quinta-feira, 11 de novembro de 2021


Há 134 anos, em 11 de novembro de 1887, uma sexta-feira, os militantes anarquistas August Spies, Albert Parsons, Adolph Fischer e George Engel eram executados por enforcamento, após terem sido condenados à morte pela justiça dos Estados Unidos pela participação na Revolta de Haymarket — marco do movimento operário internacional que daria origem ao Dia do Trabalhador (celebrado em 1º de maio). Um quinto condenado, Louis Lingg, cometeu suicídio na prisão dois dias antes do cumprimento da sentença. A data de execução dos militantes anarquistas ganhou o nome de "Sexta-Feira Negra" (ou "Black Friday") e tornou-se um marco da arbitrariedade das instituições burguesas e da opressão sobre a classe trabalhadora.

Encampando as bandeiras defendidas pela Associação Internacional dos Trabalhadores — organização internacional fundada por Karl Marx e Friedrich Engels para promover a concertação das correntes de esquerda e dos movimentos operários —, as agremiações trabalhistas dos Estados Unidos aprovaram a realização de uma grande greve geral para o dia 1º de maio de 1886. A principal exigência era a adoção da jornada diária de oito horas, sem redução dos salários. Mais de 340 mil trabalhadores de diversas categorias nas principais cidades dos Estados Unidos aderiram à greve, paralisando a produção das fábricas em todo o país. A maior mobilização ocorreu em Chicago, então a segunda maior cidade dos Estados Unidos, onde mais de 80 mil pessoas aderiram às greves e às manifestações de rua.
O patronato de Chicago reagiu enfurecido à mobilização operária de 1º de maio. Porta-voz oficioso do empresariado, o jornal Chicago Times publicava, alguns dias antes da greve, que "a prisão e o trabalho forçado são as únicas soluções para a questão social" e que "o melhor alimento para os grevistas será o chumbo". Nos demais periódicos, o tom era o mesmo: textos exigindo das autoridades e forças policiais "enérgica repressão" aos grevistas. Os operários, entretanto, não se intimidaram, mantendo as greves e as manifestações de rua. No terceiro dia de protestos, a polícia de Chicago cedeu às exigências do patronato e passou a reprimir os trabalhadores. Quando um grupo de grevistas da fábrica McCormick tentou bloquear o acesso de indivíduos contratados pela empresa para furar a greve, policiais armados com rifles e detetives particulares da Agência Pinkerton atiraram contra os manifestantes, matando três trabalhadores.
A repressão policial inflamou os ânimos da classe operária. No dia 4 de maio, uma enorme multidão de trabalhadores compareceu para um protesto na Praça Haymarket. Tentando impedir a realização do ato, a polícia voltou a atacar os manifestantes, mas se deparou com uma vigorosa reação popular — que receberia o nome de Revolta de Haymarket. Os trabalhadores não recuaram, enfrentando os policias com paus e pedras. Em meio ao tumulto, uma bomba caseira explodiu, matando um policial. Iniciou-se uma batalha campal. Sete policiais foram mortos no tumulto e outros 60 ficaram feridos. Em represália, a polícia abriu fogo contra os manifestantes, matando outros quatro trabalhadores e ferindo dezenas.
Após o conflito de 4 de maio na Praça Haymarket, decretou-se estado de sítio e iniciou-se uma dura repressão anti-sindical. Os sindicatos foram fechados e vários grevistas foram detidos. Organizações anarquistas e socialistas sofreram represálias e as redações de jornais operários foram atacadas e saqueadas. A imprensa estadunidense culpou as lideranças sindicais pelo atentado a bomba, em especial os nomes ligados à redação do jornal "Arbeiter-Zeitung". Nos processos que se seguiram, oito sindicalistas anarquistas foram acusados de conspiração, sob a alegação de que teriam fabricado a bomba lançada contra os policiais. Cinco foram condenados à morte por enforcamento — August Spies, Albert Parsons, Adolph Fischer, George Engel e Louis Lingg — mesmo não existindo qualquer prova contra eles. Nenhum dos jurados pertencia à classe operária.
Durante o julgamento, os réus alegaram inocência e defenderam suas ações políticas. "Anarquismo não significa derramamento de sangue, não significa roubo, incêndio criminoso, nada disso. Essas monstruosidades são, ao contrário, traços característicos do capitalismo. Anarquismo, ou Socialismo, significa a reorganização da sociedade sobre princípios científicos e a abolição das causas que produzem o vício e o crime", afirmou Spies, complementando resignado: "Haverá um dia em que nosso silêncio será mais poderoso do que as vozes que vocês estrangularão hoje". Fischer, por sua vez, alertou: "Se a classe dominante pensa que nos enforcando, enforcando alguns anarquistas, eles podem acabar com o anarquismo, estão muito enganados, pois o anarquista ama seus princípios mais do que sua própria vida".
Lingg cometeu suicídio na prisão. Os outros quatro foram enforcados no dia 11 de novembro de 1887, na data que ficou conhecida como "Sexta-Feira Negra". Outros dois réus foram condenados à prisão perpétua e um terceiro a 15 anos de prisão. O funeral dos quatro operários executados pela justiça de Chicago causou grande comoção entre os trabalhadores estadunidenses e foi acompanhado por um público de mais de 200 mil pessoas.
Em 1893, os réus sobreviventes tiveram seus julgamentos anulados e foram libertados com o auxílio do governador de Illinois, John Peter Altgeld, que alegou ter sido o chefe da polícia de Chicago o responsável por organizar o atentado a bomba, de modo a obter uma justificativa para reprimir os grevistas. Em homenagem aos cinco mártires da Revolta de Haymarket, a Segunda Internacional aprovou em 1891, durante o Congresso de Bruxelas, a criação do Dia do Trabalhador, celebrado no dia 1º de maio, como uma data de afirmação da luta de classes e de reivindicação das demandas da classe operária em todo o mundo.





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