, homenageou Luis Carlos Prestes no Estádio do Pacaembu, recebeu o Prêmio Lênin da Paz, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, escreveu, encantou, inspirou, emocionou, se apaixonou.

Uma de suas paixões mais fortes era o mar. "La Chascona" é o museu em que fora transformada sua casa em Santiago do Chile, na qual podemos sentir a suavidade e firmeza em que levou sua vida. Com diversas peças e mobiliário que fazem menção ao mar, era assim que Pablo Neruda vivia: como quem navega amando o balanço, mas não perde a direção de seu barco nas ondas fortes.

A casa também possui diversos jardins, bibliotecas que afirmam seu amor pela leitura, fotos com amigos poetas, pequenas salas de reuniões e bares para receber amigos e fotos de sua amante Matilde, a quem havia dedicado "Os Versos do Capitão".

Ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Além disso, tudo em sua casa é muito colorido e diversos objetos de decoração são presentes de amigos e lembranças dos vários lugares em que esteve. Sua casa é um verdadeiro santuário de arte mundial e uma prosopopeia de felicidade, amizade e amor.

O que, ademais, desperta interesse é perceber que em diversos alpendres de portas e portais e em algumas árvores percebemos pingentes de desenhos de olhos.



São os olhos do poeta que, sempre vigilantes e sensíveis, foram capazes de ver o bonito e admirá-lo, capazes de enxergar o feio e neutralizá-lo, desarmando-o.

Foi através desses olhos que Neruda viu o mundo; e através de sua escrita que o reformulou, analisou, sentiu e viveu.

Por isso, mas na verdade por muito mais, é proibido não conhecer Pablo Neruda. É proibido não ver um pouco a vida pelos seus olhos. Nos versos seguintes, somos brindados com uma verdadeira lição de vida, de quem a viveu cheio de suavidade e delicadeza:

É proibido

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.

É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.

É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.

É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

Mesmo com a vida abreviada por uma doença, não foi breve sua lida nem sua lição.

É um presente conhecer seus versos e sua história. Apaixonar-se por suas linhas, encher o coração de paz, não se envolver por qualquer outro sentimento que não sejam aqueles que inspirem amor e amizade.

Desta forma, é um desperdício não navegar por estas águas poéticas que Pablo Neruda nos proporciona. Estes versos que resgatam sonhos e fazem crer que tudo pode ser muito mais belo, se vistos com os olhos certos.

Giulio Caccini - Something ♥ Liloveli

quarta-feira, 14 de junho de 2017

The Alan Parsons Project - Don't Answer Me

Guarda o segredo
Do meu amor,
Que nem por sombras possam suspeitar
Que todos os poemas que escrevi
Os soubeste primeiro.


Que fiz da tua imagem
A imagem do mundo
E que nunca te vi ao natural,
Musa irreal.
Mulher incerta da minha certeza,
Bela como a beleza.

Miguel Torga,

art"maria kreyn"


Richard Bona - Eyala

terça-feira, 13 de junho de 2017

The 5 Stages of Love: Why Too Many Stop at Stage 3



We all want real, lasting love, whether we are in our 20’s, 30’s, 40’s, 50’s, or beyond. Yet too many marriages fall apart and most people don’t know why. They mistakenly believe that they have chosen the wrong partner. After going through the grieving process, they start looking again. But after more than forty years as a marriage and family counselor I have found that most people are looking for love in all the wrong places. They don’t understand that Stage three of the five stages of love is not the end, but the real beginning for achieving real, lasting love:


Stage 1: Falling In Love

Falling in love is nature’s trick to get humans to pick a mate so that our species carries on. It feels so wonderful because we are awash in hormones such as dopamine, oxytocin, serotonin, testosterone, and estrogen. Falling in love also feels great because we project all our hopes and dreams on our lover. We imagine that they will fulfill our desires, give us all the things we didn’t get as children, deliver on all the promises our earlier relationships failed to fulfill. We are sure we will remain in love forever. And because we are besotted with “love hormones,” we’re not aware of any of this.

When we’re in love, we dismiss naysayers like curmudgeon George Bernard Shaw who cautioned:

When two people are under the influence of the most violent, most insane, most delusive, and most transient of passions, they are required to swear that they will remain in that excited, abnormal, and exhausting condition continuously until death do them part.


Stage 2: Becoming A Couple

At this stage our love deepens and we join together as a couple. This is a time when we have children and raise them. If we’re past the child-rearing stage, it’s the time when our couple bond deepens and develops. It’s a time of togetherness and joy. We learn what the other person likes and we expand our individual lives to begin developing a life of “the two of us.”

During this phase we experience less of the falling head-over heels “in love” feelings. We feel more bonded with our partner. We feel warm and cuddly. The sex may not be as wild, but it’s deeply satisfying. We feel safe, cared for, cherished and appreciated. We feel close and protected. We often think this is the ultimate level of love and we expect it to go on forever. We are often blind-sided by the turn-around of stage three.


Stage 3: Disillusionment

No one told us about Stage three in understanding love and marriage. Stage three is where my first two marriages collapsed and for too many relationships this is the beginning of the end. This is a period where things begin to feel bad. It can occur slowly or can feel like a switch is flipped and everything goes wrong. Little things begin to bother us. We feel less loved and cared for. We feel trapped and want to escape.

We become more irritable and angry, or hurt and withdrawn. We may stay busy at work, or with the family, but the dissatisfactions mount. We wonder where the person we once loved has gone. We long for the love we once had, but we don’t know where it went, or how to get it back. One or the other partner wants out, or sometimes people go on “existing together,” but without really feeling intimate.

This is a time we often get sick in body, mind and soul. In our marriage, Carlin and I both began having problems with our hearts (heartache?) and were diagnosed with atrial fibrillation. I began having serious problems with erections. To be truthful, there were times when it was miserable and we both thought about leaving the relationship.

But we didn’t give up, we kept going. There’s an old adage, “When you’re going through hell, don’t stop.” This seems to be true of this stage of life. The positive side of Stage three is that the heat burns away a lot of our illusions about ourselves and our partner. We have an opportunity to become more loving and appreciate the person we are with, not the projections we had placed on them as our “ideal mate.”

Carlin and I have now been together over thirty-five years. We’ve moved into the next stages of love and feel blessed to have learned the skills for negotiating the stage of disillusionment and can truly enjoy the later stages of love.


Stage 4: Creating Real, Lasting Love

One of the gifts of confronting the unhappiness in Stage three is we can get to the core of what causes the pain and conflict. Like most people, Carlin and I grew up in families that were dysfunctional. Both my father and mother suffered from depression and my Dad tried to take his own life when I was five years old. Carlin’s father was an angry, violent man. Her mother left him in order to protect herself and her daughter. We all have wounds and the wounds need healing if we’re to have a relationship that is real and loving.

Ongoing research from The Adverse Childhood Experiences (ACE) Study demonstrates conclusively that childhood trauma can impact our physical, emotional and relational health. For the first time, I made the connection between my father’s attempted suicide when I was five and my adult depression and erectile dysfunction.

Carlin and I learned to be allies in helping each other understand and heal our wounds. As we began to heal, the love and laughter we thought we had lost began to flow again. We began to see each other as wonderful beings who had suffered greatly in the past and had come together to love each other and help heal our old wounds from childhood.

There’s nothing more satisfying than being with a partner who sees you and loves you for who you are. They understand that your hurtful behavior is not because you are mean and unloving, but because you have been wounded in the past and the past still lives with you. As we better understand and accept our partner, we can learn to love ourselves ever more deeply.


Stage 5: Using The Power Of Two To Change The World

No one has to remind us that the world is not doing too well. There are continuous wars and conflicts. Racial violence seems to be everywhere. We wonder whether humans can survive. I wondered, “If we can’t even find peace between two people who love each other, what chance do we have to create a world that can work for all its peoples?”

But now, I look at the flip side of that question. If we can learn to overcome our differences and find real, lasting love in our relationships, perhaps we can work together to find real, lasting love in the world.

I believe that every couple has an opportunity to use the “power of two” to address some aspect of the world’s problems that touch their lives. Carlin and I are particularly tuned to issues that face men and women at midlife. We are writing a book, You Two: Renewing Your Mid-Life Marriage for Real Lasting Love. If you’d like more information about our work, drop us a note through our website, www.MenAlive.com.

We’re also interested in your own journey. Please share your own experiences on the path of real, lasting love. Together we can make a difference in the world.


By: JedDiamond

Miguel Esteves Cardoso - Os Amigos Nunca São para as Ocasiões






Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.

A decadência da amizade entre nós deve-se à instrumentalização que tem vindo a sofrer. Transformou-se numa espécie de maçonaria, uma central de cunhas, palavrinhas, cumplicidades e compadrios. É por isso que as amizades se fazem e desfazem como se fossem laços políticos ou comerciais. Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito. Está tudo doido. Só uma miséria destas obriga a dizer o óbvio: os amigos são as pessoas de que nós gostamos e com quem estamos de vez em quando. Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas. Ou gostar mais delas do que elas de nós. Não interessa. A amizade é um gosto egoísta, ou inevitabilidade, o caminho de um coração em roda-livre.

Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objectivo. É impossível lembrarmo-nos de como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter.

A glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas nem planos nem ansiedade.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Explicações de Português'

Retirado de Citador

domingo, 11 de junho de 2017

SOKO :: First Love Never Die


I feel like walking
do you feel like coming
I feel like talking coz
it's been a long time

now your hair is long
and you look so thin
you're always so pale
but something has changed
you're almost a man

Four years and I still cry sometimes
first love never die
4 years and I still cry sometimes
first love never die

long time no see
long time wondering
what you were doing
who you were seeing
I wish I could go back to it

I feel like walking
do you feel like coming
I feel like talking coz
it's been a long time

Four years and I still cry sometimes
first love never die
Four years and I still cry sometimes
first love never die

can you feel the same
I will never love again

Red House Painters - Song for a Blue Guitar

Sun Kil Moon - You Are My Sun

You Are My Sun

You are my light
Dark cities, you fill the loss
Of the day
You are my love
Radiant and pretty, over seas
You find ways of bringing hope
The lonely hours, gloom of night
Empty mornings
You are a stem, of wild flowers
Rollin' hills, 'round the bay
You are a gap
In the meadow, soaring low
In this way, you are my friend
In the shadows, there to bring
When I need
You are the suites
Of the cellos
There to mend, if I bleed
You are a swing
Sleepy porches, the warm light
On my face
You are a charge, of wild horses
You are the sun
You are my sun
Seeping over, spilling out
Over the mountains
You are my sun

Leona, Leona, Leona
Leona, Leona, Leona
Your fingers
breeze with pace and ease
the gentle waves of guitars playing

Leona, Leona, Leona
Leona, Leona, Leona
Does sense of stares
Light as air
Verses sound, everywhere

Leona, Leona, Leona

Sun Kil Moon - Gentle Moon

sábado, 10 de junho de 2017

When I need you - Leo Sayer (lyrics)

*When I need you
I just close my eyes and I'm with you
And all that I so wanna give you (babe **)
It's only a heartbeat away (**)

When I need love
I hold out my hands and I touch love
I never knew there was so much love
Keeping me warm night and day

Miles and miles of empty space in between us
The telephone can't take the place of your smile
But you know I won't be traveling forever
It's cold out but hold out and do I like I do(*)

**It's not easy when the road is your driver
Honey that's a heavy load that we bear
But you know I won't be traveling a lifetime
It's cold out but hold out and do like I do

Oh, I need you

When I need love
I hold out my hands and I touch love
I never knew there was so much love
Keeping me warm night and day

When I need you
Just close my eyes
And you're right here by my side
Keeping me warm night and day

I just hold out my hands
I just hold out my hands
And I'm with you darling
Yes, I'm with you darling
All I wanna give you
It's only a heartbeat away

Oh I need you darling

Ed Sheeran - Thinking Out Loud [Legendado]

Ed Sheeran - Photograph (legendado)

Christina Perri - A Thousand Years (tradução pt)

Depois de ter você,
pra quê querer saber que horas são?
Se é noite ou faz calor,
se estamos no verão,
se o sol virá ou não,
ou pra quê é que serve uma canção como essa?

Depois de ter você, poetas para quê?
Os deuses, as dúvidas,
pra quê amendoeiras pelas ruas?
Para quê servem as ruas?
Depois de ter você

Depois de ter você,
pra quê querer saber que horas são?
Se é noite ou faz calor,
se estamos no verão,
se o sol virá ou não,
ou pra quê é que serve uma canção como essa?

Depois de ter você, poetas para quê?
Os deuses, as dúvidas,
pra quê amendoeiras pelas ruas?
Para quê servem as ruas?
Depois de ter você

terça-feira, 6 de junho de 2017

LADY IN RED - Chris De Burgh

Missing you *******Chris de Burgh


Amar não dói . . . não pode doer .
O que dói . . . e muito ,
é saber ,
sentir
que aqueles que amamos
estão a sofrer

Isso sim . . .
dói por demais

eu

Simone - Não vá ainda (DVD)

"Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda..."


“Eu não sei se tem alguma coisa que alivia a gente , mais do que quando chega alguém perto de nós , naqueles momentos difíceis , pega nossa mão e diz : eu estou aqui !”

Fábio de Melo




Mariana Mortágua*

Quando a EDP era pública investiu na construção e manutenção de várias centrais eléctricas. Quando preparava a venda da empresa a privados, o Estado criou os Contratos de Aquisição de Energia (CAE), que obrigavam à compra de toda a energia produzida naquelas centrais e barragens.


Depois da privatização, a propaganda do capitalismo popular depressa terminou (chegou a ter 800 mil pequenos accionistas) sob a pressão dos grandes interesses financeiros e a empresa acabou nas mãos do Estado chinês. Mais, a liberalização do mercado que, garantiam, ia trazer a Portugal as maravilhas da concorrência, não resolveu nenhum problema. O mercado continuou concentrado, dominado pela EDP, e a conta da luz astronómica. Porquê? Porque os donos da EDP instalaram-se no melhor de dois mundos: lucros privados com subsídios públicos. A partir de 2007, por acção de governos do PS e depois do PSD, os CAE dão lugar aos Custos de Manutenção de Equilíbrio Contratual (CMEC) a pagar pelos consumidores para sustentar os lucros da empresa. Em poucas palavras, são contratos que garantem que a rentabilidade daquelas centrais da EDP não será inferior a 14% ao ano.


Descobrimos então o segredo do sucesso da EDP, a empresa que lucra mil milhões ao ano, e do seu super-gestor milionário, António Mexia. O truque são estas rendas excessivas que a EDP coloca na factura com a cumplicidade dos governos. Os CMEC já chegaram a atingir um terço dos lucros da eléctrica. É também por isto que pagamos uma das electricidades mais caras da Europa. A promessa de "capitalismo popular" da privatização da EDP mostra a sua verdadeira face: os cidadãos são postos a pagar o suposto sucesso dos gestores no mercado livre.


A investigação judicial que agora decorre, e que constituiu como arguidos o super-administrador Mexia e outros três altos responsáveis da EDP e da REN, é mais uma página desta longa história. Da justiça só podemos esperar que faça o seu trabalho, de forma isenta e célere. Do ponto de vista político, o essencial mantém-se: as rendas da energia são excessivas, resultam da promiscuidade entre política e negócios e têm de ser finalmente cortadas. O acesso automático à tarifa social, proposto pelo Bloco, pôs a EDP a assegurar um desconto significativo para mais de 700 mil famílias carenciadas. É um passo, mas está muito longe de ser suficiente. Basta olharmos para o peso dos custos energéticos na economia das famílias e das empresas. É preciso coragem e vontade política para cortar nestes subsídios e colocar um ponto final no rentismo do sector eléctrico.

segunda-feira, 5 de junho de 2017




Havia ser proibido teres tanto para dizer e ficares em silêncio.

Havia de ser proibido perderes-te no escuro.

Havia de ser proibido esconderes sentimentos.

Havia ser proibido tudo o que não fosse verdadeiro.
Palavras, gestos, olhares, toques e abraços.

Havia de ser proibido tudo o que não fosse inteiro.

Havia de ser proibida a dor, na esperança de sermos amados.

Havia ser proibido sentires apertos no peito.

Havia ser proibido acreditares e não lutares.

Havia ser proibido não tentares ser feliz.

Havia ser proibido teres asas e não seres livre.

Havia de ser proibido a loucura perder o sorriso.

Havia de ser proibido o insubstituível tempo perdido.

Havia de ser proibido o inverno de quem te faz frio.


Carla Tavares

Sade - Haunt Me

domingo, 4 de junho de 2017




Hoje sou o resultado de um passado
Inesquecível daquilo que sinto,
E não sei explicar.

Gostava de saber explicar
O amor que invade as horas
Em que nada se tem,
E aquelas horas em que se tem
E a nada se dá valor.

Gostava de saber explicar
Os calafrios, em que o sossego
Muitas vezes faz barulho
E que o cheio por vezes
São ecos repletos de vazios.

Gostava de saber explicar
O que é a saudade,
Quando chega de mansinho
A hipnotizar os sentidos.
E acariciar as loucuras que vivi.

Gostava de saber explicar
Como o tempo pula os ponteiros
De horas que passam a segundos
Quando se descansa o coração
Nos braços de alguém,
E depois..
Vem o destino e nos rouba tudo.

Gostava de saber explicar
Todas as vezes que luto sem forças,
E me levanto contrariando
As leis da física, sem dar tempo
A que tenham pena de mim.

Gostava de saber explicar
Este pousar de sentimentos
Que lês nas palavras que escrevo.
Mas nem eu sei, porque os sinto.

Apenas sei amar e sentir.
A escuridão dos meus olhos
Cujo o mundo é tão real.
E a minha vida,
Ainda sabe à tua!

Carla Tavares

One Moment In Time - Dana Winner (live) com legenda.

Escolhi-te



A vida é mesmo assim, feita de escolhas.

A vida vai-nos dando oportunidades, pede-nos para vivermos momentos. E eu escolhi-te a ti para me acompanhares nesses momentos. Escolhi-te sem pensar em nada. A vida é agora. As consequências chegam mais tarde. Sim, porque eu sei que todas as escolhas implicam ganhos e perdas. Só que, até lá, eu vou viver. Vou ser feliz e, para isso, escolhi-te a ti. O meu coração olhou-te e tirou-te todas as medidas. Percebeu de imediato que fomos feitos um para o outro.

Tudo em ti se encaixa no que eu sou. O teu sorriso é a linha perfeita para eu escrever palavras de amor na tua alma. Os teus lábios têm a doçura certa para acalmar o meu desejo. As tuas mãos têm a medida exata para explorarem o meu corpo. Os teus dedos encaixam na perfeição nos meus. O teu desejo sabe de cor a letra da canção, que o meu coração canta de olhos fechados. Aquela melodia que te enfeitiçou, a música que cegou todos os teus sentidos.

Por isso te escolhi.

Quem mais saberia guiar-me pelos caminhos da perdição? Onde é que eu encontraria uma loucura igual à minha? Somente nos teus braços eu poderia ousar viver a maior aventura da minha vida. Só contigo eu me podia atrever a viver este amor. Escolhi-te, porque os loucos procuram loucos. E nós os dois somos a perfeição da loucura.

E a vida não deixa que eu te esqueça.

Vai-me lembrado aqui e ali que tu existe. Vai deixando pequenos sinais no meu caminho. Recordações em que vou tropeçando. Lembranças que me fazem sonhar. A vida lembra-me, todos os dias, que tu és importante. A cada despertar, é a tua lembrança que me beija, deixando-me o sabor da esperança para que eu comece o dia com alegria. São as tuas palavras, as que já me disseste e as que sonho escutar ao ouvido, que fazem com que eu me sinta amada. E é essa a força que me veste para enfrentar mais um dia, por muito que pressinta que nem tudo vai correr bem.

É o teu amor que me serve de ponto de referência.

É a vida a dar-me provas de que tu existe e a tentar roubar o desânimo que, por vezes, me persegue. A mostrar-me o espaço que tu ocupas no meu coração. A dizer-me ao ouvido que só contigo a vida fará sentido. A vida não me deixa desistir deste amor. Obriga-me a abraçar esta paixão, fazendo dela o ar que respiro. E, por mais contratempos por que este amor tenha passado, tu estás sempre lá a cada novo recomeço. É o teu amor que me puxa para a vida. É o teu perfume que sempre fica entranhado no meu corpo e que nenhum sofrimento é capaz de apagar.

São muitos os dias em o sol teima em não brilhar nas nossas vidas.

Só que o destino é teimoso e não deixa que o luar deixe de nos iluminar, para nos mostrar a linha que separa a noite do dia. Como se a vida não pudesse existir sem ti, da mesma forma que não há noite sem estrelas. Porque elas estão sempre lá para serem cúmplices do nosso amor.

A vida exige-me que tu fiques por aqui. Preso aos meus dias. Refém desta paixão que nos uniu pelas teias do sentimento e que nada, nem ninguém poderá anular. A vida plantou-te no meu caminho, fez-te criar raízes no meu jardim e eu não consigo deixar de admirar esta flor.

Já perdi tanto tempo na vida. Já gastei minutos da minha vida com coisas sem sentido. E também já dei sentido a horas que não faziam sentido. Virei as costas a realidades para viver na sombra de utopias que, afinal, me levaram por caminhos sem saída. Quis ler verdades no vento das ilusões, até improvisei segundos de felicidade. Na verdade, nem o chão dos sonhos essas ilusões pisavam.

Fiz-me dona da utopia nas horas em que construía pontes feitas de cordel para passar do sonho para a terra do nada. Usei pedras irregulares para edificar a muralha onde queria guardar a verdade. Fiquei cega com a luz que refletia na minha alma. Parecia uma marioneta nas mãos desta maldita utopia, que me fazia pensar somente naquilo que não existia.

Só que os sonhos não tinham pernas para andar e a realidade não tinha espaço para os meus desejos. A verdade é que a vida te escolheu ainda antes de mim. E, por isso, nada nem ninguém te separará de mim!

Lua Adversa




Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles, em 'Vaga Música'

Fotografia de Victor Caroli
Foto de sonhar a realidade.

HUMMUS VEGAN (PATÊ DE GRÃO)



INGREDIENTES

1 lata Grão de bico cozido, grande
alho seco, 2 dentes de alho
2 colher de sopa Tahini, (pasta de sésamo - vende-se no Celeiro
45 g óleo de sésamo
sumo de limão, 1/2 limão grande
especiarias, sal, pimenta, pimentão doce e salsa q.b.

A Porta do Lado



"Tem um nível de exigência absurdo em relação à vida, que queremos que absolutamente tudo dê certo, e que, às vezes, por aborrecimentos mínimos, somos capazes de passar um dia inteiro de cara amarrada. Um exemplo trivial, que acontece todo dia na vida da gente…

É quando um vizinho estaciona o carro muito encostado ao seu na garagem (ou pode ser na vaga do estacionamento do shopping). Em vez de simplesmente entrar pela outra porta, sair com o carro e tratar da sua vida, você bufa, pragueja, esperneia e estraga o que resta do seu dia.


Eu acho que esta história de dois carros alinhados, impedindo a abertura da porta do motorista, é um bom exemplo do que torna a vida de algumas pessoas melhor, e de outras, pior. Tem gente que tem a vida muito parecida com a de seus amigos, mas não entende por que eles parecem ser tão mais felizes.

Será que nada dá errado pra eles? Dá aos montes. Só que, para eles, entrar pela porta do lado, uma vez ou outra, não faz a menor diferença. O que não falta neste mundo é gente que se acha o último biscoito do pacote.

Que “audácia” contrariá-los!

São aqueles que nunca ouviram falar em saídas de emergência: fincam o pé, compram briga e não deixam barato. Alguém aí falou em complexo de perseguição? Justamente. O mundo versus eles.

Eu entro muito pela outra porta, e às vezes saio por ela também. É incômodo, tem um freio de mão no meio do caminho, mas é um problema solúvel. E como esse, a maioria dos nossos problemões podem ser resolvidos assim, rapidinho.

Basta um telefonema, um e-mail, um pedido de desculpas, um deixar barato. Eu ando deixando de graça… Pra ser sincero, vinte e quatro horas têm sido pouco pra tudo o que eu tenho que fazer, então não vou perder ainda mais tempo ficando mal-humorado.

Se eu procurar, vou encontrar dezenas de situações irritantes e gente idem; pilhas de pessoas que vão atrasar meu dia. Então eu uso a “porta do lado” e vou tratar do que é importante de fato. “Eis a chave do mistério, a fórmula da felicidade, o elixir do bom-humor, a razão por que parece que tão pouca coisa na vida dos outros dá errado”.

Quando os desacertos da vida ameaçarem o seu bom humor, não estrague o seu dia, use a porta do lado e mantenha a sua harmonia.

Lembre-se, o humor é contagiante – para o bem e para o mal – portanto, sorria, e contagie todos ao seu redor com a sua alegria. A “Porta do lado” pode ser uma boa entrada ou uma boa saída… Experimente!"

Deep Purple - Lalena

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Gloria Estefan - Can't Stay Away From You

HOJE NÃO HÁ POESIA Zélia Chamusca

Hoje não há poesia,
Matei a fantasia,
... Morreu a alegria!

Hoje não há poesia,
Não há alegria,
Não há arte,
Não há beleza,
Tão forte é a tristeza
Pela crueldade
Nesta sociedade
De incerteza!...

Hoje não há poesia
Não há alegria
Porque meu coração
Está triste
E minha razão
Vê a pobreza
Pela incerteza
Desta nação!

Hoje não há poesia,
Não há alegria,
Está triste meu coração
E não entende minha razão
Este mundo em regressão
Onde tantos
Ficam sem pão!

O monstro da ambição
Suas garras alargou
E se usurpou
Do pouco
Dos pobres,
O que ficou!

Nesta sociedade
Impera o egoísmo,
A crueldade
Do monstro da ambição,
Ladrão,
Explorador,
Que causa tanta dor
Tornando a maioria
Mais pobre em cada dia,
Num mundo onde não há coração,
Onde não há amor,
Apenas, a exploração
Do monstro da ambição!