sexta-feira, 4 de abril de 2014

Agostinho da Silva

                  
Não fez escola no futebol, não foi modelo nem stripper famoso, não se especializou em roubar milhões e sair limpinho, limpinho de cena, não manipulou o povo saindo em seguida para a Europa dos ricos. Até no Curso Superior foi obrigado a fazer as cadeiras todas. Não houve baldas para ninguém. Então para quê falar dele? Pois não sei. Apeteceu-me falar de alguém tipo homem vertical, tipo patriarca das ideias limpas, tipo português de antes quebrar que torcer. E “ecce homo”.

Chamou-se Agostinho da Silva, nasceu no Porto em 1906. Acabou o ciclo de vida terrena em 1994, em 4 de Abril. Se quiséssemos dar-lhe um nome fidedigno, chamar-lhe-íamos “ espírito livre e inquieto “. Em 1935, é demitido do Ensino público, por se ter recusado a assinar um atestado de compromisso ideológico. Em 1943, é detido à conta de uma palestra proibida. Até aqui, nada de muito diferente do que acontecia àqueles que não seguiam o figurino imposto pelo Estado Novo. Diferentes, arrojados eram os conceitos filosóficos que traziam um vento novo ao pensamento vigente.

Para Agostinho da Silva, a procura da verdade é um caminho contínuo de marcha. Não importa o resultado final, interessa é o método para lá chegar. Incómodo e trabalhoso este caminho, não? O amor é o fim último, a nossa salvação, o nosso dever. Mas este, é um amor complexo. É ele que morre pelos vagabundos, pelos humildes, porque só assim , com o mundo a fazer o que sonham os poetas, a humanidade conseguirá viver em paz e harmonia.

Este espírito inquieto e livre não se compromete com partidos, com igrejas, com escolas. Para ele, quando o amor dos homens for o único culto digno dos adoradores de Deus, acabará a organização social injusta e opressora. Então e só então, surgirá um reino terrestre onde o pensamento de Deus será seguido. Nesse reino aberto a todos, não haverá raças, nações, classes ou castas. Portanto, não haverá lugar para a luta pelos bens materiais, nem preocupação por condições de sobrevivência. Será tudo para todos. E o céu será aqui, na terra.



Claro que um espírito destes, revolucionário ao limite, não interessa a ninguém lembrar e muito menos celebrar. Que passos (in)seguros teriam todos os coelhos desta terra que dar para fugir deste espírito? Que portas teriam que abrir para se refugiarem nalguma toca estrangeira sem dar cavaco a ninguém?

Sem comentários: