quarta-feira, 20 de julho de 2011

Impressionante... A matemática da vida em Fukushima

Há no Japão um grupo de 200 aposentados, em sua maioria engenheiros,
que se oferece para substituir trabalhadores mais jovens num perigoso
trabalho: a manutenção da usina nuclear de Fukushima, que foi
seriamente afetada pelo grande terremoto de três meses atrás. Os
reparos envolvem altos níveis de radioatividade cancerígena.

Em entrevista à BBC, o voluntário Yasuteru Yamada, que tem 72 anos e
negocia com o reticente governo japonês e a companhia, usa uma lógica
tão simples quanto assombrosa:


"Em média, devo viver mais uns 15 anos. Já um câncer vindo da radiação
levaria de 20 a 30 anos para surgir. Logo, nós que somos mais velhos
temos menos risco de desenvolver câncer", afirma Yamada.

É arrepiante. Na contramão do individualismo atual — e lidando de uma
maneira absolutamente realista em relação à vida e à morte —,
sexagenários e septuagenários querem dar uma última contribuição: serem
úteis em seus últimos anos e permitirem que alguns jovens possam chegar
às idades deles com saúde e disposição semelhantes.

O que mais impressiona em toda a história é a matemática da vida. A
morte não é para eles um problema a ser solucionado — ou talvez
corrigido, pela hipótese mística da vida eterna que a medicina e a
biologia tentam encampar e da qual as revistas de boa saúde tentam nos
convencer; a morte é, de fato, a constante da equação.

Nada que o mundo ocidental não conheça. O filósofo alemão Georg
Friedrich Hegel (1770-1831) certa vez definiu "mestre" como alguém
desapegado da vida a ponto de enfrentar a morte, enquanto "servo"
seria um escravo do desejo de continuar vivo — e que obedeceria mais
às regras que lhe garantissem a sobrevida. Em consequência, o servo
anula sua vontade de transformar o mundo e a si mesmo.

Criados numa sociedade de consumo, corremos o risco de levar essa
escravidão às últimas, defendendo a boa saúde e os confortos com muito
mais afinco do que aquilo que podemos fazer por nós e pelos outros
enquanto ainda gozamos dela.

Os senhores do Japão ensinam que a morte é a hora em que podemos
continuar a existir na memória das pessoas — uma oportunidade que,
para mim, eles não perdem mais.

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