segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Finalmente . . . um pai de carne !



Um dia , por volta de 1961 , teria eu seis anos , estávamos todos ( a minha avó , mãe do meu pai , a minha mãe , a minha irmã , e . . . eu ) no alpendre da nossa casa , a merendar uma malga de café com sopas de pão , ou boroa (não me recordo bem ! ) , eis que se abre o portão , e entra aquele homem , com uma mala em cada mão ; e aproximando-se de nós , disse : todos a comer , e . . . todos tão magrinhos ! ! ! ( recordo-me , como se fosse hoje . . . ) Não quero mentir , mas não me recordo , de ter havido um beijo , sequer !
Foram cinco semanas , que aquele homem viveu na nossa casa ! Durante esse tempo , recordo-me , que a nossa alimentação melhorou bastante , pois o meu pai , de vez em quando , ia ao talho comprar carne ( coisa rara , para nós , nesse tempo ! ) ; quando se "estrelavam" uns ovos , o meu pai fazia questão , que fossem dois para cada um ( coisa rara , antes ! ) .
Durante essas cinco semanas , só uma vez lhe chamei . . . "pai" , e , por azar , ele não ouviu ! Foi um dia em que ele acabara de sair de bicicleta , e eu pedi à minha mãe para ir com ele ; corri , corri atrás dele , para ver se o alcançava , para ele me dar uma boleia , no suporte da bicicleta , mas como não o consegui alcançar , chamei uma ou duas vezes : pai ! . . . pai ! Mas como ele não me ouviu , eu voltei para casa , muito triste , até porque tinha finalmente arranjado coragem , para lhe chamar "pai" , e . . . ele não me ouvira !
Quando eu me queria referir ao meu pai , dizia sempre : "ele" fez isto . . . "ele" fez aquilo ! "Ele" disse assim . . . ou assado ! Nunca por nunca , lhe chamei "pai" ! Não consigo entender porquê , mas foi assim que aconteceu !
Sei que , quando o meu pai regressou ao Canadá , foi bastante triste e desgostoso comigo , por isso mesmo , pelo facto de eu nunca lhe ter chamado . . . "pai" !
Ele mencionou o facto , várias vezes , nas cartas que ia enviando para a minha mãe !

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