quarta-feira, 12 de julho de 2017

Alimentação saudável : comer sem pesticidas !


JOÃO MIGUEL DE FREITAS - MÉDICO

14 ABR 2017 / 02:00 H.

Estou a escrever-vos este artigo com um autêntico “nó” na garganta. Ainda que, tal como a maioria das pessoas, tenha contactado com informação relativa à produção massificada de alimentos, quer de origem animal, quer vegetal, neste passado fim de semana, pude realizar um módulo de formação subordinado à contaminação dos nossos alimentos, que me deixou ainda mais preocupado.

Quais são os alimentos que apresentam os maiores índices de pesticidas? O que fazer para consumir mantimentos com confiança e tranquilidade?

De uma forma comum, somos “bombardeados” com a importância do consumo de alface, tomate, pepino, maçã, peixe, frango... alimentos de que, de uma forma geral, gostamos. Mas o pior é que são esses os alimentos que, geralmente, contêm as doses residuais mais elevadas de pesticidas, como DDT, capazes de agir sobre o nosso sistema endócrino e imune, ou seja, substâncias que podem alterar o nosso normal funcionamento.

Este cocktail químico influencia-nos através de uma redução da fertilidade, de um aumento de alguns tipos de tumores, do aparecimento de diabetes mellitus e da obesidade. Estes componentes, infelizmente, estão também presentes em outros produtos que utilizamos diariamente, tais como: fármacos, cosméticos, embalagens, recipientes de plástico e até revestimentos de latas.

A questão não é, de todo, simples! Por um lado, necessitamos de alimentos para uma população em crescendo, mas, por outro lado, é fundamental garantir que os mesmos alimentos são submetidos a controlos mais ou menos severos para garantir a saúde do consumidor. Ainda não se conhece bem os efeitos no nosso organismo de todas estas substâncias utilizadas para evitar o ataque de pragas e insetos e para melhorar a aparência e a durabilidade do que consumimos. Sabemos, sim, que os alimentos em que foram encontrados mais resíduos de pesticidas são: alface, tomate, pepinos, maçãs, pêssegos, pimentos, morangos, peixe criado em viveiros e animais submetidos a alimentação à base de ração (contendo restos animais, hormonas de crescimento e antibióticos). Os menos contaminados são: banana, cenoura, ervilhas, legumes e hortaliças protegidos por uma casca mais grossa, peixe capturado “selvagem” e animais criados sem suplementação alimentar.

No dia-a-dia, e como consequência da crise económica que estamos a atravessar, sabemos que uma parte significativa da população consome de forma insuficiente frutas, verduras e legumes. Se a este aspeto associarmos alguns componentes tóxicos, esta situação sofre um claro agravamento que se vai refletir num aumento do número de casos de tumores, malformações congénitas, patologias endócrinas, neurológicas e mentais.

O ideal para a saúde pública seria evitar ou reduzir ao máximo o consumo dos pesticidas nos cultivos e na alimentação em geral, mas é preciso ser realista: compete a cada um de nós a missão de eliminar parte do risco. Alguns aspetos fundamentais passam por lavar os produtos antes do seu consumo, por exemplo, no caso dos morangos e tomate, como o tóxico utilizado é de superfície, temos de lavar bem a parte externa do alimento com água para eliminar o risco. Para outros alimentos em que o produto penetra e afeta o seu interior, o aquecimento pode inativar os efeitos adversos dos pesticidas, excetuando o zinco e o estanho, já que, nestes casos, o aquecimento não elimina o perigo.

Deixo 6 sugestões amigas para a sua mesa:

1. Comprar, sempre que possível, alimentos frescos provenientes da agricultura orgânica onde não são utilizados pesticidas ou fertilizantes químicos. Por exemplo, procurar conhecer os produtores que não utilizam estes componentes;

2. Lavar cuidadosamente as frutas e verduras com água e bicarbonato de sódio: não serve para remover completamente todos os pesticidas, porém ajuda na remoção de grande parte;

3. Tirar a casca aos alimentos antes de consumi-los – os pesticidas têm maior concentração na porção externa;

4. Comprar, de preferência, peixe “selvagem”;

5. Aderir, com outras pessoas, a grupos de compra de produtos biológicos, tais como: frango, carne de vaca, porco, ovos, frutas e legumes. A associação estimulará o aparecimento de mais produtores deste modelo de produção;

6. Sempre que possível, cultive alguma coisa, mantenha pequenas hortas no jardim, no quintal ou em zonas urbanas. Os resultados serão modestos, mas o tempo dedicado ao cultivo, para além de poder ser um ponto zero em tecnologias, feito apenas de convívio familiar, poderá possibilitar-lhe a produção de hortaliças e legumes com nenhum traço de pesticida, em condições controladas por si.

Proteja a sua saúde, não a envenene!

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