sábado, 22 de outubro de 2022

OPÇÕES , CONSEQUÊNCIAS E RESPONSÁVEIS


Pedro Girão

Covid, hoje: 46 mortes na última semana - mas ninguém fala disso, porque agora não interessa, porque agora já não nos podemos dar ao luxo de ter medo, porque agora já não nos podemos dar ao luxo de pagar as consequências desse medo. Com estes mesmos números, no ano passado e há dois anos havia medidas duras, restrições absurdas, almirantes heróicos, campanhas de vacinação de crianças (que vergonha!), confinamentos, certificados digitais. Hoje… há uma realidade tranquila, como sempre deveria ter sido. Durante tanto tempo, foram ignoradas e silenciadas as vozes de quem relativizava o número de mortes, de quem duvidava da ciência instantânea, de quem alertava para a economia (porque a economia são as pessoas). Negacionismo, diziam eles.
Hoje, perante a manutenção do Covid, perante o agravamento da pobreza (saíram esta semana os números da Pordata), perante a ameaça da fome, perante o enorme aumento das mortes por outras causas, as pessoas podem dizer muitas coisas. (Mas estão curiosamente caladas.) Podem dizer muitas coisas, sim; o que não podem é negar que houve opções e há consequências. O que não podem é fazer de conta que não são responsáveis por essas consequências. Os responsáveis pelo estado actual das coisas são as autoridades e a maioria dos portugueses, os responsáveis são muitos dos que me lêem. O silêncio e o colaboracionismo (e o medo) são muito cómodos, mas matam. Alguém se importa agora com isso?
É a guerra, dizem alguns. Não, a primeira causa para o actual estado das coisas foi a gestão do Covid. E, com a absoluta falta de noção de que a gestão do Covid já tinha colocado a economia de joelhos, tomou-se partido num conflito regional que nada nos dizia. A decisão súbita da Europa de apoiar um país de quem no ano anterior todos diziam ser um ninho de terroristas e de nazis, a decisão de encarar como injustificada uma invasão que era de facto a escalada lógica de uma guerra regional que já durava há oito anos, essa decisão foi política. Política, errada e, mais uma vez, mediatizada até à náusea, de tal forma que se tornou impossível dizer o óbvio, fazer juízos críticos, relativizar, apelar ao bom senso. Um novo Covid, portanto, com opções, consequências e, para todos, uma quota-parte das responsabilidades. As pessoas não se podem agora queixar do caminho que escolheram ou com o qual transigiram.
O Inverno está a chegar, como se diz tanto ultimamente... Não tenho qualquer dúvida que a Primavera se seguirá - mas isso poucos dizem. Mas ela virá: as doenças são cíclicas, as guerras são cíclicas, o clima é cíclico, a vida é cíclica. Se ao menos houvesse a sabedoria para aceitar tudo isso, em vez da cegueira de o querer contrariar!…


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