sábado, 28 de dezembro de 2019

Influência lunar



A frescura verdejante vai cobrindo a paisagem...o manto verde, a copa das árvores, desabrocha numa paleta de cores e aromas perfumados.

A euforia da passarada, o zumbido dos insetos deixam adivinhar a chegada da Primavera.
Repete-se o ciclo reprodutivo da renovação.A terra anuncia-se fértil, é tempo de lhe lançar sementes.


As carateristicas do terreno, posição geográfica, chuvas intensas, temperaturas demasiado altas ou baixas para a época, são alguns fatores que condicionam o maior ou menor sucesso das culturas.


A sabedoria popular, o meu amigo Reis, acrescenta-lhe outra variante - influencia lunar -




Homem já de muitas culturas, há muito se rendeu ao encantamento da terra. Entre a vinha, o olival e os hortos, do tempo que lhe sobra, pouco lhe resta.

Aproximando-se com ar sério, reservado, delineando traços de postura militar, registos de outrora, que o passar dos anos quis preservar...fitando-me por instantes, lá vai dizendo, em jeito de advertência :


- Andei a espreitar o Terramanhada...tens de dizer que na Lua Nova não se semeia nada !

Lua Nova

-Pois é Reis...eu não costumo ligar muito a essas questões da Lua...semeio, planto, quando tenho tempo disponível e oportunidade. Mesmo assim, as colheitas não vão sendo más.
Mas tens razão ! A Lua tem a sua influencia, lá do alto do seu podium, é ela que vai orquestrando a sinfonia da vida !
Então, mas diz-me porque é que na lua nova não se deve semear nada ?


- Ganha tudo muita rama e não produz nada ! Os frutos são poucos e não se desenvolvem como deve ser.


- Bem...! Então, já agora se não te importas, dás-me mais umas dicas sobre a lua, p'ra pôr no Terramanhada !


Lua Cheia

- Podes ir ver ao Almanaque, está lá tudo.
- Eu sei...! Mas diz -me tu que eu vou tomar nota.

- As batatas...nunca ouviste dizer, « semeadas na lua cheia, cova cheia » ?
Mas também se podem semear no minguante.

- Então, e no quarto crescente ?

- Oh pá...! Plantam-se tomateiros, pimentões, semeia-se feijão, favas, ervilhas, abóboras, melancias, melões, pepinos, milho...até a fruta sabe melhor, mais suculenta, é também a melhor altura para enxertar.


Quarto Crescente

- E no minguante ?


Quarto minguante

- No quarto minguante, semeia-se batatas, planta-se o cebolo, couves de horto ou galegas, como lhe chamam também...alfaces...tudo o que pode vir a espigar !
A poda da vinha também se deve fazer no minguante, as videiras perdem menos seiva...e se forem podadas à tarde, vão cicatrizando durante a noite.

- Oh, Reis ! E a madeira, para madeiramento, corta-se no minguante ou no crescente !?

- A madeira...ouve-se dizer "os antigos", para o madeiramento das casas, era cortada no minguante de Janeiro. Escolhiam as árvores de casca mais fina, menos rugosa, indicando um crescimento mais lento, com madeira mais enxuta, mais resistente á deteoração e ao bicho.
O soalho da casa da minha avó, tem quase 200 anos, e não se vê uma tábua podre !
E sabes...? O choupo, é uma madeira muito boa para madeiramentos...é leve...e eterna , se for aplicada ao enxuto.

A muda do vinho, para passar a limpo, tambem deve ser feita no minguante, de Janeiro a Março...até as galinhas se devem por a chocar no minguante.


- Então, mas em que altura começa o minguante, é logo a seguir á lua cheia !?

- Sim, a seguir á lua cheia, vêm o minguante, mas deve-se considerar só passados quatro ou cinco dias, quando ela começa a diminuir a influência na Terra…no crescente, basta passar dois ou três dias da lua nova. Cada fase têm sete dias.
Depois, tens de escrever, lá , fui eu que te disse...!

- Está bem...- sorrindo -...eu escrevo !


A convicção do meu amigo Reis em cada "quarto" que cresce ou mingua, nos seus sete dias, acordou em mim a necessidade de ir ao encontro desta cumplicidade lunar...quis saber, de que modo essa influência se delineava.
Sabia que a sua atração, já desenhava as marés ou, quando em todo o seu esplendor obrigava as mulheres a dar á luz. Mas, e as plantas ?! Como influenciava o seu desenvolvimento ?


Depois de alguma pesquisa, fiquei a atender, a relação entre a Terra, Sol e Lua...diferentes massas, que se atraem simultaneamente, umas às outras, fazendo variar essa intensidade, podendo concluir que a Lua na suas continuas viagens á volta da Terra, vai variando a sua influencia, assim como a superficie iluminada visivel se vai modificando, consoante a sua posição, e se encontre, a maior ou menor distancia do Sol.
Nesta viagem de trinta dias, ela terá sempre uma face iluminada pelo astro rei, no entanto, da terra, o que observamos depende do seu posicionamento. Podemos observa-la por completo, quando está posicionada à frente do sol, do outro lado da terra, será lua cheia.
Depois desta posição, consoante se vai movendo, e aproximando-se do sol, o angulo de visão vai-se modificando, e a superficie iluminada vai começando a ser observada de lado, diminuindo cada vez mais a area visível, sendo em determinado dia e momento, um quarto da sua superficie total, assinalando neste caso, o quarto minguante, continuando, até á invisibilidade total, que será a lua nova.


A lua nova acontece, quando ela se encontra o mais próximo possivel do sol, com a face iluminada, num frente a frente com o mesmo, de costas para a terra, deixando a noite mais escura.
Entretanto nas próximas noites, começa a afastar-se, e vamos observá-la a crescer, a redesenhar-se no céu, brevemente atingirá o quarto crescente, depois em todo o seu esplendor, lá bem longe, do outro lado da terra, a lua cheia.


Podemos imagina-la como um espelho virado para o sol, que se vai movendo e consoante a sua posição na trajetória á volta da terra, assim vai refletindo a luz do mesmo, ora aumentando, ora diminuindo.


Da lua cheia á lua nova, vai estar cada vez mais perto do sol, e gradualmente menos visivel, será o percurso do minguante, do quarto minguante, para cultivar considera-se 4…5 dias, depois da lua cheia, até aos 2…3 dias, depois do quarto minguante.
Nesta fase, aproximando-se do sol, o poder da sua massa muito superior, vai-lhe reduzindo a capacidade de influencia na terra.
Na lua nova, quando está mais próxima dele, e completamente escura. ela é deminuta, quase inesistente.

Depois da lua nova, inicia o percurso crescente, do quarto crescente, afastando-se lentamente, começando a redesenhar-se no céu, retomando gradualmente o seu poder, com expoente máximo na lua cheia.
Nesta posição, encontra-se frente a frente com o sol, mas á maior distancia do mesmo, de um e outro lado da terra, ficando esta no centro, sofre a maior influencia de ambos.
É nos fluídos que o seu poder é exercido de forma visível,estimulando, ativando a sua circulação, colocando a vida ao rubro... despertando, ateando desejos... acelerando os partos, incitando ao desabrochar de novas vidas, fluindo a seiva, para a parte superior das plantas. Penso também, que a somar a esta estimulação, a vida vegetal será enaltecida pelo crepúsculo do luar. Esta exposição à luminosidade, também durante a noite, possibilitará maior atividade de fotossíntese, beneficiando o desenvolvimento das plantas.


Faz sentido plantar no minguante, aquando o sistema vegetativo se encontra usufruindo momentos de tranquilidade, com a seiva circulando sem pressa, com maior afluência na parte inferior da planta, contribuindo com maior disponibilidade, para o desenvolvimento das raízes, ou semear canteiros, alfobres, de couve, alface, cebolo…tudo o que sejam plantas de folhagem, ou suscetiveis de vir a espigar, pois se forem cultivadas sob o dominio do crescente, a estimulação vegetativa, pode levar a isso mesmo, incentivá-las a um excessivo desenvolvimento e a espigar de forma prematura.
Quanto à poda, aliado ao facto de ser feita do inicio do outono ao final do inverno, aquando as arvores se encontram em repouso vegetativo, com menos seiva a circular, a ser no minguante, quando circula de forma ainda menos ativa, menor será a perda pelo corte executado.

No que respeita, à germinação de sementes, plantio da batata, cujo sucesso depende do desenvolvimento do grelo, o Crescente parece-me ser quem mais favorece.

Entretanto, apreendi nesta cumplicidade lunar, a sua importância como parte do todo...considerando-a, sempre que possível !

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