quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O LOUCO

NO JARDIM dum manicómio
encontrei um rapaz
de rosto pálido e belo ,
cheio de espanto .

Sentei-me a seu lado
no banco e perguntei-lhe :
— Porque estás aqui ?

Olhou-me assombrado
e disse :
— É uma pergunta indiscreta ,
mas vou responder .

Meu pai queria executar em mim
uma reprodução de si próprio
e o mesmo quis fazer o meu tio .

Minha mãe queria converter-me
na imagem de seu ilustre pai .

Minha irmã fazia
do navegador seu esposo
o exemplo perfeito
que eu devia seguir .

Meu irmão pensava
que eu devia ser como ele ,
um excelente atleta .

Por sua vez os meus professores ,
o doutor em Filosofia ,
o mestre de Música ,
o de Lógica ,
estavam resolvidos ,
cada um deles ,
a que eu fosse apenas
o reflexo do seu rosto no espelho .

Foi assim que vim parar a este lugar .

Acho-o , aliás , mais cordato .

Pelo menos , aqui ,
posso ser eu próprio .

Depois , subitamente ,
voltou-se para mim e perguntou :
— Mas diz-me lá ,
também te trouxeram a este lugar
a educação e o bom conselho ?

— Não , respondi .
Eu sou um visitante .

Então ele disse-me :
— Ah ! Tu és um daqueles
que vivem no manicómio ,
do outro lado do muro .

— Khalil Gibran —

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