terça-feira, 29 de maio de 2018




A Paixão - Escritos e Demências por João Dórdio
24/5 às 8:07 ·
Eram mesas com pratos e talheres diferentes. Éramos a própria comida.
- Estamos a brindar ao quê?
- Isso importa? Abraça-me e beija-me novamente.
- Estes teus brindes são giros. E molhados...
E tínhamos todos os mais puros sentimentos e todas as sensações do mundo à sobremesa. Coloquei-nos numa mesa de uma cozinha de uma casa da minha própria casa de mente do meu próprio bairro de mente... desde o dia em que te conheci.
Mas esta noite sentei-me na cadeira de uma mesa sem pratos nem talheres. Só lá estava o copo e a garrafa de vinho. A casa vazia num bairro deserto.
Foram por aí dizer-vos que tinha desaparecido e entrado pela demência. Hoje todas as janelas do meu banco de jardim abrem-se para deixar entrar alvoradas, primaveras, galos andorinhas, muito sol, beijos, suspiros, gritos e gemidos. Coloquei uma toalha em cima da minha mesa de sonhos em forma de pesadelo ou de insónia onde ainda te conheço a primeira vez. Foram por aí dizer que nada valia já a pena.
- Porque beijas a garrafa?
- Ela está lá dentro...
- Ela? O vinho...
Cada garrafa tornou-se uma estrada e um novo caminho de mim. Para ti outra vez. Noutra vida. A mesma história.



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